
O problema é que as citações lançadas a cada 15 segundos sobre o expectador não passam de uma cortina de fumaça: o roteiro do filme é ruim, os diálogos são ruins, os personagens são ruins. Outras comédias românticas como Ligeiramente Grávidos, Simplesmente Amor ou mesmo a série O Diário de Bridget Jones são bem melhores cinematograficamente.
Contudo, na estréia, o público alternativo parece não ter notado que o filme é ruim: a cada citação reconhecida (por mais óbvias que sejam, como um Here Comes Your Man, dos Pixies, ou um poster do Psychocandy), o público vibra: "olha, olha! Jesus!"
Me lembrei então de um dos primeiros filmes indie que bateram no mainstream: Alta Fidelidade, baseado na obra de Nick Hornby. Estavam lá todas as citações óbvias: Belle and Sebastian, Nirvana, The Jesus and Mary Chain. Mas o filme (e o livro) fugia do clichê, com citações de bandas obscuras, clássicos soul e funk. E, mais do que isso: o filme é bom! Alguém que goste de bom cinema pode assistir ao filme e se divertir mesmo sem compreender qualquer das citações. Não é o caso de 500 Dias com Ela.
Talvez isso mostre o que é ser indie hoje em dia: é ter um repertório que, mesmo composto de obviedades colhidas pela internet, dê uma ilusão de superioridade. É saber citar, é saber compreender as citações. Já a esperteza, aquela pontinha de arrogância e, acima de tudo, o humor, são coisas do passado.