29.4.09

Crise?

A internet matou o CD, certo? Bom, de fato, se levarmos em conta a veriginosa queda da venda de CDs, bem como o progressivo fechamento de lojas físicas, parece evidente que essa mídia é coisa do passado.
Todavia, visitando a ótima InSound, não parece que todo mundo parou de comprar discos. Checando a lista de lançamentos, encontramos uma infinidade de discos novos (inclusive em vinil) de artistas como Yeah Yeah Yeahs, Deerhunter, Grizzly Bear etc. Mas não é isso que tem que chamado a atenção.
Olhando as listas de mais vendidos no site, bem como de lançamentos, vemos uma infinidade de edições comemorativas: há uma reedição remasterizada de toda a obra dos Vaselines, há reedições dos cults Townes Van Zandt e Big Star, reedição de toda a obra do Wilco em vinil, singles dos Ramones e Replacements não lançados há décadas etc.
Isso significa que a indústria está à salvo? Claro que não. A salvação definitivamente não virá com essas edições, voltadas a colecionadores. Isso só serve para provar, mais uma vez, que os discos físicos ainda estão vivos sim e dando dinheiro suficiente para justificar esses lançamentos.

27.4.09

disquinho favorito: 69 Love Songs (The Magnetic Fields)

Demorei muito tempo para ouvir esse álbum de 1999 com a atenção devida. Uma pena, pois se trata de uma bela obra, no melhor estilo do indie rock dos anos 90.
Como o próprio nome diz, o disco é composto por 69 canções sobre amor, abrangendo uma gama enorme de estilos: folk, rock, eletrônico, country etc. São todas compostas de melodias e harmonias razoavelmente simples, mas muito catch. As letras são diretas e, justamente por isso, atingem o ouvindo de forma direta.
Enfim, é um estilo de música que faz falta hoje em dia: autoral, com boas influências e altamente pop.


The Book Of Love - The Magnetic Fields


All My Little Words - Magnetic Fields


Reno Dakota - The Magnetic Fields

21.4.09

Literatura

Morreu no último dia 19 de abril o escritor J.G. Ballard, autor de obras como Crash. Mas quem acompanha um pouco da história da música pop sabe que o autor exerceu uma enorme influência em diversas bandas. Ian Curtis, líder do Joy Division, deve muito de sua sombria visão de mundo a este autor.
E este é só um dos exemplos da influência da literatura na música. Creio eu que esta mistura remonte aos anos 60, quando o pessoal do folk começou a intelectualizar a música pop, politizando-a. Aí veio o Bob Dylan que, influenciado por autores beat como Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouac, passou a escrever letras cheias de simbolismo e surrealismo.
Mas creio que o ápice dessa intelectualização tenha sido mesmo o pós-punk inaugurado por sujeitos letrados como Mark E. Smith, do Fall, Howard Devoto, dos Buzzcocks e do Magazine, e pelo próprio Ian Curtis. Essas bandas sempre tiveram objetivos estéticos que iam além do rock'n'roll: queriam que as canções fossem pequenas obras de arte expressionistas, impressionistas, realistas etc.
Todavia, as melhores bandas que beberam dessa fonte não se esqueceram que estavam fazendo música pop. O Joy Division, mesmo em uma canção como Interzone (lugar citado na obra "Almoço Nu", de Burroughs) ou Atrocity Exhibition (título de uma obra de J.G. Ballard), são relativamente pops apesar do clima claustrofóbicos e as letras soturnas ("You'll see the horrors of a faraway place,/Meet the architects of law face to face./See mass murder on a scale you've never seen,/And all the ones who try hard to succeed").
Deixam todos então uma importante lição: é muito importante para a música pop buscar inspiração em outras formas de arte. Mas não dá para levar a coisa a sério a ponto do sujeito esquecer que está fazendo... música pop!

17.4.09

Wry - She Science


Nada mudou. É o que garante Mario Bross aos fãs logo no início de She Science, o “disco do retorno” do Wry. E de fato, apesar dos 7 anos na Inglaterra, a essência da banda não mudou. Talvez pisando mais nos pedais do shoegazing britânico e deixando um pouco para trás o indie rock americano, mas sempre tentando balancear as duas grandes influências que sempre guiaram a trajetória desta, que em minha mísera e parcial opinião, é a maior das bandas independentes que já surgiram por aqui.

Confesso que o disco não me pegou de primeira (como os bons discos normalmente não me pegam). Torci e ainda não coloquei de volta no lugar o nariz em relação às músicas em português. Não que tenha carteirinha do clube dos puristas, mas sou daqueles que acha que esse tipo de som fica mais agradável aos ouvidos na língua da rainha. De toda forma, vale como uma bela provocação. Algumas delas, como “Lábios Trêmulos” e a belíssima "Longitude", lembram-me o grande e finado Astromato, das únicas que conseguiu enfiar o português no indie rock com maestria.

Mas é “Disorder”, a terceira faixa, que sintetiza o espírito da banda: uma salada bem temperada de Dinossaur Jr. com Ride e pitadas generosas da memorável safra indie brasileira do começo dos anos 90. Turminha esta, aliás, que merecerá um disco-homenagem de seus pupilos ainda neste ano, certamente dos mais aguardados de 2009. E o olha que Mario Bross ainda promete lançar outro em julho, The Long-Term Memory of an Experience, que foi gravado simultaneamente e seria o complemento de She Science.

Outro destaque são as letras, que deixam um pouco de lado os temas abstratos dos trabalhos anteriores e se revelam um quase-diário de Bross, baleado pela mistura de solidão, distância e, ao que parece, uma desilusão amorosa. Nada que pretenda revelar um novo mestre da poesia brasileira, tampouco boçal e preguiçoso como a maioria das bandas que por aqui se lançam.

Fracassados, dizem alguns. Corajosos, afirmam outros. Todos tentam explicar o porquê do retorno ao Brasil, coisa que pra mim pouco ou nada interessa. Analisando friamente, a volta do Wry tem um efeito direto e extremamente positivo nessa combalida cena independente que temos hoje. Se já se podia dizer isso antes, agora com maior propriedade: é uma das únicas - senão a única - que literalmente não depende. Não depende de cena, não depende de patrocínio público, não depende de panela, não depende de gravadora, não depende de jornalista amigo e não depende de mercado hypado. Tem seu público cativo e faz os discos para ele.

Sem problemas se não agradarem o pessoal daqui. Kevin Shields, do My Bloody Valentine, põe a mão no fogo por eles.

Ouça o disco inteiro no MySpace da banda: http://www.myspace.com/wrymusic

Wry She Science Myspace indie brasileiro

Sintomático

Capa da NME deste mês:

Capa da NME de novembro de 1989:



A situação é crítica. Alguém tem uma banda nova aí pra me indicar? Acho que vou ouvir o "fantástico" disco novo do U2. Get on your boots, boots, boots...

Stone Roses 20 anos capa NME never mind the pollocks

16.4.09

Mercado Fonográfico Brasileiro

Via Folha Online de 16/04/2009.

Dados importantes para a análise do mercado brasileiro. Apesar do grande crescimento em relação a 2007, o formato digital ainda corresponde a fatia muito tímida do total de vendas, comparando-se a países desenvolvidos.

Surpreendendo a muitos, o peso dos artistas internacionais nessa balança é baixo se comparado ao investimento pesado em propaganda, jabá e afins, principalmente na televisão e nas rádios pop.

Por fim, novamente contrariando os lugares-comuns do nosso mercado, com exceção de Ivete Sangalo os campões de vendas não são onipresentes em qualquer tipo de mídia que você freqüente, mas sim representantes de grandes nichos musicais (sertanejo, religioso e "MPB-cabeça").



mercado musical brasileiro campeões de vendas 2008 música digital

14.4.09

A "volta" do Electro

Já saiu por aí "Talk to Me", o primeiro single do novo disco da Peaches, "I Feel Cream", que será lançado agora em 5 de maio. Cheio de perucas malucas, muito electrorock e aquela coisa pegação da Peaches de sempre. Não chega a ser um hit nos moldes de "Slippery Dick", mas vale a pena prestar atenção nesse disco e na "volta" do Electro em 2009, incluindo novo disco do Tiga e seu fantástico clipe para "Shoes".





11.4.09

O messias


Há quinze anos Kurt Cobain morreu. E há quinze anos a música pop espera uma nova redenção. Há sempre um novo Kurt Cobain quase aparecendo quando alguma nova banda toca de forma simples, barulhenta e sincera. Mas estamos enganados: é sempre um falso messias.
Assim, aproveito esse feriado de Páscoa para indagar se devemos ter alguma esperança de salvação do rock. Para mim a resposta é simples: não, não há mais espaço para um novo Kurt Cobain.
Em primeiro lugar, o que foi o Nirvana? Ou, mais propriamente, o que foi o grunge? Vejo o movimento como a mais bem sucedida integração do genuíno rock'n'roll ao mainstream. Foi quando o punk rock realmente chegou às massas. Afinal, não só os iniciados ouviam Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e companhia naquela nostálgica primeira metade dos anos 90. Todos ouviam essas bandas. Todos.
E as pessoas esperam que esse novo messias roqueiro consiga o mesmo feito; munido de guitarra e sinceridade, deverá ser capaz de chutar qualquer cria do Timbaland da Billboard e abrir novamente caminho para uma canalhada de outras bandas semelhantes infestarem as paradas de sucesso.
Mas os tempos são outros. O Nirvana e seus amigos já fizeram isso e, consequentemente, tornaram esse tipo de atitude banal. E a história da música pop mostra que esses movimentos não se repetem. É um erro pensar que o grunge repetiu o punk simplesmente porque se apropriou de suas premissas básicas, assim como é um erro esperar que algum movimento repita os passos do grunge.
Além disso tudo, o principal legado do grunge, que é essa mensagem de sinceridade e simplicidade, não foi esquecida. É, aliás, uma das principais características dos roqueiros que estão nas paradas hoje em dia. Em certa medida não temos nenhuma cria do Van Halen ou do Guns'n'Roses fazendo sucesso. Há sim bandas cantando sobre sentimentos com canções derivadas do punk. Se alguém duvida da sinceridade deles, é outro problema. Nunca saberemos quem é sincero e quem não é, então o importante é parecer sincero. E a molecada parece acreditar nesse pessoal...
Assim, talvez o melhor seja esperar que o legado do pós-punk, que é o da eterna reinvenção e busca por influências externas, venha salvar o rock'n'roll.
Como disse Thurston Moore, do Sonic Youth, "punk é para caretas; ultrapasse-o."

8.4.09

Keep on rockin'? (ii)

Li por aí que o Green Day vai lançar um novo disco. Pelo título do single, Know Your Enemy, podemos esperar mais da ladainha política destilada no último disco, American Idiot.
Bom, já dei minha opinião por aqui e acho que, no mundo pós-Bush, esse discurso já perdeu muita força. Afinal, quem é o inimigo agora que um negro democrata foi eleito para a presidência dos EUA, a preocupação ambiental é crescente, os programas de combate à pobreza estão sempre na ordem do dia etc?
Isso não significa que canções políticas não tenham mais lugar. A questão é que esse formato sessentista e gasto não me parece o mais contestador. E aí que uma outra banda política acaba se sobressaindo: o Radiohead.
E olha que o discurso deles tinha tudo para dar errado. Os integrantes da banda são politicamente corretos, não parecem ter lá um senso de humor muito aguçado, abraçam qualquer causa humanitária e já se inspiraram na doidivanas Naomi Klein, jornalista porta-voz dos movimentos anti-globalização.
Contudo, ao invés de adotar um discurso explícito, o Radiohead prefere canções fragmentadas e letras pouco explícitas. Sabemos, por exemplo, que 2+2=5, do Hail to the Thief (2004), é sobre George Bush. Mas pode ser sobre outro assunto, e poderá se aplicar a outras situações no futuro. Foi o que Bob Dylan fez nos anos 60, e suas canções envelheceram melhor que aquelas que criticavam explicitamente os fatos de sua época.
Além disso, é justamente por conta dessa fragmentariedade, que muitas vezes conduz a som desconfortável, que as canções do Radiohead soam contemporâneas. Talvez eles concordem com Maiakovski que, "sem forma revolucionária, não há arte revolucionária"...

Franz Ferdinand - Womanizer (vídeo)





"You can play brand new to all the other chicks out here
But I know what you are, what you are, baby"



Franz Ferdinand Womanizer Britney cover

6.4.09

Fim de uma era?

Os jovens estão deixando de baixar músicas e preferindo ouvi-las diretamente em sites de streaming, como MySpace e Imeem. É o que indica estudo do NPD Groups feito com norte-americanos na faixa dos 13 aos 17 anos e divulgado na semana passada. O número dos que fizeram essa troca aumentou de 34% em 2007 para 52% em 2008 e houve queda de 6% no download de músicas. Mas será que isso significa mesmo o fim da era MP3?



De fato há uma tendência inexorável de se optar, num primeiro momento, pelo streaming ao download e isso não é novidade alguma. Eu mesmo ando baixando cada vez menos e usando cada vez mais o MySpace. Mas não por preferir este último. Normalmente o que ouço nos sites de streaming é coisa descartável, só pra dar aquela analisada prévia se vale a pena baixar ou não. E via de regra não vale. A democratização do acesso à música nesse tipo de sistema de compartilhamento não é recompensada com um incremento de qualidade do material disponível.

Outro detalhe importante a ser ressaltado sobre o resultado dessa pesquisa. O alvo da enquete foram consumidores norte-americanos, que, como se sabe, PAGAM para fazer download. O fato de preferirem ouvi-las em streaming pode ser mais um grande indicador da crise econômica mundial, o que tornaria mais volátil essa tendência anunciada pela pesquisa.

Some-se a tudo isso o fato de o streaming ser algo estritamente virtual. Se não estiver num computador ou celular conectado você não tem acesso ao conteúdo. Diferentemente do que ocorre com aquelas musiquinhas que você baixou ilegalmente em algum depósito de torrents e incorporou ao seu iPod. E isso conta muito, ainda mais em países de terceiro mundo como o nosso.

Fim dos tempos ou do esquema iPod-MP3? Pra mim não. Por enquanto.

5.4.09

Nada de novo no front?

Há alguns posts, o meu companheiro de blog gaiotto afirmou que, hoje em dia, todas as bandas consideradas importantes ou são velhas, ou são cópias de bandas velhas. Pode até haver uma certa dose de verdade nisso, não creio que a cena esteja tão pobre assim.
Esse tipo de irresignação com a "cena atual" é recorrente, especialmente se observarmos a explosão de novidade que tivemos no rock'n'roll dos anos 50 e 60, época que inspirou quase tudo que se seguiu. Claro que nas décadas seguintes tivemos o punk, o pós-punk, o grunge etc. Mas quase tudo tinha uma clara inspiração em movimentos dos anos 50 e 60. E por isso era menos originais? Creio que não.
Todavia, isto não é um salvo-conduto para que as bandas novas continuem emulando Joy Division, New Order, Led Zeppelin e Smiths, só para ficarmos nas maiores inspirações para algumas das novidades. Quando encaramos música pop com um pouco de seriedade, esperamos que as bandas peguem essas influências e a transformem em algo minimamente original. E isso vale para cinema, literatura, pintura etc, certo?
Neste sentido, há um artista que está fazendo esse trabalho de inovação de forma muito interessante. Trata-se de Zach Codon, responsável pelo Beirut. O sujeito lançou, até o momento, dois belos álbuns e uma série de EPs, todos trazendo gemas pop que destoam de tudo que está sendo feito atualmente. Para começar, nada de guitarras: Zach Codon prefere o ukulele, trompete, acordeão e outros instrumentos mais "típicos" para criar belas harmonias que evocam os balcãs, o México, a chanson francesa etc. E neste último EP, munido de teclados vagabundos, fez belas e frágeis canções lo-fi.
Há em seu som uma clara influência de bandas como Love, Neutral Milk Hotel, Magnetic Fields, dentre outras. Mas, ainda assim soa original.
Então creio que a música pop tem, sim, futuro... Nem que seja olhando sempre para o seu passado.








P.S.: ah, só por curiosidade: o Beirut ficou levemente famoso no Brasil há alguns meses por ter tido a canção Elephant Gun inserida na trilha sonora da mini-série Capitu, da Rede Globo.

2.4.09

Móveis Coloniais de Acaju - C_MPL_TE

Não vou dizer que vai ser a melhor coisa do indie nacional de 2009. Não vou dizer que essa música vai dar muito o que falar. O que importa o que penso? Afinal, esse vai ser o melhor disco indie nacional de 2009 e essa música... essa música vai dar muito o que falar.

"C_MPL_TE" sai oficialmente agora por abril. Mas nessa semana a banda acabou de soltar todas as doses homeopáticas das versões de ensaio em vídeos bacanas para o Youtube. Duas delas me chamaram muito a atenção: "O Tempo", que é o primeiro single, e esta aqui embaixo, "Adeus":



Móveis Coloniais de Acaju C_MPL_TE

1.4.09

Ortopé

Há dois tipos de banda no mainstream dessa primeira década dos 00´s: as velhas e aquelas que se parecem com velhas. Não existe meio termo; não existe um porra-louca qualquer que consiga fugir desse binômio maldito. Prove que estou errado! As óbvias exceções conseguem viver fora desse novo mercado de peixe virtual só porque estão financeiramente garantidas pelo público fiel conquistado anteriormente nesse mesmo esquema.


Bandas velhas servem apenas pra servir de inspiração pra bandas cover. Ou vai me dizer que você não tem um amigo com banda cover de Beatles, U2, Creedence Clearwater Revival, Iron Maiden, Kiss, Nirvana. Elas não têm outra utilidade prática, a não ser fazer parte da História. Ah, sim! Tocar na “Kiss FM”.


É insuportável ligar o rádio do carro no pós-almoço e ouvir o Bono Vox incitando não sei quem a pegar suas botas. Com que tipo de pessoa ele fala? Há na humanidade alguém mais deslocado que esse cidadão? Talvez o Marcelo Camelo, mas vou poupá-lo dessa apelação.


Zapeio e tento livrar meus ouvidos dessa desgraça. Coldplay. Não, U2! Não! Não! Esse riff não é do The Edge, mas... caramba. O carinha canta sobre amor também, daquele jeito meio constrangedor, é religioso, bom moço e ecologicamente correto. Mas... caramba. Esse não era o Bono? Muda, vai.


Nesse mês as últimas viúvas do rock vão debutar. 15 anos! Há 15 anos não surge um morfioso capaz de parar o mundo com um berro. Ando quase desistindo de esperar o Messias chegar.


Vistam suas botinhas... vistam suas botinhas...