20.5.05

Cadê meu anti-ídolo?!

Conforme comentamos há alguns meses, o Luna acabou. O último show ocorreu, sem muito estardalhaço, em 28 de fevereiro último, no Bowery Ballroom (NY). A banda não comentou muito o assunto, mas, ao que parece, Dean Warehan simplesmente estava de saco cheio.
Que o Luna era uma banda fenomenal, a qual dominava a técnica de criar canções que mantinham um pé no alternativo e outro no mainstream, todo mundo sabe – e, quem não sabe, deve conseguir agora o último disco da banda, “Rendezvous”. Mas, além disso, o Luna fazia parte daquele restrito rol de bandas cuja missão é fazer música. Eles não ligavam para cabelinhos estilosos, declarações bombásticas, casos com supermodelos ou escândalos semanais por abuso de drogas.
Não acho que há nenhum problema grave em associar a imagem com a música. Velvet Undergound, os Sex Pistols e David Bowie são três dos inúmeros exemplos que conseguiram fazer com que o som e a imagem fossem facetas de uma mesma proposta artística. O problema surge quando um grande número de sujeitos acaba firmando-se mais na aparência, algo que, na minha opinião, é típico das bandas dos anos 2000.
Acho que, apesar de termos um bom número de boas bandas, tenho lá minhas dúvidas se essa postura hype não as ajudou a chegar onde chegaram e se isso não acaba atrapalhando uma substancial evolução delas. Não sei se elas seriam capazes de colocar essa imagem em risco em função da música. Os Strokes, para ficar no exemplo mais óbvio, lançaram um “Is This It”, parte 2, com o "Room on Fire".


Dean no último show do Luna


E é exatamente por esse motivo que determinadas bandas, como o Luna, o Mercury Rev ou o Wilco acabam tendo hoje uma importância maior do que tinham na época em que surgiram. Acredito que elas são as poucas que carregam aquela lição ensinada por muitas bandas que explodiram no começo dos anos 90 e que ligavam mais para mudar a história da música pop do que para cabelinhos engomadinhos.
Se pegarmos esses artistas, é fácil de notar que o caminho mais fácil não era o preferido. Nirvana partiu para o pesadíssimo (tematicamente, inclusive) “In Utero” após o palatável “Nevermind”. O R.E.M. optou pelo orquestral “Automatic for the People” após o sucesso de “Out of Time”. E nem é preciso comentar o caminho do Radiohead após o “Ok Computer”, certo?
Talvez o pessoal “novo rock" deva ser apresentado ao hermitão Jandek – aquele maluco que lança disco há 20 anos, fez uma única apresentação ao vivo, não tem fotos nem entrevistas. Sua música pode ser esquisitíssima, mas, ao menos, ele é a prova viva da possibilidade de fazer música sem essa ligação umbilical com uma imagem.

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