É proibido fumar

Desenterrei nessa semana um disco do Hefner, uma interessantíssima banda britânica dos anos 90 que descobri nas boas e velhas manhãs de sábado vendo Lado B na MTV. E sou pego de surpresa pela letra de "The Hymn For The Cigarettes": She smoked on my bed cause she thought it would annoy me,/But I love to watch the girls smoke in my bed. (...) Lucky Strikes remind me of my friends out on the west coast,/Camel Lights remind me of my ex-girlfriend at Chistmas time,/Malboro Reds remind me of giving up in Berlin,/B&H remind me of not giving up but giving in.
Ela imediatamente me lembrou que, a partir de hoje é proibido fumar em locais fechados em São Paulo. E isso inclui bares e inferninhos rock'n'roll. Não fumo, mas confesso que sinto uma certa tristeza pela proibição. Cigarro para mim é como culinária francesa contemporânea: a aparência é infinitamente melhor que o gosto. Mas quando vemos um cigarro nas mãos de uma Cat Power percebemos como a aparência é importante. Bem, no estado de São Paulo, em tese, não veremos mais nenhuma moça fazendo charme com fumaça de cigarro.
E há algo de estranho nisso. O cigarro está presente em nossa sociedade há décadas, e já se tornou um dado cultural. Não nego que é sadio regulamentar a questão, já que os fumantes são uma minoria. Todavia, retirar abruptamente e sem concessões o cigarro de ambientes rock'n'roll me soa demasiadamente politicamente correto. Seria, ao menos do ponto de vista estético, como proibir o tênis All Star.
Assim, em nome da saúde, do bem estar, do meio ambiente e de outros deuses contemporâneos, vamos, pouco a pouco, esquecendo de pequenos prazeres como ver uma moça bonita fumando.

Hymn For The Cigarettes - Hefner