29.11.04

Deus!

Após tantos anos, não restam mais dúvidas: o rock costuma arregimentar pessoas realmente miseráveis. Tanto que suicídios, vício em drogas, alcoolismo e comportamentos violentos são extremamente comuns no meio. E, onde há esse tipo de sentimento, hora mais, hora menos, os sujeitos acabam tentando buscar algo mais "transcendental". E não há nada que represente melhor essa busca do que a religião.
Por isso, apesar de todo o senso comum apontar o caráter demoníaco do rock, este estilo acabou sendo responsável por algumas das mais profundas canções "religiosas" já compostas, superando, em muito, aquelas cantadas em bancos de Igrejas por padres desafinados, tias-avós e coroinhas.
O caso mais notório talvez seja o de Bob Dylan que, na virada dos anos 70 para os anos 80, lançou uma seqüência de álbuns realmente religiosos. Apesar da Bíblia ter servido, anteriormente, como inspiração para Dylan, as canções desta época trataram o tema de forma bem mais explícita, fato que afastou muitos fãs do cantor e o aproximou da comunidade religiosa. Mesmo com este fanatismo, Dylan acertou a mão em algumas canções, com destaque para "Every Grain of Sand", cuja inspiração no Evangelho o ajudou a criar versos como: "I gaze into the doorway of temptation's angry flame/And every time I pass that way I always hear my name/Then onward in my journey I come to understand/That every hair is numbered like every grain of sand.

And from your lips she drew the Hallelujah

O canadense Leonard Cohen também deu sua contribuição ao compor "Hallelujah", misturando cultura judaica, busca pela fé e boas doses de amor mundano. Tempos depois a canção foi regravada por Jeff Buckley, que, inspirado em uma versão de John Cale, trocou a sonoridade oitentista do original, carregado de teclados, por sua guitarra minimalista e sua voz passional. O resultado foi tão bom que Buckley deve ter garantido seu terreninho nos céus.
Mas o caso curioso mais curioso talvez seja o de Lou Reed, que, no terceiro álbum do Velvet Underground, gravou uma canção chamada... "Jesus"! Nessa belíssima balada, o compositor limita-se a pedir ajuda a Jesus para encontrar seu lugar no mundo. Assim, em meio à canções que falavam de travestis, das ruas de Nova York, de drogas pesadas e de violência, o compositor consegue encaixar, com perfeição, uma cançãozinha acústica cujo coro se limita a um "Jeeeesuss, Jeeeesuss..." quase choroso.
O que pode demonstrar que, no fundo, as drogas, a auto-destruição, a música ou um Deus são apenas caminhos para encontrar algum tipo de paz. Mas isto já é filosofia demais para um post só.

23.11.04

10 motivos para acabar com uma boa banda

A função do blog não é ficar dando notícias do mundo pop, mas essa vale a pena. Pra quem não sabe, os caras do Luna - uma dessa bandas fenomenais, lideradas pelo genial Dean Wareham, que não se preocupa em sair com supermodelos ou com o torso nú na capa da Rolling Stone - anunciaram o fim da banda. Dentre as dez justificativas dadas pela banda, uma merece destaque: "Isto é o que bandas fazem (com algumas raras exceções, como o R.E.M., Metallica e os Stones). Estas bandas, contudo, são corporações multibilionárias. Você não acaba com uma banda dessas a não ser que o governo force você".
Essa afirmação já me diz que a banda acabou antes de ficar decadente. E olha que ainda nem ouvi o disco novo...
As demais razões (também interessantes) vocês encontram no site da banda: http://www.fuzzywuzzy.com

Anos 80 - O Resgate

Qualquer um percebe que virou febre, de uns anos pra cá, o revival (forçado ou não) da moda, música, gírias e comportamentos em geral dos anos 80. É um tal de escutar Trem da Alegria, reverenciar o Chaves, cantarolar as músicas da Xuxa e do Serginho Mallandro, lembrar do Fofão, dos Thundercats e por aí vai (vide comunidades do Orkut e baladas como a Trash 80's).

