13.12.04

Lista de fim de ano! (atualizada: agora virou top 10!)

Não tem graça nenhuma escrever sobre música se não pudermos criar uma tradicional lista de fim de ano, onde falamos um monte de baboseiras para dizer que certos discos são legais. Ainda mais quando isso é mais fácil do que pensar em uma coluna bem elaborada...
Então, cá está o meu Top 10 (sim, consegui arrumar um número 10)!

1 – A Ghost is Born (Wilco): apesar de ainda trazer os ganchos pop que sempre caracterizaram as canções do líder da banda, Jeff Tweet, esse álbum, lançado após o aclamado “Yankee Hotel Foxtrot”, é um tanto quanto “difícil”. Criado após Jeff ter saído de um processo de reabilitação em virtude de seu vício em antidepressivos, o disco soa, em determinados momentos, como uma mistura dos enormes solos de Neil Young em “Everybody Knows this Is Nowhere” com as experimentações sonoras de um Sonic Youth. Até mesmo as letras das canções mais pop têm alguma densidade, sendo que algumas beiram o desespero puro e simples, como a faixa de abertura “At Least It´s What She Said” (“When I sat down on the bed next to you/You started to cry/I said, maybe if I leave, you'll want me/To come back home”). Um disco complexo, que vale a pena ser ouvido com atenção.

2 - Uh Huh Her (PJ Harvey): após o bem produzido “Stories From the City, Stories From the Sea”, de 2001, a deusa PJ Harvey retorna com um disco sujo, esquisito e pesado. Por cima de riffs blueseiros e guitarras saturadas PJ Harvey, despeja letras perfeitas que trazem imagens de navalhas, culpa, desespero e um puro e simples “foda-se”. Outro disco difícil de digerir, mas que possui uma qualidade evidente.

3 - Universal Audio (The Delgados): abandonando as orquestrações do disco anterior, “Hate”, os escoceses dos Delgados lançaram o álbum mais pop de sua carreira. As canções do disco mostram que o grupo sabe perfeitamente como criar boas melodias e riffs que desembocam em refrões fantásticos, como em “Everybody Come Down”. Mas, como bons escoceses que são, não abandonam canções melancólicas, como a belíssima “The City Consumes Us”.

4 - Smile (Brian Wilson): após 37 anos de abortar o projeto por causa de um surto psicótico, o ex-líder dos Beach Boys concluiu um dos mais lendários discos de todos os tempos. Unindo-se ao letrista Van Dyke Parks, responsável pelas letras surreais do disco, e a uma banda de músicos profissionais, o músico conseguiu um resultado perfeito. O disco, apesar de parecer inteiramente conectado, possui canções com texturas diversas e baseadas em uma grande diversidade de instrumentos, harmonias e melodias. Trata-se, inegavelmente, do trabalho de um gênio, como é fácil notar após a audição da lisérgica versão de “Good Vibrations” ou da fenomenal “Heroes and Villains”.

5 - Franz Ferdinand (Franz Ferdinand): um álbum dançante recheado de teclados oitentistas, guitarras modernas e letras espertas. Apesar da postura fashion e de todo o hype lembrarem outros contemporâneos, como os Strokes, o grupo tem uma identidade própria, e é tão bom quanto seus colegas. Não vai mudar a história do rock, mas é legal pra diabo.

6 - You're the Quarry (Morrissey): após alguns anos sem gravar, o ex-líder dos Smiths retorna com um disco impecável. Ao invés da tradicional melancolia, aqui impera a ironia, com Morrissey apontando sua metralhadora para os Estados Unidos, a Inglaterra ou os chatos do mundo. E também estão presentes as já tradicionais construções geniais que somente Morrissey consegue criar, como “my life is an endless succession of people saying goodbye”.

7 – Final Straw (Snow Patrol): deixando para trás o estilo demasiadamente indie que marcou os discos anteriores, os escoceses do Snow Patrol fizeram um dos álbuns mais pops do ano, cheio de refrões grudentos, belas melodias, letras bonitinhas e guitarras com a quantidade exata de distorção. Somente com muito talento é que uma banda conseguiria criar canções fantásticas com temas já batidos, como timidez, amor adolescente e brigas conjugais.

8 - Hot Fuss (Killers): outra banda que buscou sua inspiração nos anos 80, dando uma nova roupagem ao som calcado em sintetizadores e guitarras, criado pelo New Order, com canções que falam de androginia (“Somebody Told Me”), assassinatos passionais (“Jenny Was a Friend of Mine”) ou relacionamentos conturbados (“Mr. Brightside”).

9 - Dresden Dolls (The Dresden Dolls): um casal que faz uma música baseada em piano, voz e bateria, inspirando-se em Bertold Bretch e em cabarés da Alemanha da era do jazz só poderia ser um saco. Certo? Não! Com cançoes que lembram o glittler rock de T.Rex, Roxy Music e a fase Alladin Sane de David Bowie, e com letras ambíguas cantadas pela vocalista Amanda Palmer com um charmoso sotaque alemão, essa dupla lançou um dos discos mais legais do ano.

10 - You're a Woman, I'm a Machine (Death From Above 1979): uma dupla canadense que usa somente um baixo ultra distorcido e uma bateria insana para criar um turbilhão sonoro que faz jus ao nome. Perto desse duo, o White Stripes parece Sandy & Júnior...

3.12.04

"Whaaat would you do..."



Enfim, de novo! A TV Cultura volta a passar, desde o início, a série mais fantástica de todos os tempos. O que intriga é o porquê dela causar tanta aceitação do público (não falo só por mim), mesmo tendo sido produzida há mais de dez anos e ter o enredo passado no fim dos anos 60 e por todo os anos 70.

Não dá para negar a identificação da maioria das pessoas que assistem com o personagem principal, Kevin Arnold. É o típico adolescente "loser": zoado pelo irmão mais velho, dominador na relação com os amigos e fracassado nas tentativas amorosas. Um pobre coitado que pensa 15 vezes antes de fazer uma besteira.

Na verdade, o narrador (ele mais velho) se comporta como uma consciência arrependida, um olhar crítico severo sobre as reações impulsivas e fracassadas que o "loser" tinha quando moleque. E tudo num tom de "Caralho, como eu era idiota" durante os episódios e "Putz! Q saudade que eu tenho daquilo", nos finais filosóficos (aliás, sempre ensinadores).

O incrível é que a série é um retrato absurdamente real dos terríveis conflitos internos vividos naquela fase da vida, sendo indiferente a época, país ou condição social do personagem . Ao mesmo tempo em que ressalta a beleza e a alienação sincera de um moleque que só queria se dar bem, seja com a Winnie Cooper, no 21 contra o Paul ou nas zoações do Wayne, no meio de um mundo em que rolava o movimento hippie, a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã.

Outro fator de identificação eu acredito que seja a trilha sonora, lotada de grandes clássicos do rock da época, ouvindo-se desde Jimi Hendrix (que num episódio a irmã "hippie" definie como "o maior guitarrista do mundo" ao respoder à mãe que mandava ela desligar aquele barulho), Bob Dylan, Beatles, Beach Boys, Joan Baez, The Monkees, The Doors, Cream, Johnny Cash, Neil Young e uma porrada de outros grandes. Por sinal, dá pra conferir no site http://whiplash.net/cinemaanosincriveis.html a trilha sonora de cada episódio (fantástico isso!).

Pelo fato de ser uma representação da visão de um menino sobre as coisas, eu sinceramente não sei qual a aceitação entre o público feminino (questão a ser resolvida nos comentários) bem como em relação aqueles que não conhecem a fantástica trilha sonora (eu, sem conhecer porra nenhuma das bandas, já curtia quando era criança).
Mas, realmente, os roteiristas merecem todas as honras por terem ido tão fundo na análise psicológica e por terem colorido as "enrascadas" do nosso "loser" com uma trilha sonora do caralho! Dá até vontade de ter vivido naquela época...
Então não percam amiguinhos: todo dia, às 18:30 na TV Cultura.

PS: que o idiota era lerdo com a Winnie Cooper, ele era hein? Puta que pariu!

29.11.04

Deus!

Após tantos anos, não restam mais dúvidas: o rock costuma arregimentar pessoas realmente miseráveis. Tanto que suicídios, vício em drogas, alcoolismo e comportamentos violentos são extremamente comuns no meio. E, onde há esse tipo de sentimento, hora mais, hora menos, os sujeitos acabam tentando buscar algo mais "transcendental". E não há nada que represente melhor essa busca do que a religião.
Por isso, apesar de todo o senso comum apontar o caráter demoníaco do rock, este estilo acabou sendo responsável por algumas das mais profundas canções "religiosas" já compostas, superando, em muito, aquelas cantadas em bancos de Igrejas por padres desafinados, tias-avós e coroinhas.
O caso mais notório talvez seja o de Bob Dylan que, na virada dos anos 70 para os anos 80, lançou uma seqüência de álbuns realmente religiosos. Apesar da Bíblia ter servido, anteriormente, como inspiração para Dylan, as canções desta época trataram o tema de forma bem mais explícita, fato que afastou muitos fãs do cantor e o aproximou da comunidade religiosa. Mesmo com este fanatismo, Dylan acertou a mão em algumas canções, com destaque para "Every Grain of Sand", cuja inspiração no Evangelho o ajudou a criar versos como: "I gaze into the doorway of temptation's angry flame/And every time I pass that way I always hear my name/Then onward in my journey I come to understand/That every hair is numbered like every grain of sand.

And from your lips she drew the Hallelujah

O canadense Leonard Cohen também deu sua contribuição ao compor "Hallelujah", misturando cultura judaica, busca pela fé e boas doses de amor mundano. Tempos depois a canção foi regravada por Jeff Buckley, que, inspirado em uma versão de John Cale, trocou a sonoridade oitentista do original, carregado de teclados, por sua guitarra minimalista e sua voz passional. O resultado foi tão bom que Buckley deve ter garantido seu terreninho nos céus.
Mas o caso curioso mais curioso talvez seja o de Lou Reed, que, no terceiro álbum do Velvet Underground, gravou uma canção chamada... "Jesus"! Nessa belíssima balada, o compositor limita-se a pedir ajuda a Jesus para encontrar seu lugar no mundo. Assim, em meio à canções que falavam de travestis, das ruas de Nova York, de drogas pesadas e de violência, o compositor consegue encaixar, com perfeição, uma cançãozinha acústica cujo coro se limita a um "Jeeeesuss, Jeeeesuss..." quase choroso.
O que pode demonstrar que, no fundo, as drogas, a auto-destruição, a música ou um Deus são apenas caminhos para encontrar algum tipo de paz. Mas isto já é filosofia demais para um post só.

23.11.04

10 motivos para acabar com uma boa banda

A função do blog não é ficar dando notícias do mundo pop, mas essa vale a pena. Pra quem não sabe, os caras do Luna - uma dessa bandas fenomenais, lideradas pelo genial Dean Wareham, que não se preocupa em sair com supermodelos ou com o torso nú na capa da Rolling Stone - anunciaram o fim da banda. Dentre as dez justificativas dadas pela banda, uma merece destaque: "Isto é o que bandas fazem (com algumas raras exceções, como o R.E.M., Metallica e os Stones). Estas bandas, contudo, são corporações multibilionárias. Você não acaba com uma banda dessas a não ser que o governo force você".
Essa afirmação já me diz que a banda acabou antes de ficar decadente. E olha que ainda nem ouvi o disco novo...
As demais razões (também interessantes) vocês encontram no site da banda: http://www.fuzzywuzzy.com

Anos 80 - O Resgate

Qualquer um percebe que virou febre, de uns anos pra cá, o revival (forçado ou não) da moda, música, gírias e comportamentos em geral dos anos 80. É um tal de escutar Trem da Alegria, reverenciar o Chaves, cantarolar as músicas da Xuxa e do Serginho Mallandro, lembrar do Fofão, dos Thundercats e por aí vai (vide comunidades do Orkut e baladas como a Trash 80's).

Alguns dizem ser fruto de um suposto surto de decadência criativa. Outros, alegam resgate genuíno de coisas boas vividas naquela década. Vou arriscar uma tese diferente.

Perceba: esse resgate é levantado por pessoas que foram crianças nos anos 80, que ficaram adolescentes nos anos 90 e agora, em 2004, passam pela trágica crise transitória da fase infanto-juvenil para a vida adulta.

É conhecido da psicologia o retorno ao estado infantil, à "felicidade" dos tempos de infância, à proteção familiar e coisa e tal em momentos de severa crise e conflito interno. É como se fosse um meio de defesa, um casulo onde a pessoa se sente protegida e amparada dos males do mundo (pesado isso, não?). Ataulfo Alves já chorou essas pitangas em música: "Eu daria tudo que tivesse/ pra voltar aos dias de criança/ Eu não sei pra que que a gente cresce/ se não sai da gente essa lembrança". Curioso que Kurt Cobain também já expressou o mesmo (de modo muito mais, digamos, visceral): "Throw down your umbilical noose/so i can climb right back".

Por outro lado, como já disse o mestre Goethe, há uma expressão genuína do infantil cujo sentido só se constitui em momento posterior à infância. Assim, não é de se admirar que essas coisas que a gente venerava na infância voltem a ter um sentido tão forte, após passado aquilo período de negação total da pré-adolescência e adolescência (seja sincero(a): você já vestiu uma camiseta do Iron Maiden ou do Sex Pistols e achou tudo ridículo, infantil e babaca).

Em outras palavras, junto com essa "necessidade" de volta à infância como forma de proteção, há um evidente movimento de negação da censura em relação aqueles gostos "peculiares" de criança que permaneceram negados, xingados e escondidos durante aqueles anos de auto-afirmação pela negação da infância, típicos da adolescência.

Dessa forma, um bando de coisa "trash" que você ouvia, assistia, comprava, comia, falava, vestia volta a ser legal, volta a ser fantástico, volta a ser "da hora", só pra usar uma gíria da época. E não só as coisas dos anos 80, mas as do começo dos 90 também.

Esse revival, então, não é um simples movimento oportunista ou um resgate forçado em virtude de crise criativa (pelo menos pra mim e, creio, pra maioria). Pelo contrário, é uma consequência natural do momento de vida em que se encontram os pobres coitados da geração 1980-1985 (pensa bem, quando você nasceu o Brasil ainda tava ditadura, o movimento hippie já era história, o comunismo já era lenda, os punks já tinham se vendido, a disco-music já tinha falido e o U2 tava começando!!!! Quanta merda!!!)

Então, foda-se quem tira sarro de você que gosta de Trem da Alegria, Balão Mágico, Ursinho Blau-Blau, Clube da Criança, Serginho Mallandro, Angélica, César Filho, Latino, Os Morenos, Copacabana Beat, Luan & Vanessa ("o seu nome eu escreviiii"), Angélica, Power Rangers, Jovens Guerreiros Tatuados de Beverly Hills, Mc Hammer ("can't touch this"), 4 Non Blondies, "Always" do Bon Jovi, a música do "Guarda-Costas" da Whitney Houston ("And iiiiiiiii"), Armação Ilimitada, Chaves, Chapolin, Cavalo de Fogo, Gato Felix, Atari 2.600, Fofão, a loira que saía do espelho, a boneca da Xuxa que tinha o diabo dentro.

Pelo menos, com esse texto, eu pude dar um guia de desculpas esfarrapadas que você pode usar quando te chamarem de tosco. Mas acreditem! É sério!

16.11.04

Robert Johnson - O Rei do Delta do Mississipi


Pacto com o demônio. Morte misteriosa aos 27 anos. Casos amorosos rápidos. Canções falando de alcoolismo e violência doméstica. Influente ao extremo. De quem estamos falando? Rolling Stones? Led Zeppelin? Black Sabbath? Não. O sujeito que responsável por toda essa postura “rock and roll” morreu três décadas antes de qualquer um desses grupos e deixou um legado muito maior. Trata-se de Robert Johnson que, apesar de possuir apenas 29 canções gravadas, criou um estilo único no blues e, consequentemente, no rock.

Nascido no Delta do Mississipi em 1911, entrou em contato com a gaita, o violão e o blues. Após perder a esposa, que tinha apenas 16 anos, e assistir a performance do bluesman Son House, Johnson resolveu que a vida no Mississipi como catador de algodão era pouco interessante. Assim, decidiu se tornar um bluesman, iniciando sua carreira nas casas de shows conhecidas como jook-joints.

Nesse ponto surge o mito Robert Johnson: no começo de sua carreira musical, Johnson não era diferente dos inúmeros bluesmen que afloravam no Mississipi. Entretanto, em pouquíssimo tempo, o rapaz desenvolveu uma técnica inigualável, o que levou ao nascimento da lenda de que essa habilidade fora ganha após um pacto com o diabo. A habilidade do sujeito era tamanha que, ao ouvir Johnson pela primeira vez, Keith Richards perguntou a Brian Jones quem era o outro guitarrista que estava na gravação. Já os mais céticos (e chatos) dizem que boa parte da habilidade de Johnson derivava de seus longos dedos, qualidadade que ajudaria, anos mais tarde, Jimi Hendrix.

Mas o próprio Johnson colaborou para a perpetuação da história em canções como Preachin´ Blues (Up Jumped the Devil), Cross Road Blues (dizem que o pacto foi selado em uma encruzilhada), Hell Hound on my Tale e Me and Satan Blues, com os singelos versos "Me and the devil, was walkin' side by side/Me and the devil, ooh, was walkin' side by side/And I'm goin' to beat my woman, until I get satisfied".

Mas nem só de satanismo e violência é feita a obra de Johnson. Como um genuíno bluesman, ele cantou sobre as dores do amor. A canção Drunken Hearted Man mistura culpa e alcoolismo com desilusão amorosa: "Now, I'm the drunken hearted man and sin was the cause of it all/I'm a drunken hearted man, and sin was the cause of it all/And the day that you get weak for no-good women, that's the day that you bound to fall". Além desta, vale citar o clássico Love in Vain, na qual um sujeito iletrado como Johnson transforma a cena de uma mulher indo embora de trem em algo extremamente poético: "When the train, it left the station, with two lights on behind/When the train, it left the station, with two lights on behind/Well, the blue light was my blues, and the red light was my mind/All my love's in vain".

Com tantas boas canções, Johnson foi convocado, em 1936, por um selo que lançava Race Records, discos destinados ao público negro, para a gravação de algumas canções. Todas foram gravadas em duas sessões em um quarto de hotel em pouquíssimo tempo, já que a idéia das gravadoras era extrair todo o repertório dos músicos para selecionar uma ou outra canção que seria lançada na forma de um compacto. Após a gravação, Johnson continuou a tocar em jook-joints, já que pouquíssimos negros conseguiam ganhar dinheiro com seus álbuns.

Em 1938, Jonh Hammond, um dos sujeitos mais importantes da cena do blues-jazz-folk americana (ele foi o responsável por encontrar talentos como Bessie Smith, Billie Holiday, Bob Dylan e Aretha Franklin), organizou o festival “From Spirituals to Swing”, no Carnegie Hall, convidando Johnson para o concerto. Contudo, após o convite, Hammond constatou que o músico havia falecido.

Segundo diz a lenda, o fato ocorreu quando o tinhoso resolveu cobrar sua dívida, tendo o bluesman morrido de joelhos e uivando para a Lua. Já os historiadores (também chatos) dizem que o músico fora envenenado por um marido ciumento, já que ele, além de bluesman, era um grande “conquistador”.

Johnson então caiu no ostracismo, sendo relembrado somente nos anos 60 por artistas como Rolling Stones, Animals, Yardbirds, John Mayal e Eric Clapton, os quais foram profundamente influenciados pelo blues americano.

E desde então Robert Johnson é tido como um dos maiores compositores norte-americanos, tanto em função de seu estilo seminal, quando por toda a lenda existente ao redor de seu nome.

O que ouvir?
"Robert Johnson –- The Complete Recordings"” -– Caixa com todas as 29 faixas do cantor. Apesar da qualidade ruim para os padrões atuais, é a melhor fonte para ouvir os originais do cantor.

Texto de Daniel Chiaretti.

10.11.04

Meu ouvido não é penico!

Assistindo ao acústico dos Engenheiros do Hawaii este final de semana retornei a uma constatação terrível (que julgo ser geral): o péssimo nível dos letristas das bandas de rock do país, falando aqui das bandas mais expostas na mídia.

Foi um sem-número de frases e rimas que me deixaram perplexos, coisas que buscam a poesia previsível, trocadilhos manjados e jogos de palavras babacas e sem qualquer correspondência com a expressão poética pretendida pelo “mestre” Humberto Gessinger.

Só para ilustrar minha raiva, observem:

"Por que será?/ Me diz, por que será/ que a gente cruza o rio atrás de água?"” (10.000 destinos)

"Ela para e fica ali parada/ Olha assim para o nada, Paraná/ Fica parecida, Paraguaia/ Pára-raios em dia de sol para mim/ Prenda minha parabólica, princesinha parabólica/ O pecado mora ao lado/ O paraíso/ paira no ar/ Pecados no paraíso” ..... “Paralelas que se cruzam em Belém do Pará/ Longe, longe, longe, aqui do lado/ Paradoxo nada nos separa/ Eu paro e fico aqui parado"” (Parabólica)

"O nosso amor é medieval/ É como uma pedra em um vidro de catedral"” (Sopa de letrinhas)

"Surfando Karmas & DNA/ não quero ser o que eu não sou/ eu não sou maior que o mar" (Surfando Karmas & DNA)

Sinceramente, não é necessário nem ser irônico. Dá uma olhada nessas letras. É capaz dele alegar até que opta pela poesia surreal! Surreal o caralho! Isso é um apanhado de metáforas ridículas, rimas muito mal elaboradas, paradoxos banais e assim vai.

O grande problema não é tanto escrever mal. Ninguém está exigindo que todas as bandas tenha um poeta por trás das guitarras. A grande questão é a postura de poeta, o menosprezo pela inteligência do público e a arrogância desses pretensos grandes letristas.

O Jota Quest é outro terror no quesito letras supostamente líricas. Vejamos:

"Eu quero ficar só/ mas comigo só eu não consigo/ Eu quero ficar junto/ mas sozinho só não é possível"” (Amor maior)

"Voe por todo o mar e volte aqui/ pro meu peito" (O vento)

"Pra que tanto telefonema/ se o homem inventou o avião/ pra você chegar mais rápido/ ao meu coração...A fome de amar é real/ não se traduz em fios/ Meu ouvido não ama/ apenas ouve os seus reclames"” (Tele-fome)

O que falar então do Ira! ("Você é meu sol/ um metro e sessenta e cinco de sol"”), do Capital Inicial ("Parei de pensar e comecei a sentir/ Nada como um dia após dia/ uma noite, um mês"), CPM22 ("Tanto faz o que vai rolar/ mas nunca espero voltar lá/Sempre tento me esconder/ para deixar de te ver") e Charlie Brown Jr. ("Acabei de ver mais um cachorro na estrada/ dor de cabeça, garganta ressecada")?

Poderia juntar trocentos posts comentando essas letras patéticas e, na sua maioria, feita às pressas só para finalizar e lançar o CD.

É claro que os grandes letristas são e sempre foram poucos, mas um mínimo de bom-senso e competência é o básico para poder se chamar alguém de artista e não mero tocador de músicas e alimentador da indústria fonográfica.

Mas o negócio não tem só o lado ruim. Vários artistas ainda salvam o nosso cancioneiro do rock, com letras bem sacadas, seja pelo lado lírico ou pelo cômico e non-sense. Grandes exemplos são Los Hermanos, Lobão, Bidê ou Balde, Gram, o extinto Video Hits, Nando Reis (com algumas ressalvas), o próprio Réu e Condenado comentado no post anterior, e vários outros.

Com certeza o sucesso dessas bandas de péssimos letristas está ligado ao desprezo do público em geral pelo texto, fixando seu gosto apenas no “embalo” da música, não dando a mínima para o que o vocalista está falando (ou berrando, ou vomitando). Azar da nossa cultura.

8.11.04

Eu sou tão mau!!!!!!

Isso vai mudar a vida de vocês. Isso tem que mudar a vida de vocês. A melhor banda que estava por existir acaba de existir e lançar seu primeiro CD. Só posso dizer uma coisa: GENIAIS! Escutem isso, comprem isso, se viciem nisso, propaguem isso, AMEM ISSO, VENEREM ISSO. Com vocês, RÉU E CONDENADO:

"Eu sou tão mau, que eu teria dois carros num país comunista
Eu sou tão mau, que o meu hobby em casa é brincar de legista
E você ainda quer ser o meu amor

você não entende que o caos e a danação
não podem em paz coexistir com a paixão
você me prende numa bolha de sabão (tchumblec tchumblim)
e eu me solto promovendo a destruição

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu joguei seu voodoo num frasco de arnica
eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu vesti Hitler de Lilica Ripilica
e você ainda quer ser o meu amor

você me empresta o livro que ganhou no natal (do papai noel)
e eu picoto ele em mil pra fazer neve
da Agroquimia sei que Fosquima é o sal
pra engordar e dar saúde ele serve

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu faço até piada com produtos agrícolas
eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu tenho o penteado dos Twisted Sisters
e você ainda quer ser o meu amor

você me ensina a disciplina oriental
e quando vira as costas corro e picho o muro
bati seu carro até dar perda total
e então gastei com pinga a grana do seguro

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu pintei o inferno com tinta suvinil azul
eu sou tão mau, eu sou tão mau
ifz as palavras cruzadas no seu CD do Jethro Tull
e você ainda quer ser o meu amor!"

Vá numa banca mais próxima e compre junto com a revista OutraCoisa. Isso não é propaganda. É lavagem cerebral! COMPRE-COMPRE!

5.11.04

Acho que já ouvi isso! (Parte 2)

Continuando com o tema das músicas que se parecem com outras, aí vai nova listinha (largue de ser vagabundo, pegue no Kazaa e confira):

- "Todo carnaval tem seu fim" do Loser Manos é bem parecida com "Getchoo", do Weezer;

- "O mundo dá voltas" do CPM22 (credo!) é simplesmente a música "Bullion", do Millencollin;

- O Charlie Brown Jr. aumenta sua lista com três coincidências interessantes:

"Zóio de Lula" é igual ao Goldfinger em "My girlfriend's shower sucks"
"Proibida pra mim" é, na verdade, "Mr. Smile" do Mustard Plug
"Um lugar ao sol" lembra muito "Crush us all" da banda Seaweed

- Agora a seção Oasis:
"Cigarettes & Alcohol" é idêntica a "Get it on", do T-Rex;
"Morning Glory" tem o mesmo riff de "The One I Love", do R.E.M

- Parece que o Frejat quer superar Renato Russo no quesito canastrão-mor. Observe:

Frejat - Segredos : "Procuro um amor que seja bom pra mim/Vou procurar eu vou até o fim e eu vou tratá-la bem/Pra que ela não tenha medo quando começar a conhecer os meus segredos"

Neil Young - "Lookin' for a love/Lookin' for a love that's right for me/I don't know how long it's gonna be/But I hope I treat her kind and don't mess with her mind when she starts to see the darker side of me"

Incrível não?

- O Audioslave também tem suas complicações:
"Cochise" é tremendamente igual a "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin
"Show me how to live" é roubada de "Sail Away", do Deep Purple (realmente igual)

-"Mr. Brightside", do Killers, que tem a introdução idêntica a "Camila, Camila", do Nenhum de Nós (não, não estou dizendo que foi plágio...);

- A Anastacia (quem?) sugou, copiou, roubou, plagiou "Lucky Man", do The Verve, em "Cowboys and Kisses" (olha o nome da música!);

- E Britney Spears, ou melhor, algum dos que faz as músicas dela, usou sem dó a batida de "In the Closet", do mestre Michael Jackson, pra fazer o hino sexy "I'm a slave for you". Copiando pedófilo? Bizarro hein... Aliás, o nome da música do Michael é bem interessante também...

Quem lembrar de mais algum faisfavor de me avisar!
Próximo texto é uma contribuição do Daniel Chiaretti. Se quizer mandar seu texto converse comigo pelo e-mail. Sugestões também são muito bem vindas. NÃO FIQUEM TÃO QUIETOS!

