29.11.04

Deus!

Após tantos anos, não restam mais dúvidas: o rock costuma arregimentar pessoas realmente miseráveis. Tanto que suicídios, vício em drogas, alcoolismo e comportamentos violentos são extremamente comuns no meio. E, onde há esse tipo de sentimento, hora mais, hora menos, os sujeitos acabam tentando buscar algo mais "transcendental". E não há nada que represente melhor essa busca do que a religião.
Por isso, apesar de todo o senso comum apontar o caráter demoníaco do rock, este estilo acabou sendo responsável por algumas das mais profundas canções "religiosas" já compostas, superando, em muito, aquelas cantadas em bancos de Igrejas por padres desafinados, tias-avós e coroinhas.
O caso mais notório talvez seja o de Bob Dylan que, na virada dos anos 70 para os anos 80, lançou uma seqüência de álbuns realmente religiosos. Apesar da Bíblia ter servido, anteriormente, como inspiração para Dylan, as canções desta época trataram o tema de forma bem mais explícita, fato que afastou muitos fãs do cantor e o aproximou da comunidade religiosa. Mesmo com este fanatismo, Dylan acertou a mão em algumas canções, com destaque para "Every Grain of Sand", cuja inspiração no Evangelho o ajudou a criar versos como: "I gaze into the doorway of temptation's angry flame/And every time I pass that way I always hear my name/Then onward in my journey I come to understand/That every hair is numbered like every grain of sand.

And from your lips she drew the Hallelujah

O canadense Leonard Cohen também deu sua contribuição ao compor "Hallelujah", misturando cultura judaica, busca pela fé e boas doses de amor mundano. Tempos depois a canção foi regravada por Jeff Buckley, que, inspirado em uma versão de John Cale, trocou a sonoridade oitentista do original, carregado de teclados, por sua guitarra minimalista e sua voz passional. O resultado foi tão bom que Buckley deve ter garantido seu terreninho nos céus.
Mas o caso curioso mais curioso talvez seja o de Lou Reed, que, no terceiro álbum do Velvet Underground, gravou uma canção chamada... "Jesus"! Nessa belíssima balada, o compositor limita-se a pedir ajuda a Jesus para encontrar seu lugar no mundo. Assim, em meio à canções que falavam de travestis, das ruas de Nova York, de drogas pesadas e de violência, o compositor consegue encaixar, com perfeição, uma cançãozinha acústica cujo coro se limita a um "Jeeeesuss, Jeeeesuss..." quase choroso.
O que pode demonstrar que, no fundo, as drogas, a auto-destruição, a música ou um Deus são apenas caminhos para encontrar algum tipo de paz. Mas isto já é filosofia demais para um post só.

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