Alguns dizem ser fruto de um suposto surto de decadência criativa. Outros, alegam resgate genuíno de coisas boas vividas naquela década. Vou arriscar uma tese diferente.

Perceba: esse resgate é levantado por pessoas que foram crianças nos anos 80, que ficaram adolescentes nos anos 90 e agora, em 2004, passam pela trágica crise transitória da fase infanto-juvenil para a vida adulta.

É conhecido da psicologia o retorno ao estado infantil, à "felicidade" dos tempos de infância, à proteção familiar e coisa e tal em momentos de severa crise e conflito interno. É como se fosse um meio de defesa, um casulo onde a pessoa se sente protegida e amparada dos males do mundo (pesado isso, não?). Ataulfo Alves já chorou essas pitangas em música: "Eu daria tudo que tivesse/ pra voltar aos dias de criança/ Eu não sei pra que que a gente cresce/ se não sai da gente essa lembrança". Curioso que Kurt Cobain também já expressou o mesmo (de modo muito mais, digamos, visceral): "Throw down your umbilical noose/so i can climb right back".

Por outro lado, como já disse o mestre Goethe, há uma expressão genuína do infantil cujo sentido só se constitui em momento posterior à infância. Assim, não é de se admirar que essas coisas que a gente venerava na infância voltem a ter um sentido tão forte, após passado aquilo período de negação total da pré-adolescência e adolescência (seja sincero(a): você já vestiu uma camiseta do Iron Maiden ou do Sex Pistols e achou tudo ridículo, infantil e babaca).

Em outras palavras, junto com essa "necessidade" de volta à infância como forma de proteção, há um evidente movimento de negação da censura em relação aqueles gostos "peculiares" de criança que permaneceram negados, xingados e escondidos durante aqueles anos de auto-afirmação pela negação da infância, típicos da adolescência.

Dessa forma, um bando de coisa "trash" que você ouvia, assistia, comprava, comia, falava, vestia volta a ser legal, volta a ser fantástico, volta a ser "da hora", só pra usar uma gíria da época. E não só as coisas dos anos 80, mas as do começo dos 90 também.

Esse revival, então, não é um simples movimento oportunista ou um resgate forçado em virtude de crise criativa (pelo menos pra mim e, creio, pra maioria). Pelo contrário, é uma consequência natural do momento de vida em que se encontram os pobres coitados da geração 1980-1985 (pensa bem, quando você nasceu o Brasil ainda tava ditadura, o movimento hippie já era história, o comunismo já era lenda, os punks já tinham se vendido, a disco-music já tinha falido e o U2 tava começando!!!! Quanta merda!!!)

Então, foda-se quem tira sarro de você que gosta de Trem da Alegria, Balão Mágico, Ursinho Blau-Blau, Clube da Criança, Serginho Mallandro, Angélica, César Filho, Latino, Os Morenos, Copacabana Beat, Luan & Vanessa ("o seu nome eu escreviiii"), Angélica, Power Rangers, Jovens Guerreiros Tatuados de Beverly Hills, Mc Hammer ("can't touch this"), 4 Non Blondies, "Always" do Bon Jovi, a música do "Guarda-Costas" da Whitney Houston ("And iiiiiiiii"), Armação Ilimitada, Chaves, Chapolin, Cavalo de Fogo, Gato Felix, Atari 2.600, Fofão, a loira que saía do espelho, a boneca da Xuxa que tinha o diabo dentro.

Pelo menos, com esse texto, eu pude dar um guia de desculpas esfarrapadas que você pode usar quando te chamarem de tosco. Mas acreditem! É sério!