1.11.04

Acho que já ouvi isso!

Não existe uma definição em lei do que seja plágio musical (não que eu conheça). Existe um conceito assentado na prática que é plágio a cópia de, no mínimo, 8 compassos de uma canção, algo absolutamente técnico e de difícil apuração. Mas no dia-a-dia é fácil de se ouvir uma música que "lembre" outra, mesmo que vagamente, gerando a eterna discussão entre plágio e influência musical (incluindo-se aqui também a discussão sobre a criptoamnésia, sustentada na terapia regressiva).

Sinceramente eu não vou ficar discutindo conceitos jurídicos sobre o assunto, nem vou defender ou recriminar essas coisas que "lembram" outras, mas, realmente, é algo interessante e engraçado apontar alguns casos que envolvam músicas bastante conhecidas e episódios gritantes de apropriação sem o menor escrúpulo de letras, melodias, riffs ou o que for.

Um caso bem famoso é o de "My Sweet Lord" do George Harrison, que é muito, mas muito parecida com a música "He’s So Fine", do grupo The Chiffons. O negócio foi tão na cara que o ex-beatle foi condenado pela Justiça, apesar de sempre ter negado sua má-fé (plágio acidental?).

Na cara também o plágio de Rod Stewart, na canção "Do ya think i’m sexy?" em relação a "Taj Mahal" de Jorge Ben . O caso terminou com Rod Stewart, espertão, doando os direitos da música ao UNICEF.

Outro exemplo é o da música "Surfin’ USA" do Beach Boys. A melodia foi nitidamente roubada de "Sweet Little Sixteen", de Chuck Berry, a maior influência dos rockeiros da época.


The Doors também já fez disso: "Hello, I love you" tem uma semelhança interessante com "All day and all of the night", do Kinks. Mas não é pra tanto.

No Brasil, com certeza o copiador-mor (ou que tem mais "lembranças") é Renato Russo. A lista de músicas dele que "parecem" com outras é grande. O primeiro verso de "Será" é cópia assumida de "Say Hello Wave Goodbye", do Soft Cell ( é só comparar: "Take your hands off me/ I don't belong to you"). A letra e o título de "A canção do senhor da guerra" são chupados de "Masters of War", de Bob Dylan (apesar de não ser uma cópia grosseira, a temática e as referências são totalmente iguais, o que é de se estranhar, sendo Bob Dylan um dos ídolos de Russo). Continuando a lista de "influências" de Renato Russo, temos a música "Que país é esse?" que consegue, ao mesmo tempo, parecer "I don’t care" e "We want the airwaves", do Ramones, grande influência do cantor. Parece até implicância minha, mas tem mais um caso ainda. A música "Ainda é cedo" é uma mistura de "A Forest", do The Cure, com "A means to an end", do Joy Division. O espertinho ainda tentou se justificar em "Quase sem querer": "Sei que às vezes uso / Palavras repetidas / Mas quais são as palavras que nunca são ditas?". Sei, conta mais.

Frejat também ofereceu o ar de sua graça na carreira solo. A letra da música "Amor pra recomeçar" é simplesmente uma adaptação tosca do poema "Desejos" de Vitor Hugo. Confesso que não sei se ele creditou o uso no disco, mas desconfio seriamente que não. Mas um caso confirmadíssimo é o da música "Por Você" (argh!), do Barão Vermelho. Dá uma escutada em "If not for you" do mestre Bob Dylan (de novo ele, coitado!) e me fala depois. Ninguém mando Bob Dylan falar que sem o plágio não existiria rock.

Outra banda internacional que tem dois casos interessantes é o Led Zeppelin. Um dos maiores sucessos da banda, "Whole Lotta Love" parece bastante (bastante mesmo) com "You need love", de Muddy Waters. Mas o que choca muita gente é o fato de "Stairway to Heaven", o clássico dos clássicos, ser bastante "influenciada" por "Taurus", da banda Spirit, um grupo obscuro na época, mas admirado por Jimmy Page, o criador do riff clássico. Justiça seja feita, o Led Zeppelin também sofreu com essa "lembrança" na música "Still of the Night", na qual o Whitesnake simplesmente copiou a melodia do primeiro verso de "Black Dog".

Tem mais? Mas é claro! Antes de acabar com mitos dos indies (HÁ-HÁ-HÁ!) eu vou provocar os fãs do Metallica (será que algum fã do Metallica lê isso?). Desculpem meus queridos metaleiros do mal, mas "Enter Sandman" não é uma coisa tão fantástica assim. Por favor, ouçam "Tapping into the emotional void", da banda Excel (procura no Kazaa que você acha, vai!), depois comenta aí.

Antes dos indies (calma, calma) vou avisando que o Charlie Brown Jr. simplesmente pegou uma música do Black Train Jack ("Leap frog") e falou que era sua ("Hoje eu acordei feliz"). O negócio é realmente grave. A mesma coisa que o Supla fez com "Charada Brasileiro", chupada na cara de "White Power", do Screwdriver (o guitarrista do Holly Tree achou q ninguém fosse perceber...).

Agora os indies e alternativos em geral. Vamos por partes. O gênio Kurt Cobain furtou na cara dura o riff de "Eighties", do Killing Joke e fez "Come as you are" (ele mesmo confessou). O Foo Fighters, de "Você-Sabe-Quem", resolveu "homenagear" (que bonito!) o Blondie em "The One", apropriando-se sem dó de "Call me", da banda da loira. O bom moço Rivers Cuomo, do Weezer, não é tão bonzinho assim. Ele tem três momentos de "lembranças" (criptoamnésia?) interessantes: 1) "Undone" é bem parecidinha com "I Bleed" do Pixies (coisa feia! Indie copiando indie!); 2) "Hash Pipe" tem sua melodia furtada de "Kiss me Deadly", de Lita Ford; 3) "Dope Nose" é curiosamente igual a "All right now", do Free (esse é o mais na cara). Calma que tem mais dois.
O maior hit do Elastica ("Connection"), na verdade, é uma música do Wire ("Three Girl Rumba"). É de assustar. Finalmente, os Strokes cometeram um pecado em "Last Nite": ouça "American Girl", do Tom Petty e veja se eu to exagerando.

Casos curiosos, muito curiosos. Só pra não falarem que eu também to plagiando, esse texto teve base, além da minha própria memória (fantástica), vários sites da Internet que trataram do mesmo assunto, inclusive (sim, eu assumo!) a coluna do Lúcio Ribeiro, que já teve esse tema uma vez.

29.10.04

Extra imperdível

Se você é fanático por Smashing Pumpkins não perca isso!! Trocentos arquivos de mp3 e videos de shows de 1988 a 2001, mais demos, lados-b, raridades e qualquer coisa imaginável! BRUTAL! BRUTAL!

28.10.04

Liberdade é Escravidão?

Lá vai um textinho escrito para o site da Revista Zero em algum tempo de 2003.... espero opiniões...

"Liberdade é Escravidão?"

