5.4.09

Nada de novo no front?

Há alguns posts, o meu companheiro de blog gaiotto afirmou que, hoje em dia, todas as bandas consideradas importantes ou são velhas, ou são cópias de bandas velhas. Pode até haver uma certa dose de verdade nisso, não creio que a cena esteja tão pobre assim.
Esse tipo de irresignação com a "cena atual" é recorrente, especialmente se observarmos a explosão de novidade que tivemos no rock'n'roll dos anos 50 e 60, época que inspirou quase tudo que se seguiu. Claro que nas décadas seguintes tivemos o punk, o pós-punk, o grunge etc. Mas quase tudo tinha uma clara inspiração em movimentos dos anos 50 e 60. E por isso era menos originais? Creio que não.
Todavia, isto não é um salvo-conduto para que as bandas novas continuem emulando Joy Division, New Order, Led Zeppelin e Smiths, só para ficarmos nas maiores inspirações para algumas das novidades. Quando encaramos música pop com um pouco de seriedade, esperamos que as bandas peguem essas influências e a transformem em algo minimamente original. E isso vale para cinema, literatura, pintura etc, certo?
Neste sentido, há um artista que está fazendo esse trabalho de inovação de forma muito interessante. Trata-se de Zach Codon, responsável pelo Beirut. O sujeito lançou, até o momento, dois belos álbuns e uma série de EPs, todos trazendo gemas pop que destoam de tudo que está sendo feito atualmente. Para começar, nada de guitarras: Zach Codon prefere o ukulele, trompete, acordeão e outros instrumentos mais "típicos" para criar belas harmonias que evocam os balcãs, o México, a chanson francesa etc. E neste último EP, munido de teclados vagabundos, fez belas e frágeis canções lo-fi.
Há em seu som uma clara influência de bandas como Love, Neutral Milk Hotel, Magnetic Fields, dentre outras. Mas, ainda assim soa original.
Então creio que a música pop tem, sim, futuro... Nem que seja olhando sempre para o seu passado.








P.S.: ah, só por curiosidade: o Beirut ficou levemente famoso no Brasil há alguns meses por ter tido a canção Elephant Gun inserida na trilha sonora da mini-série Capitu, da Rede Globo.

7 comentários:

gaiotto disse...

não considero o Beirut mainstream a ponto de derrubar meu argumento.

achei que fosse usar o Radiohead haha

Unknown disse...

Com a sua vênia, meu caro rapaz, concordo com o Gaiotto. Não se fazem regras pelas exceções, se é que estamos diante de uma.

d. chiaretti disse...

Caríssimos,

Usei como exemplo uma banda indie com boa projeção porque é o mais longe que é possível chegar hoje em dia se quisermos ser inovadores.
A contestação que as viúvas de Kurt Cobain buscam não está mais no rock. Essa responsabilidade, hoje em dia, é do hip hop. Isso é tão evidente que até uma das últimas grandes bandas alternativas que estouraram no mainstream, o Arctic Monkeys, tem uma puta influência do grime.
E esse sentimento não deve ser novo: o jazz, lá pelos anos 50 ou 60, também viu sua inteligência cada vez mais restrita a nichos.
Talvez esse seja o destino do rock no mainstream...
E some isso tudo, ainda, à falta de uma grande gravadora por trás de cada nome promissor. Ou você acha que alguém, hoje em dia, bancaria um Ok Computer?

gaiotto disse...

1. No Brasil e TALVEZ na Inglaterra o hip hop significa de fato um movimento contestador, fazendo as vezes do rock de outrora. Já nos EEUU isso não acontece, já que o movimento é apenas auto-referente e socialmente revanchista, do tipo: "olha, eu também tenho carrão e uma pistola! cool man!". Não há um protesto político formal e direcionado.

2. A falta de grandes investimentos na produção do disco não é um fato decisivo pra isso. Grandes discos que "salvaram o rock" foram feitos com poucas migalhas e quase sem divulgação. Vide Velvet Underground, Black Sabbath, Sex Pistols, The Stooges, Mutantes, o próprio Nirvana no começo e tantos e tantos outros.

3. Sou uma das grandes viuvas do Kurt Cobain. Mas é FATO inegável que desde a sua morte não houve nenhum movimento de massa com forma ao menos semelhante aquele que ele ajudou a criar e do qual virou ícone.

Fazendo uma análise puramente histórica (sem colocar subjetivismos), o Radiohead cumpre hoje um papel que já foi do Pink Floyd: uma banda popular de rock progressivo (ou pós-rock) perdida entre duas gerações revolucionárias.

O que tá demorando é pra esse outro lado da ponte chegar...

d. chiaretti disse...

1. Se é ravanchista se não é, isso é uma questão política. O que importa, ao menos pra essa discussão, é como o público encara o hip hop. E, neste sentido, ele cumpre sim o papel que já foi do rock. O qual, aliás, já teve vícios parecidos com os que você citou;

2. Faz falta sim. Stooges e Velvet, por exemplo, só foram importantes para meia dúzia de nerds. O Nirvana, a seu turno, só estourou porque enfiaram não sei quantos mil dólares e um puta produtor no Nevermind. Os Pistols contaram com apoio da EMI no começo. Etc e tal. Não me recordo de nenhuma mega-banda que tenha estourado sem o apoio de grandes gravadoras;

3. O problema é que as pessoas enxergam as rupturas no rock apenas com guitarras, como fez o punk e o grunge. E esse formato já era. Não vai dar pra fazer isso por uma terceira vez. Então, melhor fazer como os pós-punks fizeram, e buscar uma outra expressão estética. É o que o Radiohead faz, por exemplo. Tanto que não acho que o Radiohead seja uma banda de ruptura. Ela é mais uma banda que conseguiu sintetizar muito do que foi feito até agora com originalidade. De fato, como um Pink Floyd do começo de carreira. Ou como um Joy Division, um Gang of Four etc. Nem toda a boa arte original é feita de revoluções...

Unknown disse...

Até onde li, entendi...

Mas concordo com a parte do Radiohead... ou se reinventam ou são devorados pela mesmice e pelo tédio. Todavia, aquiesço com aquele comentário pessoal do Gaiotto, que toda música boa, no ambito do rock, deve dar pra ser resumida num violão (por mais difícil que seja). Deve ser simples e de coração. Não se olvide que mesmo o repertório do Radiohead, incluo também os sons mais novos, é passível de reprodução com um simples violão (salvo algumas músicas essencialmente eletônicas).

Back to basics!

Abraço pros dois...

d. chiaretti disse...

Sim, o Radiohead ainda é música pop. Boa parte das canções tem começo, meio, fim, refrão, melodia e tudo mais.
No mais, deixo aqui uma dica: leia o ensaio de Simon Reybolds no "Beijar o Céu" sobre o Radiohead. Ele diz que a evolução da música americana e inglesa é diferente.
A primeira costuma voltar às raízes. Como exemplo ele cita a intenção de Kurt em se tornar um Cash ou um Dylan.
De outro lado, os ingleses costumam se focar na produção. O exemplo? Radiohead...

Só quero deixar consignado que não acho que uma ou outra forma é "melhor" que a outra...