4.6.08

Bo Diddley e a rebeldia

"Como sofrem os artistas de hoje, não? Cada vez que Amy Winehouse, Coldplay ou essas bandinhas emo aparecem na TV chorando as pitangas e falando em "sofrer pela arte" devemos nos lembrar de Bo Diddley.
Há mais de 50 anos, Bo e seus contemporâneos -Chuck Berry, Little Richard, Fats Domino, Ike Turner- estavam na linha de frente, dando a cara para bater. Eles não tinham tempo para chororô, porque estavam ocupados demais fugindo da Ku Klux Klan e mudando a música pop para sempre.
Esses monstros não só criaram o rock'n'roll, eles racharam o mundo ao meio. Bo e seus comparsas inventaram a música jovem." André Barcinski - via Folha de S. Paulo


Na última segunda feita, aos 79 anos, Bo Diddley, um dos pioneiros do rock'n'roll, morreu. Marcado por uma sonoridade selvagem, extraída de sua famosa guitarra caseira quadrada, Bo se tornou uma essencial para quaisquer artistas que, a partir da gênese do rock, quisessem fazer uma música agressiva.
Mas o tema aqui é outro: seria possível, hoje em dia, um "roqueiro" ser selvagem sem que isso parecesse uma, farsa? Peguem, por exemplo, os relatos das aventuras de outro pioneiro, Jerry Lee Lewis, narrados por Nick Tosches no livrinho "Criaturas Flamejantes", editado no Brasil pela Conrad. Beberrão, viciado em anfetaminas, carnívoro, violento, imoral. Chegou ao ponto de, em numa "brincadeira" com arma de fogo, acertar um tiro em seu baixista. O autor mostra que somente quando Jerry Lee surgiu, Elvis se tornou um sujeito aceitável. E o que dizer, ainda, de Little Richard, que, além de negro numa América pré-ascensão dos direitos civis, era gay?
Acho que o pessoal daquela época era, sim, mais barra-pesada. Mas não porque fizessem mais loucuras, e sim porque era mais difícil. Sabemos muito bem que o rock, naquela época, não era bem visto. Era coisa de marginal, muito alto, muito barulhento. Mas lá se vão 50 anos do estilo, o que fez com que ele se adaptasse ao mercado, o qual transformou toda a rebeldia em combustível para venda. Nada mais mainstream, portanto, do que aparecer por aí fumando crack ou fazendo strip tease em Cannes...
Além disso, boa parte dos velhos de hoje em dia - os quais deveriam ser o alvo da rebeldia juvenil - simplesmente se habituaram com ele. Prova disso é que, quando comprei uma guitarra elétrica, a primeira coisa que minha avó disse foi "nossa, que bonitinha".
E lá se foi toda minha rebeldia por água abaixo...


Um comentário:

gaiotto disse...

desde que se percebeu que a "rebeldia" vende, o mundo nunca mais foi rebelde.
o último se matou.
hoje parece ser um pré-requisito.. se não há uma mancha pesada, o currículo não presta.
tipo, pq vc vai contar pra um amigo que gosta de Biquini Cavadão? O assunto acaba aí. Já se disser sobre Amy Winehouse, sempre vai ter "voce viu a ultima dela"
haha
pior q é verdade