Por Danilo Gaiotto
http://www.revistazero.com.br/sonosite.php?i=450

"Toda autoridade é igualmente má" - Oscar Wilde

Nada se cria, tudo se copia. É nessa lama que chafurda grande parte da produção musical independente brasileira atual. O mito da revolução independente toma feições grotescas quando esse cenário é analisado de modo atento. Não se pretende aqui jogar terra sobre o crescente e necessário movimento de desvinculação da produção artística das grandes empresas para os pequenos selos ou gravadoras caseiras, entretanto é contribuir para hipocrisia não destacar certos pontos de grave contradição, que acabam por comprometer o propalado "do it yourself".

Aconchegantes são as palavras desse cenário, que insiste em bradar os perigos proporcionados pelo temido controle das gravadoras, supostamente acolhendo em seus braços aqueles que preferem expressar a "arte pela arte", livre das peias do mercado e dos ditames hierarquizados.

O que se nota entre os "sem-gravadora" é a constituição de um poder a parte, um poder que finge não ser poder, aquilo popularmente conhecido como "panela" ou "patota" (fenômeno brilhantemente ironizado por Cobain: "our little group has always been and always will until the end"). O esquema é basicamente uma pirâmide, onde os que estão no topo (por motivos de conveniência) ditam regras acerca do que é "legal" e daquilo que não é. A faixa exatamente abaixo se incumbe de divulgar, através de seus meios (aqui entram os críticos e formadores de opinião), aquilo que foi estabelecido como "legal". Por fim, a base da pirâmide ovaciona o que agora é legal e passa a repudiar o que ficou "babaca" (coitados Weezer e Belle & Sebastian). Evidentemente esse esquema da "síndrome da panela" é espontâneo, e não mecânico como pela descrição possa parecer.

Até porque não existe um momento em que os do topo viram e falam: "Bom... isso é legal" e ponto. O que se dá, de fato, é uma transposição - atrasada - do qué é (ou melhor, era) "cool" no cenário alternativo americano e europeu. A influência cultural estrangeira assume posição meramente contemplativa e pelega. A sedução pelos padrões de fora acaba por fazer tornar as costas para o que é próprio da nossa cultura, fazendo-nos viver uma manifestação da realidade que não é a nossa. E não há nenhum Policarpo Quaresma falando aqui. Basta notar a postura de certos grupelhos desse cenário que, como costuma-se dizer, se acham mais londrinos do que os moradores de Londres.

Esse bovarismo cultural demonstra a total subtração do senso de originalidade e da coragem de criar espontaneamente. Não se pode admitir que nossa expressão artística seja mero retoque mal resolvido do que é feito lá fora. Os movimentos musicais que tiveram êxito em nosso país foram aqueles que souberam dosar na medida correta os ingredientes da influência e da originalidade (e individualidade). Pode-se discordar musicalmente do samba, da bossa nova, da tropicália, do rock anos 80 e do mangue-beat, mas não há como negar que a sacada desses movimentos foi manipular os elementos de cultura estrangeira como meros instrumentos para a concretização de sua arte. A apropriação não era um fim em si, ela apenas visava o aspecto da intertextualidade, não contentando-se em realizar meras colagens vazias. Infelizmente, esse não é o caso de nossa cena independente.

É patente a existência de um "mainstream" mascarado nesse meio. Dessa forma, a produção artística acaba sendo moldada segundo essas regras sazonais do que é o "legal", fazendo a manifestação tornar-se não obra de artistas, mas sim de meros replicantes insossos e oportunistas. Citando Oscar Wilde, em "A Alma do Homem Sob o Socialismo", "a obra de arte inovadora é bela por ser o que a Arte nunca foi; portanto, avaliá-la segundo critérios do passado é avaliá-la segundo critérios de cuja recusa depende sua verdadeira perfeição. Somente poderá apreciar uma obra de arte aquele temperamento que é suscetível de receber impressões novas e belas, que lhe chegam graças aos meios e as condições próprias de expressão do imaginário".

Você pode se arriscar a dizer: "Mas a banda pode fugir desses moldes e fazer o som que lhe dá prazer etc.". E pode mesmo. Porém, se a intenção da banda é atingir vários segmentos e locais do país, através de distribuição de discos e participação em festivais, ela, irrefutavelmente, tem que se associar a um selo. E é aqui que começa a operar a máxima do legal.

Não há, sinceramente, nenhuma pretensão de colocar todas as bandas e selos independentes nesse balaio de moldadores/moldados de estilo. Quem está realmente preocupado com a manifestação da arte e sua divulgação sabe que está fazendo seu trabalho de maneira adequada, sendo desnecessárias palavras de alento e menções honrosas.

Acontece que a maior parte opera e cria com base nessa lógica do "legal" e nessa síndrome da "patota". O esquema funciona de cima para baixo, ou seja, muitos selos atraem para si somente as bandas que consideram dentro do conceito de "legal", e também de baixo para cima, com as bandas direcionando sua criação para que se adeqüe ao filtro estabelecido. Em suma, a banda entra no esquema se seu estilo (tanto musical como visual) for coincidente com o conceito de "legal".

Há de se convir que enquanto essa coincidência for acidental e meramente ao acaso, não há qualquer objeção a fazer. Se num dado momento a arte sinceramente emanada pela banda passa a ser valorizada como antes não era e ela se torna a "bola da vez", o que ocorre é simplesmente uma adesão espontânea e natural, não havendo que se recriminar uma banda que teve seu sempre sincero trabalho valorizado pela mudança dos conceitos.

Agora, quando a produção da música passa a ser direcionada e moldada com vistas a atingir a simpatia daqueles que estabeleceram o "legal", unicamente para "entrar na cena", temos um comportamento execrável. Os padrões já estão dispostos, fazendo com que a arte musical se reduza a uma mera busca pela adequação, onde todos parecem estar tocando a mesma a música (quantas bandas não "parecem" com alguma coisa?) e dizendo a mesma coisa, ou seja, nada.

"Liberdade é Escravidão". Será que Orwell estava certo?

23.10.04

Syd Barrett - The Madcap Laughs



1 Terrapin (5:04)
2 No Good Trying (3:26)
3 Love You (2:30)
4 No Man's Land (3:03)
5 Dark Globe (2:02)
6 Here I Go (3:11)
7 Octopus (3:47)
8 Golden Hair (1:59)
9 Long Gone (2:50)
10 She Took a Long Cold Look (1:55)
11 Feel (2:17)
12 If It's in You (2:26)
13 Late Night (3:10)


As risadas do louco. Título sinistro que descreve fielmente o que se passa nesse disco: o deboche do louco em relação à sua própria insanidade, a auto-ironia de um artista que acabou reconhecido mais por seu desequilíbrio mental - ocasionado por consumo excessivo de LSD - do que pela grandiosidade de sua obra. São comuns referências como "o louco que fundou o Pink Floyd" ou "o lesado que, de tanto LSD, virou um vegetal humano". Puro preconceito de quem não se preocupou em analisar a parte musical de sua carreira solo.

Nascido Roger Keith Barrett, Syd integrou a formação original do Pink Floyd, tendo, inclusive, nomeado a banda sob inspiração de dois músicos de blues que apreciava: Pink Anderson e Floyd Council. Em 1967 é lançado " The Piper At The Gates Of Dawn", primeiro disco da banda e uma obra quase autoral de Barrett. As canções chamavam atenção por seu embalo "viajante" e pelo teor das letras, quase sempre sem sentido algum, como em "Astronomy Domine": "Lime and limpid green, a second scene/A fight between the blue you once knew/Floating down, the sound resounds/Around the icy waters underground/Jupiter and Saturn, Oberon, Miranda/And Titania, Neptune, Titan/Stars can frighten".

Esse primeiro disco coincide com o crescimento da cena hippie, onde a mistura de temas esotéricos, música espacial, non-sense e abuso de drogas lisérgicas dominavam a composição das canções, sob o pretexto de criar novas texturas musicais e ampliar os limites do inconsciente.

Porém, Barrett abusou demais no experimentalismo, consumindo excessivamente LSD e Madrax, afetando suas performances em shows, a composição de novas músicas e mesmo o convívio em sociedade. Prova disso foram as várias entrevistas em que o músico ou falava ininterruptamente sobre assuntos desconexos ou se limitava apenas a olhar fixamente para o entrevistador de maneira psicótica, sem nada responder. Também os shows da banda foram ficando cada vez mais prejudicados, com Syd tocando por horas apenas um único e longo acorde, esquecendo-se de cantar e de acompanhar o andamento das músicas.

Essa situação degradante e patética fez com que em março de 1968 o músico se desligasse da banda, permanecendo, teoricamente, apenas como compositor, o que nunca aconteceu de fato. Há algum tempo a banda já contava com outro músico fazendo sua parte nos shows, Dave Gilmour, que foi imediatamente integrado como membro oficial.

A saída do Pink Floyd fez com que Barrett se enfurnasse em seu apartamento, pintando quadros e compondo musicas absurdamente fora dos padrões comerciais da época, com andamento e melodia descompassados, frases totalmente sem sentido e temas inusitados saídos de sua mente comprometida pelo uso continuado e abusivo de drogas lisérgicas.

O resultado dessa fase é "The Madcap Laughs", de 1970, seu primeiro disco solo, fundado num estilo exótico (estrambótico?) e único, com melodias, levadas e letras nunca antes vistas, solos fora de tempo, invertidos, tudo numa linguagem caótica cujo resultado era, impressionantemente, coerente e original. O disco teve parte da produção feita pela dupla Gilmour (que tocou baixo e guitarra) e Waters, do Pink Floyd, e parte pelo produtor da Harvest Records, Malcom Jones.

As seções de gravação foram marcadas pela estranheza dos outros músicos em relação ao estado mental de Barrett, que, de acordo com os próprios, "parecia estar num mundo totalmente a parte do resto das pessoas" , falando coisas sem sentido algum e propondo construções musicais bizarras. O que os deixava mais atônitos é que aquilo que para eles era desprovido de qualquer sentido era algo plenamente razoável e racional para Syd, que insistia em compor daquela maneira, conseguindo prever mentalmente que solos de guitarra aparentemente fora de tempo se encaixariam perfeitamente às canções quando invertidos (!).
Apesar de toda essa insanidade, o disco é marcado em sua maioria por letras de amor, obviamente ao modo Barrett, como em "Terrapin" ("I really love you and I mean you/the star above you, crystal blue/Well, oh baby, my hairs on end about you"), "Love You" ("Oh, you dig it, had to smile just an hour or so/(are) we in love like I think we be?/It Ain't a long rhyme/It took ages to think/I think I'll hurl it in the water, baby") e "Here I Go" ("This is a story 'bout a girl that I knew/she didn't like my songs/and that made me feel blue/she said: "a big band is far better than you"). A mente atabalhoada pelas drogas é revelada em "Octopus" ("Trip to heave and ho, up down, to and fro'/you have no word/trip, trip to a dream dragon/hide your wings in a ghost tower/sails cackling at every plate we break cracked by scattered needles/the little minute gong/coughs and clears his throat/madam you see before you stand") e em "If It’s in You "e sua letra absurda (Did I wink of this, I am/yum, yummy, yum, don't, yummy, yum, yom, yom.../Yes, I'm thinking of this, in steam/skeleton kissed to the steel rail"). Outros destaques são "Golden Hair", poema de James Joyce transformado em algo perturbador por Barrett e "Dark Globe", cuja letra aparenta ser um recado irônico para os ex-parceiros de Pink Floyd e para os antigos fãs da banda ("Won't you miss me?/Wouldn't you miss me at all?").

Porém, as inovações trazidas pela originalidade de Barrett não surtiram efeito de público e de crítica, ao contrário, contribuíram ainda mais para que o músico fosse visto como um louco à margem da sociedade.
A partir dessa obra, Barrett foi se degenerando cada vez mais, tendo gravado apenas mais um álbum ("Barrett") e amargado o estrondoso sucesso que os antigos parceiros do Pink Floyd atingiram com o lançamento de "The Dark Side of the Moon". Nesse disco a banda faz referência explícita ao ex-companheiro em "Brain Damage": "And if the cloud bursts, thunder in your ear/You shout and no one seems to hear/And if the band you’re in starts playing/different tunes/I’ll see you on the dark side of the moon". A banda voltaria homenageá-lo nas canções "Wish You Were Here" e "Shine You On Crazy Diamond".
Syd Barrett se isolou da sociedade, pintando quadros e morando, até hoje, com a mãe, sofrendo de diabetes e de diminuição de sua visão, em um mundo que só a ele pertence. A influência de sua música, porém, ecoa até hoje, desde a gravação de "See Emily Play" por David Bowie, em 1973, até os discos solo de John Frusciante, guitarrista do Red Hot Chili Peppers. No Brasil, a obra de Barrett é a grande influência de bandas como Grenade, Júpiter Maçã e Júpiter Apple.

9.10.04

Jeff Buckley - Grace



1 Mojo Pin (5:42)
2 Grace (5:22)
3 Last Goodbye (4:35)
4 Lilac Wine (4:32)
5 So Real (4:43)
6 Hallelujah (6:53)
7 Lover, You Should've Come Over (6:43)
8 Corpus Christi Carol (for Roy) (2:56)
9 Eternal Life (4:52)
10 Dream Brother (5:26)



Gênio? Mito? Deus? Pula-se a parte dos elogios. Jeff Buckley não precisa disso. Sua música se impõe a qualquer tentativa de qualificação e adjetivação. A única coisa certa é que pertence ao seleto clube daqueles que passaram como um cometa pela vida e arrancaram para si um pedaço da história da música, assim como Cobain, Joplin, Morrison, Hendrix e tantos outros.

Jeff era filho de Tim Buckley, trovador solitário, exímio cantor e letrista, morto numa overdose acidental de heroína em 1975, quando o filho tinha apenas oito anos de idade. A convivência com o pai foi mínima, mas é inegável a influência que a música feita por ele teve nas canções do filho, fato este que sempre perturbou sua vida: "Toda essa coisa sobre meu pai, eu nunca conheci ele, sério! É tão difícil conviver com isso. Eu sou Jeff, não Tim. Você acha que o que eles dizem é verdade?", disse, certa vez, a um amigo.