16.11.04

Robert Johnson - O Rei do Delta do Mississipi


Pacto com o demônio. Morte misteriosa aos 27 anos. Casos amorosos rápidos. Canções falando de alcoolismo e violência doméstica. Influente ao extremo. De quem estamos falando? Rolling Stones? Led Zeppelin? Black Sabbath? Não. O sujeito que responsável por toda essa postura “rock and roll” morreu três décadas antes de qualquer um desses grupos e deixou um legado muito maior. Trata-se de Robert Johnson que, apesar de possuir apenas 29 canções gravadas, criou um estilo único no blues e, consequentemente, no rock.

Nascido no Delta do Mississipi em 1911, entrou em contato com a gaita, o violão e o blues. Após perder a esposa, que tinha apenas 16 anos, e assistir a performance do bluesman Son House, Johnson resolveu que a vida no Mississipi como catador de algodão era pouco interessante. Assim, decidiu se tornar um bluesman, iniciando sua carreira nas casas de shows conhecidas como jook-joints.

Nesse ponto surge o mito Robert Johnson: no começo de sua carreira musical, Johnson não era diferente dos inúmeros bluesmen que afloravam no Mississipi. Entretanto, em pouquíssimo tempo, o rapaz desenvolveu uma técnica inigualável, o que levou ao nascimento da lenda de que essa habilidade fora ganha após um pacto com o diabo. A habilidade do sujeito era tamanha que, ao ouvir Johnson pela primeira vez, Keith Richards perguntou a Brian Jones quem era o outro guitarrista que estava na gravação. Já os mais céticos (e chatos) dizem que boa parte da habilidade de Johnson derivava de seus longos dedos, qualidadade que ajudaria, anos mais tarde, Jimi Hendrix.

Mas o próprio Johnson colaborou para a perpetuação da história em canções como Preachin´ Blues (Up Jumped the Devil), Cross Road Blues (dizem que o pacto foi selado em uma encruzilhada), Hell Hound on my Tale e Me and Satan Blues, com os singelos versos "Me and the devil, was walkin' side by side/Me and the devil, ooh, was walkin' side by side/And I'm goin' to beat my woman, until I get satisfied".

Mas nem só de satanismo e violência é feita a obra de Johnson. Como um genuíno bluesman, ele cantou sobre as dores do amor. A canção Drunken Hearted Man mistura culpa e alcoolismo com desilusão amorosa: "Now, I'm the drunken hearted man and sin was the cause of it all/I'm a drunken hearted man, and sin was the cause of it all/And the day that you get weak for no-good women, that's the day that you bound to fall". Além desta, vale citar o clássico Love in Vain, na qual um sujeito iletrado como Johnson transforma a cena de uma mulher indo embora de trem em algo extremamente poético: "When the train, it left the station, with two lights on behind/When the train, it left the station, with two lights on behind/Well, the blue light was my blues, and the red light was my mind/All my love's in vain".

Com tantas boas canções, Johnson foi convocado, em 1936, por um selo que lançava Race Records, discos destinados ao público negro, para a gravação de algumas canções. Todas foram gravadas em duas sessões em um quarto de hotel em pouquíssimo tempo, já que a idéia das gravadoras era extrair todo o repertório dos músicos para selecionar uma ou outra canção que seria lançada na forma de um compacto. Após a gravação, Johnson continuou a tocar em jook-joints, já que pouquíssimos negros conseguiam ganhar dinheiro com seus álbuns.

Em 1938, Jonh Hammond, um dos sujeitos mais importantes da cena do blues-jazz-folk americana (ele foi o responsável por encontrar talentos como Bessie Smith, Billie Holiday, Bob Dylan e Aretha Franklin), organizou o festival “From Spirituals to Swing”, no Carnegie Hall, convidando Johnson para o concerto. Contudo, após o convite, Hammond constatou que o músico havia falecido.

Segundo diz a lenda, o fato ocorreu quando o tinhoso resolveu cobrar sua dívida, tendo o bluesman morrido de joelhos e uivando para a Lua. Já os historiadores (também chatos) dizem que o músico fora envenenado por um marido ciumento, já que ele, além de bluesman, era um grande “conquistador”.

