16.11.04

Robert Johnson - O Rei do Delta do Mississipi


Pacto com o demônio. Morte misteriosa aos 27 anos. Casos amorosos rápidos. Canções falando de alcoolismo e violência doméstica. Influente ao extremo. De quem estamos falando? Rolling Stones? Led Zeppelin? Black Sabbath? Não. O sujeito que responsável por toda essa postura “rock and roll” morreu três décadas antes de qualquer um desses grupos e deixou um legado muito maior. Trata-se de Robert Johnson que, apesar de possuir apenas 29 canções gravadas, criou um estilo único no blues e, consequentemente, no rock.

Nascido no Delta do Mississipi em 1911, entrou em contato com a gaita, o violão e o blues. Após perder a esposa, que tinha apenas 16 anos, e assistir a performance do bluesman Son House, Johnson resolveu que a vida no Mississipi como catador de algodão era pouco interessante. Assim, decidiu se tornar um bluesman, iniciando sua carreira nas casas de shows conhecidas como jook-joints.

Nesse ponto surge o mito Robert Johnson: no começo de sua carreira musical, Johnson não era diferente dos inúmeros bluesmen que afloravam no Mississipi. Entretanto, em pouquíssimo tempo, o rapaz desenvolveu uma técnica inigualável, o que levou ao nascimento da lenda de que essa habilidade fora ganha após um pacto com o diabo. A habilidade do sujeito era tamanha que, ao ouvir Johnson pela primeira vez, Keith Richards perguntou a Brian Jones quem era o outro guitarrista que estava na gravação. Já os mais céticos (e chatos) dizem que boa parte da habilidade de Johnson derivava de seus longos dedos, qualidadade que ajudaria, anos mais tarde, Jimi Hendrix.

Mas o próprio Johnson colaborou para a perpetuação da história em canções como Preachin´ Blues (Up Jumped the Devil), Cross Road Blues (dizem que o pacto foi selado em uma encruzilhada), Hell Hound on my Tale e Me and Satan Blues, com os singelos versos "Me and the devil, was walkin' side by side/Me and the devil, ooh, was walkin' side by side/And I'm goin' to beat my woman, until I get satisfied".

Mas nem só de satanismo e violência é feita a obra de Johnson. Como um genuíno bluesman, ele cantou sobre as dores do amor. A canção Drunken Hearted Man mistura culpa e alcoolismo com desilusão amorosa: "Now, I'm the drunken hearted man and sin was the cause of it all/I'm a drunken hearted man, and sin was the cause of it all/And the day that you get weak for no-good women, that's the day that you bound to fall". Além desta, vale citar o clássico Love in Vain, na qual um sujeito iletrado como Johnson transforma a cena de uma mulher indo embora de trem em algo extremamente poético: "When the train, it left the station, with two lights on behind/When the train, it left the station, with two lights on behind/Well, the blue light was my blues, and the red light was my mind/All my love's in vain".

Com tantas boas canções, Johnson foi convocado, em 1936, por um selo que lançava Race Records, discos destinados ao público negro, para a gravação de algumas canções. Todas foram gravadas em duas sessões em um quarto de hotel em pouquíssimo tempo, já que a idéia das gravadoras era extrair todo o repertório dos músicos para selecionar uma ou outra canção que seria lançada na forma de um compacto. Após a gravação, Johnson continuou a tocar em jook-joints, já que pouquíssimos negros conseguiam ganhar dinheiro com seus álbuns.

Em 1938, Jonh Hammond, um dos sujeitos mais importantes da cena do blues-jazz-folk americana (ele foi o responsável por encontrar talentos como Bessie Smith, Billie Holiday, Bob Dylan e Aretha Franklin), organizou o festival “From Spirituals to Swing”, no Carnegie Hall, convidando Johnson para o concerto. Contudo, após o convite, Hammond constatou que o músico havia falecido.

Segundo diz a lenda, o fato ocorreu quando o tinhoso resolveu cobrar sua dívida, tendo o bluesman morrido de joelhos e uivando para a Lua. Já os historiadores (também chatos) dizem que o músico fora envenenado por um marido ciumento, já que ele, além de bluesman, era um grande “conquistador”.

Johnson então caiu no ostracismo, sendo relembrado somente nos anos 60 por artistas como Rolling Stones, Animals, Yardbirds, John Mayal e Eric Clapton, os quais foram profundamente influenciados pelo blues americano.

E desde então Robert Johnson é tido como um dos maiores compositores norte-americanos, tanto em função de seu estilo seminal, quando por toda a lenda existente ao redor de seu nome.

O que ouvir?
"Robert Johnson –- The Complete Recordings"” -– Caixa com todas as 29 faixas do cantor. Apesar da qualidade ruim para os padrões atuais, é a melhor fonte para ouvir os originais do cantor.

Texto de Daniel Chiaretti.

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