5.6.09

Preliminares

Iggy Pop é conhecido por ser o sujeito selvagem que, à frente dos Stooges, deu o pontapé inicial do que viria a se tornar o punk rock. Todavia, dois de seus melhores discos, The Idiot e Lust for Life, feitos em colaboração com um inspiradíssimo David Bowie, são bem diferentes dos discos iniciais de sua carreira: ao invés de urrar sobre guitarras pesadas e batidas tribais, Iggy Pop se tornou uma espécie de crooner decadente acompanhado por camadas de teclados e batidas mais dançantes. Nesta fase foram produzidas belas canções como Nightclubbing, China Girl, Lust for Live e, claro, The Passenger.
E foi justamente nestes discos que Iggy Pop conseguiu equilibrar seu lado selvagem (ou dionísico, como gosta de dizer) com todo o background intelectual que possui. Sim, Iggy é um cara letrado: uma pequena prova disso é o título do disco de 1977, inspirado na obra O Idiota, de Dostoiévski.
Contudo, após esses ótimos discos, Iggy Pop não produziu praticamente nada de muito interessante. Adotou a persona de porra-louca que fez sua fama e tocou a vida cambaleando pelos anos 80 e 90. A única coisa relevante que fez nessa fase, Candy, se distanciava muito da selvageria. E o ápice do fracasso foi o disco lançado com os Stooges, The Wilderness, absolutamente desinteressante.
Felizmente, Iggy é um cara inteligente e conseguiu dar a volta por cima esse ano com um belo lançamento neste ano: Preliminaires. O disco abre com a canção Les Feullies Morts, balada em francês acompanhada por um órgão soturno. O clima pouco roqueiro continua pelo disco todo, com destaque para Spanish Coast, Party Time, o belo dueto Je Sais que Tu Sais e uma versão da bossa nova How Insensitive. Mas esqueçam o banquinho e o violão: como o resto do disco, a canção é sinistra, sombria e melancólica.
O que dizer do álbum, portanto? Para mim, é a típica obra de um roqueiro velho, que se cansou de urrar, saltar no palco e se auto-mutilar. E, artisticamente falando, essa tomada de consciência foi a melhor coisa que aconteceu para Iggy Pop nos últimos anos...




4 comentários:

gaiotto disse...

to curiosissimo pra ouvir esse disco.
o que mais gosto no Iggy é justamente esse lance crooner crazy. qualquer um cantaria I Wanna Be Your Dog, porém a interpretaçao dele em Passenger, China Girl, Nightclubbing, Crazy e tantas outras é demais.
Prefiro ele abusando dos graves da voz de barítono do que berrando de qualquer jeito.

gaiotto disse...

leia-se "Candy" haha

Anônimo disse...

confesso que minha primeira impressão do disco foi: what a drag it is getting old. mas ele fica melhor a cada vez que ouço. e se esse não é um bom jeito de envelhecer, não sei qual é =)

Inconstante disse...

Iggy é como vinho: quanto mais velho, vai ficando melhor. É conhecido, mas pra entender mesmo, dá um certo trabalho.
O cara tem estilo e isso, meus caros, no meio da mesmice "moderninha" do cenário atual, é bastante coisa !