Johnson então caiu no ostracismo, sendo relembrado somente nos anos 60 por artistas como Rolling Stones, Animals, Yardbirds, John Mayal e Eric Clapton, os quais foram profundamente influenciados pelo blues americano.

E desde então Robert Johnson é tido como um dos maiores compositores norte-americanos, tanto em função de seu estilo seminal, quando por toda a lenda existente ao redor de seu nome.

O que ouvir?
"Robert Johnson –- The Complete Recordings"” -– Caixa com todas as 29 faixas do cantor. Apesar da qualidade ruim para os padrões atuais, é a melhor fonte para ouvir os originais do cantor.

Texto de Daniel Chiaretti.

10.11.04

Meu ouvido não é penico!

Assistindo ao acústico dos Engenheiros do Hawaii este final de semana retornei a uma constatação terrível (que julgo ser geral): o péssimo nível dos letristas das bandas de rock do país, falando aqui das bandas mais expostas na mídia.

Foi um sem-número de frases e rimas que me deixaram perplexos, coisas que buscam a poesia previsível, trocadilhos manjados e jogos de palavras babacas e sem qualquer correspondência com a expressão poética pretendida pelo “mestre” Humberto Gessinger.

Só para ilustrar minha raiva, observem:

"Por que será?/ Me diz, por que será/ que a gente cruza o rio atrás de água?"” (10.000 destinos)

"Ela para e fica ali parada/ Olha assim para o nada, Paraná/ Fica parecida, Paraguaia/ Pára-raios em dia de sol para mim/ Prenda minha parabólica, princesinha parabólica/ O pecado mora ao lado/ O paraíso/ paira no ar/ Pecados no paraíso” ..... “Paralelas que se cruzam em Belém do Pará/ Longe, longe, longe, aqui do lado/ Paradoxo nada nos separa/ Eu paro e fico aqui parado"” (Parabólica)

"O nosso amor é medieval/ É como uma pedra em um vidro de catedral"” (Sopa de letrinhas)

"Surfando Karmas & DNA/ não quero ser o que eu não sou/ eu não sou maior que o mar" (Surfando Karmas & DNA)

Sinceramente, não é necessário nem ser irônico. Dá uma olhada nessas letras. É capaz dele alegar até que opta pela poesia surreal! Surreal o caralho! Isso é um apanhado de metáforas ridículas, rimas muito mal elaboradas, paradoxos banais e assim vai.

O grande problema não é tanto escrever mal. Ninguém está exigindo que todas as bandas tenha um poeta por trás das guitarras. A grande questão é a postura de poeta, o menosprezo pela inteligência do público e a arrogância desses pretensos grandes letristas.

O Jota Quest é outro terror no quesito letras supostamente líricas. Vejamos:

"Eu quero ficar só/ mas comigo só eu não consigo/ Eu quero ficar junto/ mas sozinho só não é possível"” (Amor maior)

"Voe por todo o mar e volte aqui/ pro meu peito" (O vento)

"Pra que tanto telefonema/ se o homem inventou o avião/ pra você chegar mais rápido/ ao meu coração...A fome de amar é real/ não se traduz em fios/ Meu ouvido não ama/ apenas ouve os seus reclames"” (Tele-fome)

O que falar então do Ira! ("Você é meu sol/ um metro e sessenta e cinco de sol"”), do Capital Inicial ("Parei de pensar e comecei a sentir/ Nada como um dia após dia/ uma noite, um mês"), CPM22 ("Tanto faz o que vai rolar/ mas nunca espero voltar lá/Sempre tento me esconder/ para deixar de te ver") e Charlie Brown Jr. ("Acabei de ver mais um cachorro na estrada/ dor de cabeça, garganta ressecada")?

Poderia juntar trocentos posts comentando essas letras patéticas e, na sua maioria, feita às pressas só para finalizar e lançar o CD.

É claro que os grandes letristas são e sempre foram poucos, mas um mínimo de bom-senso e competência é o básico para poder se chamar alguém de artista e não mero tocador de músicas e alimentador da indústria fonográfica.

Mas o negócio não tem só o lado ruim. Vários artistas ainda salvam o nosso cancioneiro do rock, com letras bem sacadas, seja pelo lado lírico ou pelo cômico e non-sense. Grandes exemplos são Los Hermanos, Lobão, Bidê ou Balde, Gram, o extinto Video Hits, Nando Reis (com algumas ressalvas), o próprio Réu e Condenado comentado no post anterior, e vários outros.

Com certeza o sucesso dessas bandas de péssimos letristas está ligado ao desprezo do público em geral pelo texto, fixando seu gosto apenas no “embalo” da música, não dando a mínima para o que o vocalista está falando (ou berrando, ou vomitando). Azar da nossa cultura.

8.11.04

Eu sou tão mau!!!!!!

Isso vai mudar a vida de vocês. Isso tem que mudar a vida de vocês. A melhor banda que estava por existir acaba de existir e lançar seu primeiro CD. Só posso dizer uma coisa: GENIAIS! Escutem isso, comprem isso, se viciem nisso, propaguem isso, AMEM ISSO, VENEREM ISSO. Com vocês, RÉU E CONDENADO:

"Eu sou tão mau, que eu teria dois carros num país comunista
Eu sou tão mau, que o meu hobby em casa é brincar de legista
E você ainda quer ser o meu amor

você não entende que o caos e a danação
não podem em paz coexistir com a paixão
você me prende numa bolha de sabão (tchumblec tchumblim)
e eu me solto promovendo a destruição

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu joguei seu voodoo num frasco de arnica
eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu vesti Hitler de Lilica Ripilica
e você ainda quer ser o meu amor

você me empresta o livro que ganhou no natal (do papai noel)
e eu picoto ele em mil pra fazer neve
da Agroquimia sei que Fosquima é o sal
pra engordar e dar saúde ele serve

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu faço até piada com produtos agrícolas
eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu tenho o penteado dos Twisted Sisters
e você ainda quer ser o meu amor

você me ensina a disciplina oriental
e quando vira as costas corro e picho o muro
bati seu carro até dar perda total
e então gastei com pinga a grana do seguro

eu sou tão mau, eu sou tão mau
que eu pintei o inferno com tinta suvinil azul
eu sou tão mau, eu sou tão mau
ifz as palavras cruzadas no seu CD do Jethro Tull
e você ainda quer ser o meu amor!"

Vá numa banca mais próxima e compre junto com a revista OutraCoisa. Isso não é propaganda. É lavagem cerebral! COMPRE-COMPRE!

5.11.04

Acho que já ouvi isso! (Parte 2)

Continuando com o tema das músicas que se parecem com outras, aí vai nova listinha (largue de ser vagabundo, pegue no Kazaa e confira):

- "Todo carnaval tem seu fim" do Loser Manos é bem parecida com "Getchoo", do Weezer;

- "O mundo dá voltas" do CPM22 (credo!) é simplesmente a música "Bullion", do Millencollin;

- O Charlie Brown Jr. aumenta sua lista com três coincidências interessantes:

"Zóio de Lula" é igual ao Goldfinger em "My girlfriend's shower sucks"
"Proibida pra mim" é, na verdade, "Mr. Smile" do Mustard Plug
"Um lugar ao sol" lembra muito "Crush us all" da banda Seaweed

- Agora a seção Oasis:
"Cigarettes & Alcohol" é idêntica a "Get it on", do T-Rex;
"Morning Glory" tem o mesmo riff de "The One I Love", do R.E.M

- Parece que o Frejat quer superar Renato Russo no quesito canastrão-mor. Observe:

Frejat - Segredos : "Procuro um amor que seja bom pra mim/Vou procurar eu vou até o fim e eu vou tratá-la bem/Pra que ela não tenha medo quando começar a conhecer os meus segredos"

Neil Young - "Lookin' for a love/Lookin' for a love that's right for me/I don't know how long it's gonna be/But I hope I treat her kind and don't mess with her mind when she starts to see the darker side of me"

Incrível não?

- O Audioslave também tem suas complicações:
"Cochise" é tremendamente igual a "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin
"Show me how to live" é roubada de "Sail Away", do Deep Purple (realmente igual)

-"Mr. Brightside", do Killers, que tem a introdução idêntica a "Camila, Camila", do Nenhum de Nós (não, não estou dizendo que foi plágio...);

- A Anastacia (quem?) sugou, copiou, roubou, plagiou "Lucky Man", do The Verve, em "Cowboys and Kisses" (olha o nome da música!);

- E Britney Spears, ou melhor, algum dos que faz as músicas dela, usou sem dó a batida de "In the Closet", do mestre Michael Jackson, pra fazer o hino sexy "I'm a slave for you". Copiando pedófilo? Bizarro hein... Aliás, o nome da música do Michael é bem interessante também...

Quem lembrar de mais algum faisfavor de me avisar!
Próximo texto é uma contribuição do Daniel Chiaretti. Se quizer mandar seu texto converse comigo pelo e-mail. Sugestões também são muito bem vindas. NÃO FIQUEM TÃO QUIETOS!

1.11.04

Acho que já ouvi isso!

Não existe uma definição em lei do que seja plágio musical (não que eu conheça). Existe um conceito assentado na prática que é plágio a cópia de, no mínimo, 8 compassos de uma canção, algo absolutamente técnico e de difícil apuração. Mas no dia-a-dia é fácil de se ouvir uma música que "lembre" outra, mesmo que vagamente, gerando a eterna discussão entre plágio e influência musical (incluindo-se aqui também a discussão sobre a criptoamnésia, sustentada na terapia regressiva).

Sinceramente eu não vou ficar discutindo conceitos jurídicos sobre o assunto, nem vou defender ou recriminar essas coisas que "lembram" outras, mas, realmente, é algo interessante e engraçado apontar alguns casos que envolvam músicas bastante conhecidas e episódios gritantes de apropriação sem o menor escrúpulo de letras, melodias, riffs ou o que for.

Um caso bem famoso é o de "My Sweet Lord" do George Harrison, que é muito, mas muito parecida com a música "He’s So Fine", do grupo The Chiffons. O negócio foi tão na cara que o ex-beatle foi condenado pela Justiça, apesar de sempre ter negado sua má-fé (plágio acidental?).

Na cara também o plágio de Rod Stewart, na canção "Do ya think i’m sexy?" em relação a "Taj Mahal" de Jorge Ben . O caso terminou com Rod Stewart, espertão, doando os direitos da música ao UNICEF.

Outro exemplo é o da música "Surfin’ USA" do Beach Boys. A melodia foi nitidamente roubada de "Sweet Little Sixteen", de Chuck Berry, a maior influência dos rockeiros da época.


The Doors também já fez disso: "Hello, I love you" tem uma semelhança interessante com "All day and all of the night", do Kinks. Mas não é pra tanto.

No Brasil, com certeza o copiador-mor (ou que tem mais "lembranças") é Renato Russo. A lista de músicas dele que "parecem" com outras é grande. O primeiro verso de "Será" é cópia assumida de "Say Hello Wave Goodbye", do Soft Cell ( é só comparar: "Take your hands off me/ I don't belong to you"). A letra e o título de "A canção do senhor da guerra" são chupados de "Masters of War", de Bob Dylan (apesar de não ser uma cópia grosseira, a temática e as referências são totalmente iguais, o que é de se estranhar, sendo Bob Dylan um dos ídolos de Russo). Continuando a lista de "influências" de Renato Russo, temos a música "Que país é esse?" que consegue, ao mesmo tempo, parecer "I don’t care" e "We want the airwaves", do Ramones, grande influência do cantor. Parece até implicância minha, mas tem mais um caso ainda. A música "Ainda é cedo" é uma mistura de "A Forest", do The Cure, com "A means to an end", do Joy Division. O espertinho ainda tentou se justificar em "Quase sem querer": "Sei que às vezes uso / Palavras repetidas / Mas quais são as palavras que nunca são ditas?". Sei, conta mais.