Assim como seu pai, Jeff não tinha restrições de gênero, misturando rock, folk, jazz, blues e música oriental em suas canções recheadas de letras dramáticas e extremamente poéticas. Seu grande diferencial, porém, era a voz. Não que o pai cantasse mal, mas o filho possuía cordas vocais abençoadas, com um alcance de notas fora de qualquer normalidade, sustentando-as de maneira absurda (como, por exemplo, em "Mojo Pin").

Fruto da boemia de Greenwich Village, Nova York, Jeff Buckley conviveu em meio a poetas, músicos e artistas em geral, os quais ele costumava chamar de "os últimos escritores, artistas, expressionistas de verdade". Essa convivência trouxe toda a bagagem musical que despejava em suas canções, assumindo como influências artistas díspares como Ella Fitzgerald, Nina Simone, Van Morrison, Bob Dylan, Edith Piaf, Leonard Cohen, MC5, Lou Reed, Robert Plant, Freddie Mercury, Pixies, Sebadoh, David Bowie e o maestro paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan, a quem se referia como seu "Elvis" (nitidamente sua maior influência no estilo de cantar).

Prova dessas múltiplas referências é seu único álbum lançado em vida, "Grace", uma obra cujo gênero é impossível de ser definido. Jeff mistura bases pesadas ("Mojo Pin", "Grace" e "Eternal Life"), canções cortantes sobre amor e perda ("Last Goodbye" e "Lover, You Should`ve Come Over"), estruturas de música oriental ("So Real" e "Dream Brother") corais de igreja ("Corpus Christi Carol", cover de Benjamin Britten) e duas versões de chorar ("Lilac Wine", de Nina Simone e "Hallelujah", de Leonard Cohen"), tudo sob a regência de uma voz ora sublime ora cortante e arranjos muito bem elaborados.


Não bastassem todos os elogios à voz e às bases musicais, Buckley também merece reverência por sua letras, verdadeiros lamentos líricos que retratam sua condição de amante perdido num mundo com o qual ele nunca se conformou. "Mojo Pin" expõe o uso da heroína como supletivo de um amor perdido ("Don’t wanna weep for you, I don’t wanna know/I’m blind and tortured, the white horses flow/The memories fire, the rhythms fall slow/Black beauty I love you so"). Buckley era usuário assumido de drogas pesadas, tendo, inclusive, "dividido" seringas com Courtney Love e outros figurões do começo dos anos 90. "Last Goodbye" é das mais linda canções de despedida, tema recorrente em suas letras: "This is our last goodbye/I hate to feel the love between us die/But it's over/Just hear this and then i'll go/You gave me/more to live for/More than you'll ever know").

Em maio de 1997, no auge de seu sucesso, preparando o lançamento de seu segundo disco, Buckley e um amigo vão até a beira do rio Mississipi beber e desabafar (ele não estava suportando as pressões da gravadora para que lançasse um disco com a fórmula do primeiro). No ápice de sua loucura, Jeff entra de roupa no rio. Um barco passa próximo de seu corpo, gerando uma grande onda, que faz com que ele afunde e desapareça na água. Alguns dias depois o cantor é encontrado morto.

Coincidência ou não, seu fim trágico (outra semelhança com seu pai) fora descrito como um pesadelo pelo cantor na letra de "So Real": "I couldn’t awake from the nightmare/It sucked me in and pulled me under/pulled me under/ Oh! That was so real".

A união de absurdas qualidades musicais e líricas com a vida desregrada e sua morte prematura fizeram de Jeff Buckley um mito dos anos 90. Infelizmente um mito muito pouco conhecido e apreciado.

Se sou fã? Claro que sou! Você também deveria ser...

Artistas Relacionados: Bob Dylan, Tim Buckley, Van Morrison, Nick Drake, Nico, Ryan Adams, Pete Yorn

Site: www.jeffbuckley.com

2.10.04

The Killers - Hot Fuss

1 Jenny Was a Friend of Mine (4:04)
2 Mr. Brightside (3:42)
3 Smile Like You Mean It (3:54)
4 Somebody Told Me (3:17)
5 All These Things That I've Done (5:01)
6 Andy, You're a Star (3:14)
7 On Top (4:18)
8 Change Your Mind (3:10)
9 Believe Me Natalie (5:06)
10 Midnight Show (4:02)
11 Everything Will Be Alright (5:45)

Não parece New Order? Sim, parece. Não parece Duran Duran? Sim, parece. Não parece The Cure? Sim, às vezes parece. As roupas não parecem com as dos caras do Interpol? Sim, caralho, parecem! E é exatamente pelo fato de parecer com todas essas coisas é que o The Killers é foda. Aliás, o próprio nome da banda é uma referência explícita ao New Order, que no clipe da música "Crystal" apresenta uma banda fictícia formada por modelos cujo nome era... sim, The Killers.

A banda surgiu quando Brandon Flowers, vocal e tecladista, foi mandado embora de sua antiga banda, Blush Response, porque se recusou a mudar com o resto da banda para Los Angeles (ele é de Las Vegas). Assistindo a um show do Oasis, Brandon percebeu que queria uma banda mais guitarrera, mais barulhenta. Foi quando leu um anúncio no jornal, publicado com a intenção de angariar comparsas para uma banda, citando como referência de som o próprio Oasis. O anunciante era David Keuning, guitarrista, que, em suas próprias palavras, se impressionou com Brandon por ser a única pessoa que respondeu ao anúncio que não parecia ser um cara completamente bizarro. David tinha parte de uma letra escrita, Brandon completou com o refrão, e logo saiu "Mr. Brisghtside", com certeza a melhor música do disco.

Depois de caçarem um baixista (Mark Stoermer) e um baterista (Ronnie Vanucci) começaram a fazer pequenos shows por Las Vegas e logo chamaram a atenção de um pequeno selo britânico, o Lizard King, que assinou com os meninotes. Daí pra capa da NME foi um pulo. Tá na cara porque a banda estourou primeiro na Inglaterra: são totalmente influenciados pelo som britânico do final dos anos 70, começo dos 80. Desde Joy Division até Oasis, passando por Smiths, New Order, The Cure, Echo & The Bunnymen e toda essa corja de coisa foda. Aliás, por que a maioria das bandas boas americanas primeiro explode na Inglaterra pra depois fazer sucesso nos EUA (bando de paga-pau)?

Apesar dessa aparente facilidade para chegar ao sucesso, a banda quase se fudeu por várias vezes. Por causa de um terremoto, o baterista perdeu seu kit durante a gravação de "Believe Me, Natalie", o estúdio pegou fogo durante a gravação de "Change Your Mind" e (caralho, quanta merda) a banda quase morreu num quase acidente de avião, antes de um show (o avião chegou a ficar em queda livre por alguns segundos).

Mas, para nossa alegria, esses meninos com maquiagem na cara (viva a androgenia) não morreram e conseguiram lançar esse que é um dos discos mais fodões do ano até agora. Se você gosta de guitarrera, tecladinhos de churascaria marcantes, dance-rock, viadices, anos 80, androgenia e coisas afins, não morra sem ouvir The Killers.

Artistas Relacionados: Hot Hot Heat, Franz Ferdinand, Interpol, theSTART, The Rapture, KillRadio, The Shins, Duran Duran, etc, etc, etc...