8.7.05

A necessidade do Choro

Alexandre Magno Abrão, vulgo Chorão, é aquele homem que todos amam odiar. Dono (sim, dono!) da maior banda de rock do país (ao menos em vendagens e popularidade), criador de tantas frases de efeito como confusões e brigas, seja no meio musical como em sua vida pessoal, consegue personificar em si todo o ódio e a raiva de um grande número de adoradores de música que se dizem contra as regras de mercado, as "bandas produzidas" e os letristas burros.
Fato notório que suas letras não remetem a nenhum Carlos Drummond de Andrade ou Vinícius de Moraes, principalmente no quesito gramática (aliás, tenho certeza de que poucos dos que o criticam já analisaram realmente suas letras). Óbvio, também, que sua postura não é a mais humilde e amistosa, principalmente com seus detratores. Ainda, suas melodias e harmonias não representam muita inovação em relação a dezenas de bandas de punk rock ou ska-core. Mas, mesmo assim, por que tanto sucesso? Eu tenho uma teoria.
A figura e a postura de Chorão são necessárias em qualquer cenário musical. Imaginem se todas as bandas fossem feitas de meninos barbudinhos que usam camisas da C&A e adotam a postura de gênios desleixados? Ou ainda se todas os grupos primassem por novas elocubrações melódicas e harmônicas, misturando rococó com o barroco nacionalista e pitadas de art-noveau post-surrealista? Ou ainda, se todos resumissem seu trabalho numa emulação forçada de melodias punk rock chupadas de trocentas bandas californianas e adicionassem letras típicas de cantores breganejos, só porque é "legal" ser emotivo e raivoso hoje em dia? O mundo seria um saco!
Pode-se falar que ele é babaca, folgado, chato e bobo de galochas e até burro em suas letras, mas uma coisa não dá pra negar: o rapaz é sincero e representa muito a juventude brasileira (pelo menos a grande maioria dela). Não dá pra sustentar sempre essa arrogância pequeno-burguesa de julgar a arte fora de seu contexto de criação e de direcionamento.
Seu comportamento e sua criação são absolutamente iguais a artistas como Liam Gallangher, Axl Rose e Anthony Kiedis, justamente por todos eles terem a mesma bagagem: lares destruídos, abuso de drogas, pobreza (tirando o Kiedes), falta de educação, ausência de perspectivas e por aí vai. E isso reflete em suas letras poeticamente pobres (para a maioria) e em seu estilo "não mexe comigo que eu te quebro". E, você que está lendo isso agora, vai negar que essa é a vida de 90% da juventude do nosso país? Claro que não.
E não só os "pobres-burros-alienados" (na patética visão de quem assim pensa) se envolve com esse tipo de som. A massa do pessoal mais novo da classe média alta também se identifica com esse comportamento e com essas musicas porque justamente vivem sua fase de "rebeldia sem causa" (tenho certeza que a grande maioria aqui gostava de Charlie Brown Jr. a seis ou sete anos atrás).
Assim, apesar de todos os aspectos negativos, é inegável que o rapaz tem talento, suas músicas são boas e correspondem ao objetivo a que se propõem. É bobo e frágil demais esse modismo de "eu odeio o Chorão", baseado em elitismos intelecutais cretinos e dignos de desprezo.
Uns acham Arnaldo Antunes um gênio. Eu ainda prefiro o Chorão.

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