9.10.04

Jeff Buckley - Grace



1 Mojo Pin (5:42)
2 Grace (5:22)
3 Last Goodbye (4:35)
4 Lilac Wine (4:32)
5 So Real (4:43)
6 Hallelujah (6:53)
7 Lover, You Should've Come Over (6:43)
8 Corpus Christi Carol (for Roy) (2:56)
9 Eternal Life (4:52)
10 Dream Brother (5:26)



Gênio? Mito? Deus? Pula-se a parte dos elogios. Jeff Buckley não precisa disso. Sua música se impõe a qualquer tentativa de qualificação e adjetivação. A única coisa certa é que pertence ao seleto clube daqueles que passaram como um cometa pela vida e arrancaram para si um pedaço da história da música, assim como Cobain, Joplin, Morrison, Hendrix e tantos outros.

Jeff era filho de Tim Buckley, trovador solitário, exímio cantor e letrista, morto numa overdose acidental de heroína em 1975, quando o filho tinha apenas oito anos de idade. A convivência com o pai foi mínima, mas é inegável a influência que a música feita por ele teve nas canções do filho, fato este que sempre perturbou sua vida: "Toda essa coisa sobre meu pai, eu nunca conheci ele, sério! É tão difícil conviver com isso. Eu sou Jeff, não Tim. Você acha que o que eles dizem é verdade?", disse, certa vez, a um amigo.

Assim como seu pai, Jeff não tinha restrições de gênero, misturando rock, folk, jazz, blues e música oriental em suas canções recheadas de letras dramáticas e extremamente poéticas. Seu grande diferencial, porém, era a voz. Não que o pai cantasse mal, mas o filho possuía cordas vocais abençoadas, com um alcance de notas fora de qualquer normalidade, sustentando-as de maneira absurda (como, por exemplo, em "Mojo Pin").

Fruto da boemia de Greenwich Village, Nova York, Jeff Buckley conviveu em meio a poetas, músicos e artistas em geral, os quais ele costumava chamar de "os últimos escritores, artistas, expressionistas de verdade". Essa convivência trouxe toda a bagagem musical que despejava em suas canções, assumindo como influências artistas díspares como Ella Fitzgerald, Nina Simone, Van Morrison, Bob Dylan, Edith Piaf, Leonard Cohen, MC5, Lou Reed, Robert Plant, Freddie Mercury, Pixies, Sebadoh, David Bowie e o maestro paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan, a quem se referia como seu "Elvis" (nitidamente sua maior influência no estilo de cantar).

Prova dessas múltiplas referências é seu único álbum lançado em vida, "Grace", uma obra cujo gênero é impossível de ser definido. Jeff mistura bases pesadas ("Mojo Pin", "Grace" e "Eternal Life"), canções cortantes sobre amor e perda ("Last Goodbye" e "Lover, You Should`ve Come Over"), estruturas de música oriental ("So Real" e "Dream Brother") corais de igreja ("Corpus Christi Carol", cover de Benjamin Britten) e duas versões de chorar ("Lilac Wine", de Nina Simone e "Hallelujah", de Leonard Cohen"), tudo sob a regência de uma voz ora sublime ora cortante e arranjos muito bem elaborados.


Não bastassem todos os elogios à voz e às bases musicais, Buckley também merece reverência por sua letras, verdadeiros lamentos líricos que retratam sua condição de amante perdido num mundo com o qual ele nunca se conformou. "Mojo Pin" expõe o uso da heroína como supletivo de um amor perdido ("Don’t wanna weep for you, I don’t wanna know/I’m blind and tortured, the white horses flow/The memories fire, the rhythms fall slow/Black beauty I love you so"). Buckley era usuário assumido de drogas pesadas, tendo, inclusive, "dividido" seringas com Courtney Love e outros figurões do começo dos anos 90. "Last Goodbye" é das mais linda canções de despedida, tema recorrente em suas letras: "This is our last goodbye/I hate to feel the love between us die/But it's over/Just hear this and then i'll go/You gave me/more to live for/More than you'll ever know").

Em maio de 1997, no auge de seu sucesso, preparando o lançamento de seu segundo disco, Buckley e um amigo vão até a beira do rio Mississipi beber e desabafar (ele não estava suportando as pressões da gravadora para que lançasse um disco com a fórmula do primeiro). No ápice de sua loucura, Jeff entra de roupa no rio. Um barco passa próximo de seu corpo, gerando uma grande onda, que faz com que ele afunde e desapareça na água. Alguns dias depois o cantor é encontrado morto.

Coincidência ou não, seu fim trágico (outra semelhança com seu pai) fora descrito como um pesadelo pelo cantor na letra de "So Real": "I couldn’t awake from the nightmare/It sucked me in and pulled me under/pulled me under/ Oh! That was so real".

A união de absurdas qualidades musicais e líricas com a vida desregrada e sua morte prematura fizeram de Jeff Buckley um mito dos anos 90. Infelizmente um mito muito pouco conhecido e apreciado.

Se sou fã? Claro que sou! Você também deveria ser...

Artistas Relacionados: Bob Dylan, Tim Buckley, Van Morrison, Nick Drake, Nico, Ryan Adams, Pete Yorn

Site: www.jeffbuckley.com

Nenhum comentário: