As letras, apesar da aparência estúpida e dos temas fúteis (como paixões platônicas, namoradas e, hmm, “inaptidão sexual”), escondem uma sagacidade e inteligência sem rivais, com letras de uma ironia sem igual desde os Smiths. Logo na abertura o vocalista Eddie Argos usa sua voz rasgada para ofender todo o glamour rocker em “Formed a Band”: “I want to be the boy/The man/Who writes the song/That makes Israel and Palestine/Get along”. E ele continua o tiroteio em “Bang Bang Rock’n’Roll”, logo após ofender os deuses do Velvet Underground: “I don't want a girl that's with the band/I just want a girl that's gonna hold my hand/No more songs about sex, drugs and rock and roll/It's boring!”.

Art Brut
E as canções de amor não deixam por menos. Na melhor faixa do disco, “Emily Kane”, Argos narra a história de um rapaz que, apesar de ter sido chutado por uma namorada há 10 anos, 9 meses, 3 semanas, 4 dias, 6 horas, 13 minutos e 5 segundos, nunca esqueceu a moça. Então, como intuito de encontrá-la, escreve uma canção de rock para que crianças em ônibus escolares cantem o nome da amada por aí. Lindo! A ironia também aparece escondida em “Good Weekend”, na qual um sujeito festeja o fato de ter arrumado uma namorada: “Got myself a brand new girlfriend/So we went to the cinema/We came home from the cinema/We went through the front door/Up the stairs/Through her bedroom door/Onto the bedroom floor/I've seen her naked twice!”.
E todas as letras estão devidamente amparadas por riffs incendiários, baixo e bateria dançantes e os vocais espetaculares de Argos, cuja fúria lembram um Johnny Rotten criado em uma escola de arte inglesa. Enfim, uma banda que, ao contrário da esmagadora maioria, não se resume a um single ou a musiquinhas românticas e cínicas.
É rock inteligente em estado bruto.
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