Frejat também ofereceu o ar de sua graça na carreira solo. A letra da música "Amor pra recomeçar" é simplesmente uma adaptação tosca do poema "Desejos" de Vitor Hugo. Confesso que não sei se ele creditou o uso no disco, mas desconfio seriamente que não. Mas um caso confirmadíssimo é o da música "Por Você" (argh!), do Barão Vermelho. Dá uma escutada em "If not for you" do mestre Bob Dylan (de novo ele, coitado!) e me fala depois. Ninguém mando Bob Dylan falar que sem o plágio não existiria rock.

Outra banda internacional que tem dois casos interessantes é o Led Zeppelin. Um dos maiores sucessos da banda, "Whole Lotta Love" parece bastante (bastante mesmo) com "You need love", de Muddy Waters. Mas o que choca muita gente é o fato de "Stairway to Heaven", o clássico dos clássicos, ser bastante "influenciada" por "Taurus", da banda Spirit, um grupo obscuro na época, mas admirado por Jimmy Page, o criador do riff clássico. Justiça seja feita, o Led Zeppelin também sofreu com essa "lembrança" na música "Still of the Night", na qual o Whitesnake simplesmente copiou a melodia do primeiro verso de "Black Dog".

Tem mais? Mas é claro! Antes de acabar com mitos dos indies (HÁ-HÁ-HÁ!) eu vou provocar os fãs do Metallica (será que algum fã do Metallica lê isso?). Desculpem meus queridos metaleiros do mal, mas "Enter Sandman" não é uma coisa tão fantástica assim. Por favor, ouçam "Tapping into the emotional void", da banda Excel (procura no Kazaa que você acha, vai!), depois comenta aí.

Antes dos indies (calma, calma) vou avisando que o Charlie Brown Jr. simplesmente pegou uma música do Black Train Jack ("Leap frog") e falou que era sua ("Hoje eu acordei feliz"). O negócio é realmente grave. A mesma coisa que o Supla fez com "Charada Brasileiro", chupada na cara de "White Power", do Screwdriver (o guitarrista do Holly Tree achou q ninguém fosse perceber...).

Agora os indies e alternativos em geral. Vamos por partes. O gênio Kurt Cobain furtou na cara dura o riff de "Eighties", do Killing Joke e fez "Come as you are" (ele mesmo confessou). O Foo Fighters, de "Você-Sabe-Quem", resolveu "homenagear" (que bonito!) o Blondie em "The One", apropriando-se sem dó de "Call me", da banda da loira. O bom moço Rivers Cuomo, do Weezer, não é tão bonzinho assim. Ele tem três momentos de "lembranças" (criptoamnésia?) interessantes: 1) "Undone" é bem parecidinha com "I Bleed" do Pixies (coisa feia! Indie copiando indie!); 2) "Hash Pipe" tem sua melodia furtada de "Kiss me Deadly", de Lita Ford; 3) "Dope Nose" é curiosamente igual a "All right now", do Free (esse é o mais na cara). Calma que tem mais dois.
O maior hit do Elastica ("Connection"), na verdade, é uma música do Wire ("Three Girl Rumba"). É de assustar. Finalmente, os Strokes cometeram um pecado em "Last Nite": ouça "American Girl", do Tom Petty e veja se eu to exagerando.

Casos curiosos, muito curiosos. Só pra não falarem que eu também to plagiando, esse texto teve base, além da minha própria memória (fantástica), vários sites da Internet que trataram do mesmo assunto, inclusive (sim, eu assumo!) a coluna do Lúcio Ribeiro, que já teve esse tema uma vez.