3.10.05

The gift of sound and vision

Não eram só cinco sujeitos tocando canções pop, daqueles que empolgam por duas horas e só – não que isso já não seja o suficiente para um show ser algo fenomenal. O que o Mercury Rev proporcionou ao fechar a última noite do Curitiba Rock Festival está além disso. Algo que não pode ser digerido em duas horas a frente de um palco.
O primeiro detalhe que diferenciou a apresentação das demais foi um telão armado atrás da banda, no qual foram projetadas diversas imagens e citações durante todo o espetáculo, no melhor estilo do Pink Floyd da era do Syd Barrett ou os Velvets quanto eram os queridinhos de Andy Warhol. Antes da banda subir ao palco foram projetadas diversas capas de álbuns, livros e filmes que, de uma forma ou de outra, influenciaram a banda: estavam lá desde o jazz vanguardista de Coltrane, Coleman e Sun Ra até o pós-punk dos Replacements, Hüsker Dü e Galaxie 500, passando ainda por Bob Dylan, Leonard Cohen, Kerouac, Chemical Brothers etc.
Terminadas as projeções iniciais a banda sobe ao palco, com o vocalista Donahue empunhando meia garrafa de vinho tinto. Abrem o show com “Secret for a Song” a primeira faixa do último álbum, “The Secret Migration”. Pelo resto do concerto o grupo iria tocar praticamente todas as faixas do disco, com destaque para a climática “My Love” e a empolgante “Vermillion”.


Palco do show do Mercury Rev: sincronia entre sons e imagens.


Um dos pontos altos do show foi a execução de “Tonite It Shows”: o guitarrista Grasshoper, que trocou um pouco sua Stratocaster por uma gaita de boca, e o baixista, que trocou seu instrumento por um piano elétrico, criaram o cenário perfeito para que o performático Jonathan Donahue cantasse e gesticulasse os belos versos da canção. E algo semelhante ocorreu no número final, “The Dark is Rising”, com o lunático líder da banda comandando explosões sonoras de uma orquestra imaginária.
E durante todo o espetáculo as projeções continuaram. Citações de artistas, filósofos e até mesmo o Mestre Yoda ou do E.T. eram alternadas com palavras de ordem, algumas beirando perigosamente a auto-ajuda, além de pedaços de filmes e imagens aleatórias. Tudo era tão bem costurado que, apesar de chegarem perto de merecerem o título de pedantes ou de hippies, a dignidade foi mantida intacta.
No conjunto da obra, a climática música da banda, que consegui reproduzir a grandiosidade das gravações de estúdio, acabava se integrando perfeitamente às imagens e à performance de Donahue, ficando claro que tudo não era apenas um show de rock.

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