8.10.09

Saudosismo aos 26...

Não faz tanto tempo assim, eu era moleque. Um a mais por aí, como você. Daqueles que reservava uma parte do dia para deitar na cama, colocar o CD no aparelho de som, pegar o encarte e ficar ouvindo e lendo as letras. Sem estar na frente da tela do computador e sem ter quatrocentas e vinte e sete bandas no playlist. Era só aquela. E só aquele CD.

E isso era coisa que se repetia todo santo dia. E com o mesmo CD. Até que aparecesse um aniversário ou um dia especial qualquer e ganhasse mais um punhado de outros. E aquela deliciosa sina continuava.

Sabíamos todas as letras e as versões alternativas delas. Os solos eram decorados e mapeávamos cada barulho estranho que apareciam ao fundo. As do Nirvana eram prato cheio pra isso. Sempre tinha um riff pra aprender a tocar. Havia músicas secretas, aquelas que só quem dormia ouvindo o disco descobria, assustado, depois de pegar no sono. Gravávamos clipes em fitas de vídeo, normalmente de madrugada ou domingo de manhã. Tenho dezessete delas. Ca-ta-lo-ga-das, entendeu?

Idolatrávamos bandas e movimentos com o fanatismo de torcedores de futebol. Quem gostava de Seattle não podia ouvir Guns N’ Roses nem metal-farofa. Não podia, mas ouvia escondido em casa. Os alternativos nem citavam o nome de bandas de grandes corporações. Tiveram que aprender a balbuciá-los depois do “grunge”. Mas ainda assim levantavam grandes discussões sobre a liberdade artística e influência da gravadora na produção dos discos. As ditas independentes de um lado, as “vendidas” de outro.

Os jornalistas fomentavam e informavam essas discussões. Mandávamos cartas ensandecidas pra jornais e revistas. Forastieri, Álvaro e afins... amados no domingo e odiados na segunda. Os textos eram grandes e bem escritos. Muito mais do que este.

Olho pro meu iPod com 80 giga de músicas. O notebook lotado de MP3. O Youtube com todos os clipes que demorei anos pra gravar e milhares de outros que nunca vi. And I just can´t seem to get enough...

Blogs, jornais e revistas falando de cento e quarenta e duas novas salvações do rock por dia, cada um com seu estilo; cada estilo com um nome composto por no mínimo três outros estilos. Não há mais solos fraseados nem riffs matadores. Raro de se ver alguém tocando no violão alguma dessas novas bandas. Salvo pouquíssimas exceções, todas as canções parecem ter vindo do mesmo software, que é responsável pela linha de montagem “Peter Hook/Timbaland”.

E o mais incrível é que não estou comparando meu pai comigo. Falo sobre a mesma geração, a minha geração.

2 comentários:

d. chiaretti disse...

Por isso que voltei a comprar discos... Esperei pra ouvir o God Help the Girl no estilo antigo. Resultado: viciei no disco do começo ao fim. Algo cada vez mais raro nessa era de MP3...

gc8972 disse...

Esse seu texto é mesmo ótimo.