30.9.05

O barulhento som do amor

Dentre as bandas que abriram a última noite do Curitiba Rock Festival, poucos destaques. Os Móveis Coloniais de Acajú animaram parte do público com seus metais e a empolgação de seus membros. Los Diaños também atraíram atenção com seu punk movido a contra-baixo acústico, trumpete e guitarra distorcida. E o Ultramen, por ter um bom número de fãs, também chamou atenção, apesar da banda parecer um Rappa mal ajambrado.
De resto, sobraram bandas ruins, anacrônicas ou simplesmente chatas. Patife Band mostrou que o envolvimento com a “vanguarda paulista” não serviu para nada, já que tocaram um punk rock da pior espécie. A hypada Karine Alexandrino parecia um Cansei de Ser Sexy piorado, cantarolando tortamente sobre bases eletrônicas sem graça. Um ou outro grupo que não citei deve ter sido tão pavoroso que me fez ir beber cerveja ou olhar a chuva ao invés de ficar perto do palco.
Dessas apresentações tirei as seguintes conclusões: ou as bandas brasileiras são realmente ruins, sem nenhuma inventividade, ou não foram convidadas as bandas certas, que foram preteridas diante dos queridinhos de sempre. Pouco importa qual seja a verdade, pois os dois cenários não são nada animadores.
Mas o melhor ainda estava por vir, e a noite começou mesmo quando os Raveonettes, herdeiros diretos da mistura de "barulho branco" com belas melodias criada pelo Jesus and Mary Chain, entraram no palco.


Sharin Foo, grande destaque da apresentação dos Raveonettes


A beldade Sharin Foo, vestida como uma ginasial americana em um baile da primavera, poderia fazer o público acreditar que todos estavam nos anos 50, não fossem as três guitarras - uma delas capitaneada pela outra metada de banda, o sinistro Sune Rose Wagner - que, quando não estavam disparando riffs a lá rockabilly, apitavam e enchiam o Curtiba MasterHall de feedback.
A base da apresentação foi o último disco da banda, “Pretty in Black”, que fez o público dançar em canções como a empolgante “That Great Love Sound”, o single “Love in Trashcan”, e “My Boyfriend is Back”, espetacular cover das Angels, grupo vocal dos anos 50. Mas os hits antigos não foram esquecidos, em especial “The Attack of the Ghost Riders”, um dos pontos altos do show.
Por fim, o carisma da banda merece destaque especial. Sharin Foo falou com o público o tempo todo, e parecia estar surpresa com a recepção que tiveram do público brasileiro. Ao final da apresentação fez questão de descer próximo ao público e sair apertando as mãos do pessoal.
Um amigo disse que quem nunca viu o Jesus and Mary Chain pôde se contentar com os Raveonettes. E, de fato, apesar da banda não plagiar os irmãos Reid, a microfonia desses escoceses continua tão viva quanto em 1986.

27.9.05

EXTRA EXTRA EXTRA!!!

Pra quem não foi ou pra quem quer lembrar aí vai um link com vídeo das 3 primeiras músicas do show do WEEZER!

GET THE VIDEO

Slap you on the face and enjoy the show!



Inesquecível. Isso é só um pouco do que pode ser falado da primeira (e provavelmente única) apresentação do Weezer no Brasil. Obviamente por se tratar de uma banda cheia de mistérios, o show foi precedido de um sem-número de boatos e rumores, que caíram por terra quando aqueles quatro americanos empolgados subiram ao palco.

Primeiro, um desagravo à organização do show. Se esses caras de Curitiba pretendem manter o sucesso do festival deveriam pensar seriamente em se profissionalizar. A venda de ingressos foi um desrespeito, a escalação das bandas deixou a desejar, o local do show mudou na última hora e o horário de início em São Paulo era 15 hrs e, para surpresa, em Curitiba era 19 hrs (tudo bem que deu tempo pra tomar uma cerveja ao som de Teodoro e Sampaio num buteco sertanejo – aliás, nunca vi uma cidade com tão poucos butecos por quarteirão!!).

Mas, vamos ao que interessa. Antes do Weezer tocaram algumas bandas independentes brasileiras, das mais variadas regiões do país. As duas de maior destaque foram Biônica (SP) e Acabou La Tequila (RJ).

A primeira por seu tradicional show ridículo, feito por músicas ridículas e pela postura ridícula da moça “MTV-Na Base”. Como uma banda tão ruim, em todos os aspectos, pode ser cogitada para tocar nesse e em outros festivais?

Mistérios à parte, o Acabou La Tequila entrou na seqüência com um show memorável. Tinha curiosidade de ver ao vivo a banda idolatrada por Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante. E, de fato, os caras mandam muito bem. Dá pra notar claramente a influência deles no primeiro disco dos Hermanos. A banda é praticamente uma constelação do mundo indie: Kassin é o produtor do Los Hermanos, Nervoso é um dos mais elogiados em sua carreira solo e Gabriel Thomaz, o gênio por trás do Little Quail and The Mad Birds e do Autoramas. Puro gás!

Aí veio o Weezer. Os caras já entraram botando fogo no público com a seqüência matadora de “My name is Jonas”, “Tired of Sex” e “Don´t let go", causando catarse coletiva nos ávidos fanáticos que se estapeavam na platéia.

A empolgação da banda era absurda e a qualidade do show impressionava. Rivers realmente parece um nerdinho dos filmes da sessão da tarde, com um paletó “meu-vô-tinha” e uma cara de tonto idêntica a do Samuel Rosa. Mesmo assim se mostrou um grande condutor de platéias. Destaque também para Brian Bell com backing-vocals e vocais potentes e infalíveis e uma guitarra pesadíssima.

Depois de “This is Such a Pitty” a banda, após divertir o público, começa inacreditavelmente a tocar “Big Me”, do Foo Fighters. O público vem a baixo, acompanhando toda a letra da música. Não era o Killers alardeado pelo Lúcio Ribeiro , mas valeu pela raridade do momento.

Após “Buddy Holly e “Photograph”, essa com Rivers Cuomo na bateria e Pat Wilson no vocal e guitarra, no melhor estilo Nirvana em 93, uma pequena pausa e Rivers surge no meio da platéia VIP e toca “Island in the sun”, ovacionado pelo público, num belo momento acústico que lembrou Jack White em Manaus.

Voltando ao palco, a banda, para delírio da platéia, resolve recrutar algum fanático para tocar com eles a próxima música. O sortudo escolhido por Brian Bell mal sabia o que estava fazendo no palco, tamanha a surpresa. E a banda toca “Undone” com direito a performances de Rivers e Brian Bell junto com o garoto (que quase meteu o violão na cara do Rivers).

O show terminou potente com “Surf Wax America”, com o público emocionado e na certeza de que aquilo ali não se repetiria tão cedo.

Ao fim do show uma coisa chamou a atenção de todos: eles não tocaram NADA do Maladroit. Quem conhece a banda sabe que o esquisitão do Rivers não gosta nem um pouco do disco e isso ficou bem claro em Curitiba. Mas, tudo bem, não fez falta alguma.
PS: No site da banda eles dizem que esse show está entre os maiores de todos os tempos. Com certeza não é um exagero.