9.3.05

Rocky Votolato - Suicide Medicine





Ele não é conhecido, ele não é famoso, ele não pertence ao catálogo de nenhuma grande gravadora. Mas ele é foda. Texano de nascimento e agregado ao efervescente mundo musical de Seattle, Rocky Votolato iniciou sua carreira na obscura banda Waxwing, em 1996, um projeto que não proporcionou maiores honrarias. Percebendo a discrepância entre a expressão de suas letras e o som produzido pela banda, Rocky optou por procurar uma nova textura, mais calma e intimista, baseada na bela interação de sua voz, suas letras e o violão. Assim, em 1999, iniciou sua carreira-solo, com um disco que levava apenas seu nome como título, despejando canções que, tempos depois, iriam ser enquadradas naquilo que a imprensa musical classificou como “alt-country” (aliás, que rótulo tosco!).


Nesse terceiro trabalho, Votolato chega ao ápice de seu lirismo, conseguindo reunir um grande acervo de músicas potentes e letras que impressionam pelas imagens e sentimentos expressados, passando da revolta quase panfletária (“Prison is Private Property”) a uma tristeza e melancolia que chegam a dar dó (“Alabaster” e “Automatic Riffle”). Por trás de suas composições e de seu voz-e-violão está uma banda de apoio formada por Casey Fobert (do Pedro The Lion), Seth Warren (do Red Stars Theory) e Matt Johnson (do Roadside Monument) e a produção de Chris Walla, que já trabalhou com o Death Cab for Cutie.


Certamente a maior marca de todas as faixas é a força empregada por Votolato na interpretação de suas letras, dando ênfase ao seu belo texto, que traz pérolas como em “Suicide Medicine” (“Oh god I love you / I mean forever / I left my body behind to break the news / looks like it's over / please remember all of the things I never got a chance to say / like you look smashing in your fourth grade picture the one that we hung by the door / in our house that was so beautiful / there in our little home”) e na mais bela canção do disco, “Automatic Rifle” (“The night I turned 25 it was legos on the floor / it seemed like a safe enough game / for a man to play with his daughter / an automatic rifle and a bullet through the window / and the troops are satisfied that justice had been delivered”). Vale observar que Rocky deixa expresso um lirismo violento, repleto de imagens fortes, como em “The Light and The Sound” (“If I have to crack open your skull with my fist/ I´ll let the light and the sound escape”), “Death-Right” (“I´ve seen men wallow in fear/ Inaction acts as a blade across the throat”) e “Prison is Private Property” (“But I´d rather starve than be a whore for an
empty living
”).



É nesse ponto que aparece o grande diferencial de Votolato em relação a seus pares de estilo: sua letra não se baseia apenas no romântico estado de sofrimento amoroso ou de depressão melancólica. Traz também, e de maneira muito forte e recorrente, versos cortantes e agressivos, acenando com cenas e vivências chocantes, num “realismo” (aqui como oposição ao “romantismo”) que destoa do genericamente produzido no gênero. Por isso, talvez, a relutância de Rocky em ser associado a bandas como Dashboard Confessionals e Bright Eyes. Como ditto por ele em entrevista: “Whoever is the big deal, that´s sort of what the smaller artists with na acoustic guitar will be compared to. Four years ago, everyone said I was like Elliot Smith. That´s the easy and lazy thing to do, but that´s always gonna happen and it doesn’t bother me. I don´t care. If people really wanna listen to my record they´ll be able to hear the differences. I just don’t think it´s woth losing any sleep over”.

O que se pode dizer é que o resultado do disco insere Votolato com destaque no grande rol dos artistas do “alt-country” que começam a despontar, como Damien Rice, Damien Jurado, David Gray e Pernice Brothers, ao mesmo tempo em que trás reminiscências de Jeff Buckley e Paul Westenberg, isso sem falar em Nick Drake e todos os folk-men (existe essa expressão?) dos anos 60 e 70. Vá atrás, vale a pena.

Nenhum comentário: