21.4.09

Literatura

Morreu no último dia 19 de abril o escritor J.G. Ballard, autor de obras como Crash. Mas quem acompanha um pouco da história da música pop sabe que o autor exerceu uma enorme influência em diversas bandas. Ian Curtis, líder do Joy Division, deve muito de sua sombria visão de mundo a este autor.
E este é só um dos exemplos da influência da literatura na música. Creio eu que esta mistura remonte aos anos 60, quando o pessoal do folk começou a intelectualizar a música pop, politizando-a. Aí veio o Bob Dylan que, influenciado por autores beat como Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouac, passou a escrever letras cheias de simbolismo e surrealismo.
Mas creio que o ápice dessa intelectualização tenha sido mesmo o pós-punk inaugurado por sujeitos letrados como Mark E. Smith, do Fall, Howard Devoto, dos Buzzcocks e do Magazine, e pelo próprio Ian Curtis. Essas bandas sempre tiveram objetivos estéticos que iam além do rock'n'roll: queriam que as canções fossem pequenas obras de arte expressionistas, impressionistas, realistas etc.
Todavia, as melhores bandas que beberam dessa fonte não se esqueceram que estavam fazendo música pop. O Joy Division, mesmo em uma canção como Interzone (lugar citado na obra "Almoço Nu", de Burroughs) ou Atrocity Exhibition (título de uma obra de J.G. Ballard), são relativamente pops apesar do clima claustrofóbicos e as letras soturnas ("You'll see the horrors of a faraway place,/Meet the architects of law face to face./See mass murder on a scale you've never seen,/And all the ones who try hard to succeed").
Deixam todos então uma importante lição: é muito importante para a música pop buscar inspiração em outras formas de arte. Mas não dá para levar a coisa a sério a ponto do sujeito esquecer que está fazendo... música pop!

Nenhum comentário: