11.4.09

O messias


Há quinze anos Kurt Cobain morreu. E há quinze anos a música pop espera uma nova redenção. Há sempre um novo Kurt Cobain quase aparecendo quando alguma nova banda toca de forma simples, barulhenta e sincera. Mas estamos enganados: é sempre um falso messias.
Assim, aproveito esse feriado de Páscoa para indagar se devemos ter alguma esperança de salvação do rock. Para mim a resposta é simples: não, não há mais espaço para um novo Kurt Cobain.
Em primeiro lugar, o que foi o Nirvana? Ou, mais propriamente, o que foi o grunge? Vejo o movimento como a mais bem sucedida integração do genuíno rock'n'roll ao mainstream. Foi quando o punk rock realmente chegou às massas. Afinal, não só os iniciados ouviam Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e companhia naquela nostálgica primeira metade dos anos 90. Todos ouviam essas bandas. Todos.
E as pessoas esperam que esse novo messias roqueiro consiga o mesmo feito; munido de guitarra e sinceridade, deverá ser capaz de chutar qualquer cria do Timbaland da Billboard e abrir novamente caminho para uma canalhada de outras bandas semelhantes infestarem as paradas de sucesso.
Mas os tempos são outros. O Nirvana e seus amigos já fizeram isso e, consequentemente, tornaram esse tipo de atitude banal. E a história da música pop mostra que esses movimentos não se repetem. É um erro pensar que o grunge repetiu o punk simplesmente porque se apropriou de suas premissas básicas, assim como é um erro esperar que algum movimento repita os passos do grunge.
Além disso tudo, o principal legado do grunge, que é essa mensagem de sinceridade e simplicidade, não foi esquecida. É, aliás, uma das principais características dos roqueiros que estão nas paradas hoje em dia. Em certa medida não temos nenhuma cria do Van Halen ou do Guns'n'Roses fazendo sucesso. Há sim bandas cantando sobre sentimentos com canções derivadas do punk. Se alguém duvida da sinceridade deles, é outro problema. Nunca saberemos quem é sincero e quem não é, então o importante é parecer sincero. E a molecada parece acreditar nesse pessoal...
Assim, talvez o melhor seja esperar que o legado do pós-punk, que é o da eterna reinvenção e busca por influências externas, venha salvar o rock'n'roll.
Como disse Thurston Moore, do Sonic Youth, "punk é para caretas; ultrapasse-o."

Um comentário:

gaiotto disse...

concordo e discordo ao mesmo tempo hehe

talvez por uma insistência romântica acredito que esse messias ainda vai reaparecer na Pascoa rock´n´roll.

o que ocorre, penso eu, é o desajuste do mercado do rock (e da própria MPB) em relação ao tempo que passou.

os tiozinhos insistem em fabricar idolos e movimentos, uma coisa que praticamente nunca deu certo. além disso, não souberam ainda usar a internet e a pirataria como forma de alavancar carreiras, como todas as outras vertentes menos tradicionalistas já conseguiram.

não que não existam outros mitos em algum canto, por aí. o problema é que o filtro usado pra chegar até eles tá totalmente viciado e fora do contexto.

uma hora aparece, ahhh se aparece!