31.5.05

Não pare na pista!

A moda é o rock dançante. Sem dúvida a onda do momento são as bandinhas que misturam riffs colantes de guitarra com batidas que fazem todos mexerem seus esqueletos em qualquer pista ou festa. Por isso essa enxurrada de grupos (principalmente britânicos) que dissecam New Order e Gang of Four e tiram um som com uma roupagem nova e deixam uma impressão de "peraí, eu já ouvi essa batida antes!".

Na verdade, esse estouro começou lá atrás, com os primórdios do brit-pop, fim dos anos 80 e começo dos 90, com Stone Roses, Happy Mondays e Primal Scream, passando logo em sequência para a aparição do Pulp (que, apesar de ter rodado todo os anos 80, só conseguiu sucesso nos 90), Suede, Blur e Elastica. Todas essa bandas tinham em comum, além de serem inglesas, a mistura de guitarras barulhentas e distorcidas com elementos de dance music e melodias extremamente grudentas (uns mais e outros menos, mas com uma certa uniformidade).

Depois de um certo ostracismo, o rock dançante voltou a tona puxado pela nova leva de bandas indies que surgem como coelhos a cada dia, em consequência do sucesso inicial de Strokes e White Stripes, agora consolidado em Franz Ferdinand e Bloc Party.

E, para seu total deleite, esse blog preparou para você um set-list caprichado para ajudar a tornar suas festinhas mais embaladas, numa mistura de coisas novas e velhas, conhecidas e não tão conhecidas, sem qualquer pretensão:

1. LCD Soundsytem - Daft Punk is playing in my house
2. The Bravery - Honest Mistake
3. Tom Vek - C-C (You Set The Fire in Me)
4. Franz Ferdinand - Take me Out
5. Franz Ferninand - This Fire
6. Bloc Party - Banquet
7. The Killers - Somebody Told Me
8. The Rapture - I Need Your Love
9. The Futureheads - Decent Days and Nights
10. Hot Hot Heat - No, Not Now
11. Hot Hot Heat - Bandages
12. Human League - Don't You Want Me
13. Daft Punk - Technologic
14. Daft Punk - Around The World
15. New Order - Blue Monday
16. New Order - Bizarre Love Triangle
17. Chemical Brothers - Believe
18. New Order - Broken Promise
19. Pulp - Razzamatazz
20. Happy Mondays - Step on
21. Stone Roses - I Wanna Be Adored
22. Blur - Girls & Boys
23. EMF - Unbelievable
24. The Constantines - No Ecstasy
25. Soulwax - E-talking
26. Kigs Of Leon - The Bucket
27. Moloko - Fun For Me
28. Pulp - Disco 2000
29. David Bowie - Let's Dance
30. David Bowie - Modern Love
31. Elastica - Connection
32. Prodigy - Firestarter
33. Wire - Three Girl Rumba
34. Killing Joke - Eighties
35. Blondie - Call me
36. Gang of Four - Natural's Not In It
37. Mylo - Drop The Pressure
38. The Rasmus - In the Shadows
39. Talking Heads - Psycho Killer
Falta muita coisa, eu sei. Tem coisa muito conhecida, eu sei. Mas esse é só um pequeno guia pra tenta ajudar você a fazer uma festinha mais divertida! Enjoy it! (E acrescente mais coisas nos comentários!)

20.5.05

Cadê meu anti-ídolo?!

Conforme comentamos há alguns meses, o Luna acabou. O último show ocorreu, sem muito estardalhaço, em 28 de fevereiro último, no Bowery Ballroom (NY). A banda não comentou muito o assunto, mas, ao que parece, Dean Warehan simplesmente estava de saco cheio.
Que o Luna era uma banda fenomenal, a qual dominava a técnica de criar canções que mantinham um pé no alternativo e outro no mainstream, todo mundo sabe – e, quem não sabe, deve conseguir agora o último disco da banda, “Rendezvous”. Mas, além disso, o Luna fazia parte daquele restrito rol de bandas cuja missão é fazer música. Eles não ligavam para cabelinhos estilosos, declarações bombásticas, casos com supermodelos ou escândalos semanais por abuso de drogas.
Não acho que há nenhum problema grave em associar a imagem com a música. Velvet Undergound, os Sex Pistols e David Bowie são três dos inúmeros exemplos que conseguiram fazer com que o som e a imagem fossem facetas de uma mesma proposta artística. O problema surge quando um grande número de sujeitos acaba firmando-se mais na aparência, algo que, na minha opinião, é típico das bandas dos anos 2000.
Acho que, apesar de termos um bom número de boas bandas, tenho lá minhas dúvidas se essa postura hype não as ajudou a chegar onde chegaram e se isso não acaba atrapalhando uma substancial evolução delas. Não sei se elas seriam capazes de colocar essa imagem em risco em função da música. Os Strokes, para ficar no exemplo mais óbvio, lançaram um “Is This It”, parte 2, com o "Room on Fire".


Dean no último show do Luna


E é exatamente por esse motivo que determinadas bandas, como o Luna, o Mercury Rev ou o Wilco acabam tendo hoje uma importância maior do que tinham na época em que surgiram. Acredito que elas são as poucas que carregam aquela lição ensinada por muitas bandas que explodiram no começo dos anos 90 e que ligavam mais para mudar a história da música pop do que para cabelinhos engomadinhos.
Se pegarmos esses artistas, é fácil de notar que o caminho mais fácil não era o preferido. Nirvana partiu para o pesadíssimo (tematicamente, inclusive) “In Utero” após o palatável “Nevermind”. O R.E.M. optou pelo orquestral “Automatic for the People” após o sucesso de “Out of Time”. E nem é preciso comentar o caminho do Radiohead após o “Ok Computer”, certo?
Talvez o pessoal “novo rock" deva ser apresentado ao hermitão Jandek – aquele maluco que lança disco há 20 anos, fez uma única apresentação ao vivo, não tem fotos nem entrevistas. Sua música pode ser esquisitíssima, mas, ao menos, ele é a prova viva da possibilidade de fazer música sem essa ligação umbilical com uma imagem.

3.5.05

Cadê meu ídolo?

O mundo pop sempre foi feito de indíviduos carismáticos e talentosos com capacidade de cativar milhares de fanáticos por suas letras, vozes, beleza ou até perfomances no palco. São os clássicos caras-de-camiseta, cuja imagem foi estampada no peito, na parede, no caderno, na cueca etc... de várias gerações sedentas por uma figura que lhe guiasse em sua "rebeldia".

A lista é grande. Desde Elvis Presley, Bob Dylan, John Lennon e Paul McCartney, Mick Jagger e Keith Richards, Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Ozzy Osbourne, Robert Plant e Jimmy Page, Syd Barret, David Gilmour e Roger Waters, passando por Bob Marley, Raul Seixas, Sid Vicious e Johnny Rotten, Joe Strummer e Mick Jones, Robert Smith, Morrisey, Renato Russo, Cazuza, Axl Rose até chegar em Kurt Cobain (esquecendo-se, é claro, de vários outros) a garotada e a imprensa se acostumou com um volume intenso e constante de "ídolos de uma geração".

Polêmicas constantes, boatos infundados, milhares de fotos, músicas raras gravadas em shows, discos raros lançados à revelia da banda, histórias escabrosas, músicas de altíssima qualidade e abuso de drogas fizeram parte da biografia de todos os integrantes da lista acima. Talvez esses os grandes motivos para a agremiação de tantos fiéis seguidores, que se mantém e se renovam até os dias de hoje, não importanto o quão velhos ou mortos estão seus ídolos.

Porém uma constatação é óbvia: há onze anos essa lista está parada em Kurt Cobain. Desde que esse gênio maldito estourou seus miolos (ou o que sobrou deles) ninguém, eu disse NINGUÉM, mais conseguiu se estabelecer no imaginário dos fãs desse mundo pop. Vários novos "gênios" de 15 minutos surgiram, a imprensa tentou forjar vários novos ídolos, mas é fato notório que nenhum ser humano conseguiu cativar novamente a idolatria das pessoas como as pessoas aí de cima.

Nem Thom Yorke, nem Gavin Rossdale, nem Eddie Vedder, nem Evan Dando, nem Julian Casablancas, nem Ben Kweller, nem Jack White, nem Pete Doherty, nem Marcelo Camelo conseguiram sustentar a saga de serem ídolos de uma geração por muito tempo. Alguns deles ainda estão por aí no auge do sucesso, mas dificilmente irão entrar pr'aquele tão seleto rol.

Pode-se arriscar dizer que o que ocorre é uma mistura de insuficiência de talento para tal e falta de carisma aliado a uma efemerização da fama e do sucesso, provacada, sem dúvida alguma, pelo avanço do dinamismo da internet. Mas, sem dúvida, há um grande mistério não-resolvido: por que não existem mais ídolos como antigamente?