13.6.05

O Brasil e a música alternativa (parte I)

Começo a coluna já partindo de uma opinião: a dita cena alternativa (ou indie) brasileira é extremamente ruim. Acho as bandas, em sua esmagadora maioria, muito fracas. Tanto que tenho quase certeza absoluta que, se confrontássemos nossa cena com a de outros países, perderíamos de lavada. Mas, para não ficar só no “achismo”, vou tentar fundamentar minha opinião nesta coluna e em outras futuras
Um dos vários problemas que vejo em nossa cena alternativa é uma certa “imposição” de brasilidade. Muitas vezes me parece que certos artistas são colocados num patamar superior simplesmente porque optaram por incluir certos elementos da música brasileira em seus trabalhos. E não vou limitar isso à elementos música popular brasileira, especialmente samba, mas também à temática e ao idioma.
Exemplo clássico dessa “imposição” é o boom que houve de bandas cantando em português após a estouro da fase “Bloco do Eu Sozinho” do Los Hermanos. Depois disso uma quantidade expressiva de bandas passou a cantar em português e a agregar elementos da MPB às canções. Muitas inclusive se tornaram covers patéticos do Los Hermanos (alguém falou Gram?)...
Contudo, acredito que a sonoridade do Los Hermanos foi obtida de um modo mais orgânico, mais natural. Além disso, seus membros realmente parecem conhecer a música popular brasileira. Assim, poucas bandas antes do grupo conseguiram trazer elementos de música genuinamente brasileira para uma estrutura de música pop – a qual foi originalmente concebida por pessoas cantando em inglês - fazendo com que letras cantadas em português não soassem simplesmente idiotas.
Poderia até citar mais exemplos, como a busca frenética por batidas brasucas em músicas eletrônicas ou a inserção de elementos modernosos na nossa bossa nova. Fórmulas as quais, diga-se de passagem, já foram usadas à exaustão. Mas só um exemplo já é suficiente para mostrar o problema.
Assim, acredito que essa postura não se deve somente à busca por uma fórmula de sucesso fácil, apesar desse ser um fator importante (Ludov que o diga...). Acho também que há um certo preconceito contra artistas que simplesmente ignoram - não necessariamente no sentido de desconhecimento, mas sim de não utilização – a música brasileira em prol de um estilo musical diverso. Uma banda de harcore sempre será vista como inferior a um sambista, por exemplo. E um Sepultura inferior a um Lenine.
Mas, o irônico é que esse modo de pensamento é exatamente o oposto daquele vigente em países responsáveis por uma produção de música pop de qualidade. Ninguém nega, por exemplo, a contribuição que os ingleses deram ao blues, através de artistas como Eric Clapton ou John Mayall. E qual a ligação do blues com a Inglaterra? Qual a ligação entre um negro que trabalhava no sul norte-americano com um garoto do subúrbio de Londres? E o mesmo se diga dos Beatles, aficcionados por rhythm and blues americano. Ou mesmo os dinamarqueses e modernos Raveonettes, que emulam, com certa originalidade, canções pop a lá Phil Spector na cara dura.
Portanto, acredito sinceramente que esse tipo de preconceito um tanto quanto elitista deveria ser sumariamente banido para que a produção musical fosse avaliada simplesmente pela qualidade, e não por um ufanismo barato que acaba dando um valor indevido a artistas simplesmente medíocres.


DISQUINHOS PREFERIDOS


Cold Roses - Ryan Adams: depois de “Love is Hell”, rejeitado pela gravadora, e da incursão pelo rock puro e direito de “Rock N Roll”, Ryan resolveu voltar às suas raízes alt-country. Apesar dos excessos de um disco duplo, canções como “When Will You Come Back Home” ou “Sweet Illusions” são exemplos perfeitos do melhor que o compositor pode oferecer.

So Young But So Cold: Underground French Music 1977-1983: disquinho interessante para ver que as modernas bandas dançantes não roubaram suas melodias de teclados e batidas somente Gang of Four e New Order.