17.4.09

Wry - She Science


Nada mudou. É o que garante Mario Bross aos fãs logo no início de She Science, o “disco do retorno” do Wry. E de fato, apesar dos 7 anos na Inglaterra, a essência da banda não mudou. Talvez pisando mais nos pedais do shoegazing britânico e deixando um pouco para trás o indie rock americano, mas sempre tentando balancear as duas grandes influências que sempre guiaram a trajetória desta, que em minha mísera e parcial opinião, é a maior das bandas independentes que já surgiram por aqui.

Confesso que o disco não me pegou de primeira (como os bons discos normalmente não me pegam). Torci e ainda não coloquei de volta no lugar o nariz em relação às músicas em português. Não que tenha carteirinha do clube dos puristas, mas sou daqueles que acha que esse tipo de som fica mais agradável aos ouvidos na língua da rainha. De toda forma, vale como uma bela provocação. Algumas delas, como “Lábios Trêmulos” e a belíssima "Longitude", lembram-me o grande e finado Astromato, das únicas que conseguiu enfiar o português no indie rock com maestria.

Mas é “Disorder”, a terceira faixa, que sintetiza o espírito da banda: uma salada bem temperada de Dinossaur Jr. com Ride e pitadas generosas da memorável safra indie brasileira do começo dos anos 90. Turminha esta, aliás, que merecerá um disco-homenagem de seus pupilos ainda neste ano, certamente dos mais aguardados de 2009. E o olha que Mario Bross ainda promete lançar outro em julho, The Long-Term Memory of an Experience, que foi gravado simultaneamente e seria o complemento de She Science.

Outro destaque são as letras, que deixam um pouco de lado os temas abstratos dos trabalhos anteriores e se revelam um quase-diário de Bross, baleado pela mistura de solidão, distância e, ao que parece, uma desilusão amorosa. Nada que pretenda revelar um novo mestre da poesia brasileira, tampouco boçal e preguiçoso como a maioria das bandas que por aqui se lançam.

Fracassados, dizem alguns. Corajosos, afirmam outros. Todos tentam explicar o porquê do retorno ao Brasil, coisa que pra mim pouco ou nada interessa. Analisando friamente, a volta do Wry tem um efeito direto e extremamente positivo nessa combalida cena independente que temos hoje. Se já se podia dizer isso antes, agora com maior propriedade: é uma das únicas - senão a única - que literalmente não depende. Não depende de cena, não depende de patrocínio público, não depende de panela, não depende de gravadora, não depende de jornalista amigo e não depende de mercado hypado. Tem seu público cativo e faz os discos para ele.

Sem problemas se não agradarem o pessoal daqui. Kevin Shields, do My Bloody Valentine, põe a mão no fogo por eles.

Ouça o disco inteiro no MySpace da banda: http://www.myspace.com/wrymusic

Wry She Science Myspace indie brasileiro

2 comentários:

Unknown disse...

Ótima resenha! Direto, conciso e com opnião. Muito bom mesmo.
Visite o blog oficial do Wry: http://wrynow.blogspot.com e se desejar, me envie um email, assessoria de imprensa, no rodapé do blog pra gente estreitar o contato. Grande abraço.

Gustavo disse...

estou escutando hoje pela primeira vez as musicas do wry...e to curtindo muito! duca duca duca!