15.10.08

Believe the hype?

Apenas umas 20 pessoas assistiram à estréia de Mallu. O resto do público se aglomerava em torno do bar. Entre os espectadores, destacava-se Lúcio Ribeiro, um influente colunista de música. "Fui ver o Vanguart", diz. "Quando cheguei, Mallu já tocava. Só decidi prestar atenção porque notei que, em vez de covers, a menina cantava composições próprias e relativamente sofisticadas para alguém tão novo." Pegou os contatos dela. No dia 14, redigiu um rápido texto que a apontava como uma das promessas de 2008. O Pop­load, blog do jornalista com aproximadamente 60 mil visitas por mês, veiculou a nota. Pronto: o pavio estava aceso. Num impressionante efeito dominó, Mallu tomaria a mídia de assalto. Figurou, primeiro, em outros blogs: Don't Touch My Moleskine, de Daniela Arrais; Trabalho Sujo, de Alexandre Matias; e Vitrola, de Ronaldo Evangelista. Depois, migrou para uma reportagem do G1, o portal de notícias das Organizações Globo. Por fim, no dia 30, abocanhou a capa de dois cadernos culturais: o da Folha de S.Paulo e o do Jornal do Brasil. Àquela altura, o MySpace indicava que a página da garota superava os 70 mil acessos." (Via Bravo!)
Há muitos anos que a música pop não é só música. Está ligada a comportamento, moda, consumo, negócios etc. É claro que soa meio indigno aplicar isso ao rock, mas é uma verdade.
Nesse sentido, o "fenômeno" Mallu Magalhães não surpreende nem um pouco. Conforme a matéria que abre esse post, a divulgação da obra da compositora foi seguindo um boca a boca vagaroso até que a informação caiu nas mãos das pessoas certas. A partir daí a coisa virou hype dentro do pequenino mundo da música alternativa brasileira.
Seria o caso de considerar tudo uma enganação, portanto? Claro que não. Seria uma estupidez. Esse tipo de popularização é muito comum. Basta lembrarmos da Sub Pop subsidiando a ida do jornalista inglês Everett True para Seattle no começo dos anos 90, o que fez com que a popularidade do Grunge crescesse de forma exponencial na Europa em seguida. Ou mesmo a Pitchfork, gigante virtual do mundo alternativo, que fez um grande alvoroço ao redor do Clap Your Hands Say Yeah!, outra bandinha indie que fazia propaganda em escala minúscula.
A questão é: o Grunge ou o CYHSY não deram certo só pela ajuda da mídia. Ela canalizou as atenções de um público muito maior do que aquele que conseguiriam com uma divulgação própria. E foi esse público o real responsável pelo julgamento qualitativo dos produtos.
É claro que o sistema pode gerar distorções, destaque demasiado para um artista medíocre (famoso jabá) ou destaque zero a alguém que mereça (o que está sendo mitigado com o crescimento da importância da divulgação virtual). Mas, no fim das contas, o que acaba dando viabilidade financeira para a música pop (sim garotos, o rock'n'roll também precisa de dinheiro), é essa mercantilização, feita pelas mãos sujas de empresários e donos de gravadoras.
E, sem isso, acham que o Nirvana sairia dos $ 606 do Bleach para os $ 65.000 do Nevermind?

6 comentários:

gaiotto disse...

bóbvio que eu iria escrever isso, mas o mesmo texto citado na epígrafe tem a seguinte parte:

"O empurrãozinho do facilitador

Mané, ou Manoel Brasil Orlandi, é o melhor amigo de Mallu. O rosto imberbe e gorducho, os cabelos cacheados e as roupas largas lhe conferem um ar bonachão. Tem 18 anos, embora aparente menos. Conheceu Mallu num sábado, durante uma reunião informal na casa dela. Um vizinho dos Magalhães o levou. Conversa vai, conversa vem, a menina resolveu driblar a vergonha e mostrar Tchubaruba para os seis convidados. "Logo que ouvi a canção, meu queixo caiu", recorda Mané. "Curti cada detalhe: a sonoridade, o refrão, o jogo de palavras." Num piscar de olhos, adotou o neologismo. "Hoje, quando quero dizer que estou fazendo um negócio bacana, digo que estou tchubarubando." No mesmo sábado, o rapaz e Mallu trocaram figurinhas sobre preferências musicais e cinematográficas. Entenderam-se tão bem que viraram cúmplices. Juntos, exploram brechós, visitam feiras de antigüidades e perambulam pelo Mercado Municipal. "Eu precisava conhecer o Mané, mas não sabia", filosofa Mallu. "Somos dois esquisitões", zomba o garoto. "Por isso, nos identificamos."

Como o amigo, Mallu sempre se considerou um ponto fora da curva. O patinho feio da turma, com opiniões e gostos difíceis de compartilhar. Na escola, se não costuma tirar notas ruins (ela cursa o primeiro colegial), tampouco engole "os métodos pedagógicos conservadores", que uniformizam tudo e desrespeitam as particularidades dos alunos. "Aliás, veja que substantivo mais impróprio: aluno.

(...)

Depois de Tchubaruba, Mané escutou outras canções da menina. "Incríveis! Por que não as grava e joga na internet? Aposto que irão bombar." O rapaz, que deseja se tornar cineasta, acompanha com lupa o universo da música e carrega o showbiz no sangue. É neto de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, executivo que comandou a Rede Globo entre 1967 e 1997. "Façamos assim", prosseguiu Mané. "Você grava as canções e coloca no MySpace. Eu ajudo a divulgar." O garoto reivindicava para si "o nobre papel de facilitador" — atividade de mil caras que desempenha desde os 14 anos. Sob o álibi da função, já atacou de cambista nas concorridas matinês de um clube paulistano ("comprava ingressos por R$ 10 e revendia por R$ 50"). Também agenciou bandas obscuras de hardcore, dividindo com os roqueiros o lucro dos espetáculos. No caso da amiga, não pretendia cobrar nem um centavo pelos serviços."


é beeeeeeeeeeeem diferente da história do Nirvana e demais hypes em geral.

se essa menina não tivesse conhecido esse vizinho gordinho tenho certeza que ninguém NUNCA ia ouvir falar dela.

Além disso, insisto: pouquíssimas pessoas conhecem a musica dela (ou sabem cantar alguma letra), apesar dos trocentos page views no myspace. Com 1 milhão de fãs votando ela certamente ganharia o prêmio de revelação na MTV.

Evocando o padre Quevedo: este fenomeno "non equiziste"

Anônimo disse...

mas qdo. é que as pessoas vão parar de falar de mallu magalhães? hein?

d. chiaretti disse...

DG: sim, ela tem poucos fãs, isso é ponto pacífico. mas, no restrito mundo do rock alternativo brasuca, ela é alguma coisa. e o fenomeno é parecido com outras bandas sim. só muda a questão do grau...

madame: esse fenômeno mallu tem muito a dizer sobre o Brasil! hehehe

gaiotto disse...

o que não dá é tratá-la como um mega produto mainstream e guardar sempre na manga, para quando as coisas não dão certo, a justificativa de que ela é um burburinho restrito ao mundinho alternativo. É a mesma coisa com o CSS.

o que ela é afinal? a nova Marisa Monte ou a nova Paula Lima, que tinha cartazes no metro de SP como a nova "diva" da MPB?

d. chiaretti disse...

A crítica brasileira é composta basicamente por fãs de música alternativa (sem lá muito estudo) que não se conformam em viver num lugar onde o indie é um nicho.
Mas o fenômeno de levar algo pro grande público segue mais ou menos os mesmos trâmites aqui ou lá fora. A questão é que o grande público na gringa é muuuuito maior que o nosso...

gaiotto disse...

Prova disso é a entrevista do Thiago Ney com o Mudhoney que saiu ontem. Uma banda fantástica, mas que claramente NUNCA foi um fenômeno. O pobre coitado que lê deve se sentir a pessoa mais desinformada do mundo por não conhecer uma banda que não dá dinheiro nem pros próprios membros.

o hype por aqui não vende nem funciona, salvo raríssimas exceções (não consigo lembrar de nenhuma). prova clara disso é o "rock gaúcho" e o indie paulistano.