23.12.09

Melhores da década - parte 2: subestimados

Segue agora uma lista mais compromissada com minhas preferências pessoais do que com a influência, o impacto, a vendagem ou qualquer outro critério, os quais foram levados em conta na lista anterior.

Black Box Recorder - Facts of Life (2000): no começo dos anos 2000 o britpop já estava morto. As grandes obras do gênero foram todas feitas nos anos 90 e muitas bandas que fizeram sucesso no estilo estavam extintas. Neste sentido, Facts of Life é uma espécie de "álbum de ressaca" do britpop. A temática é a mesma abordada por Blur, Pulp e companhia: o vazio da vida burguesa inglesa. Mas a grandiloquência, as cores e o clima de festa são substituídos por harmonias com clima de trip-hop e letras amargas, cantadas pela bela Sarah Nixey.



Oh, Inverted World - The Shins (2001): primeiro disco do grupo americano que faz um som que transita entre o power pop e o alt-country, este Oh, Inverted World consegue ser melancólico ("New Slang"), animado ("Caring is Creepy"), retrô ("Girl Inform Me") sem perder a unidade. Um disco daquilo que um dia foi chamado de indie rock, estilo que acabou se perdendo graças a modismos e autorreferência.





Modern Age EP - The Strokes (2001): não foi o Is This It que lançou os Strokes: foi este EP que iniciou todo o hype ao redor da banda que tinha a missão ingrata de ressucitar o rock. As versões de Modern Age, Last Nite e Barely Legal são deste álbum são mais cruas, e mostravam que a banda podia mesmo ter salvo o rock...




Black Sheep Boy - Okkervil River (2005): Will Sheff, líder dessa banda norte-americana, inspirou-se na história do compositor Tim Hardin para criar um álbum com ares country, mas permeado de instrumentos diferentes, como acordeões e trompetes, e guitarras saturadas na medida certa. Destaque para as letras do álbum, como os seguintes versos da canção "For Real": "Some nights I thirst for real blood, for real knives, for real cries. And then the flash of steel from real guns in real life really fills my mind."



The Secret Migration - Mercury Rev (2005): produto de uma banda madura, empenhada simplesmente em fazer boas canções. Ótimas melodias, harmonias que vão da psicodelia de bandas como Love até o folk-country de Neil Young, além de uma infinidade de imagens e metáforas geniais infestando as boas letras do grupo.



The Great Unwanted - Lucky Soul (2006): sem qualquer intenção de inovar, o Lucky Soul foi direto aos anos sessenta das Ronettes para buscar inspiração para um dos discos mais pops da década, capaz de curar qualquer depressão.



The Night Falls Over Kortedala - Jens Lekman (2007): segundo LP deste sueco que, a partir de samples, constrói adoráveis canções retrô na melhor linha Belle & Sebastian.

21.12.09

Melhores da década - parte 1: unanimidades

Dividi minha lista das melhores da década em três. Nesta aqui vou postar as unanimidades dos anos 2000: bandas e artistas que, por motivos óbvios, estão em quase todas as listas especializadas publicadas neste ano. Tentei ser abrangente.
Depois vou publicar uma listinha com os subestimados da década. Por fim, outra listinha com singles.



Radiohead - Kid A (2000): a história é conhecida: todos esperavam um novo Ok Computer, mas a banda retornou com um disco esquisito, sem guitarras e carregado de batidas eletrônica quebradas que soa muito melhor hoje em dia. Com letras urbanas e totalmente paranóicas, a banda antecipou muito do que seria o pop na década vindoura, ajudando a catapultar o Radiohead para o panteão das bandas politicamente corretas que "têm algo a dizer".




Flaming Lips - Yoshimi Battles the Pink Robots (2002): que tal falar sobre morte e solidão através da história de uma menina que treina karatê para combater robôs rosa? Com essa idéia os malucos do Flaming Lips compuseram um dos mais belos discos da história. Ou há alguma canção mais bonita do que Do You Realize?



Wilco - Yankee Hotel Foxtrot (2002): o disco foi da rejeição pela gravadora a um Grammy após ter sido vazado na internet, o que ajudou a mostrar a força do MP3 e de sites especializados. O disco mistura estilos tradicionais como country e folk com experimentalismo dos bons, consolidando o Wilco como uma das mais criativas bandas americanas.



Arcade Fire - Funeral (2004): molecada canadense com um show insano e um estilo extremamente original que conseguem fazer com que músicas sombrias soem empolgantes. Nada produzido na década soa como essa banda.



Beirut - Gulag Orkestar (2006): projeto do moleque Zach Condon que trouxe elementos música do leste europeu para o pop. Outro disco original, que não soa como nada feito nesta década, apesar das várias referências musicais do disco. Mostrou que nem só de anos 80 vive a música pop.



Radiohead - In Rainbows (2007): fora da EMI a banda conseguiu surpreender (e vender) na era do MP3 ao lançar um disco sem preço. Além disso, a qualidade musical ajudou no hype: sem abandonar os experimentalismos, nem retornar para a fase Ok Computer, o Radiohead lançou seu álbum mais acessível na década.



TV on the Radio - Dear Science (2008): a música negra por excelência na década foi o R'n'B. Aliás, há um bom tempo que os negros abandonaram o rock'n'roll. Assim, é muito interessante ouvir uma banda como o TV on the Radio, formada majoritariamente por negros nova-iorquinos, que vai contra o consenso e investe no rock. A influência de toda a música negra criada desde os acordes revolucionários de Johnny Be Goode está presente de forma marcante no disco: ritmos quebrados, alto alcance vocal, metais providenciados pelo saxofonista do grupo Antibalas Afrobeat Orchestra etc. Mas, apesar de todos esses elementos, as canções ainda têm uma estrutura pop.



The XX - XX (2009): a primeira década dos anos 2000 revisitou os anos 80 à exaustão. Os XX não fizeram diferente, mas conseguiram fugir dos excessos daquela década. No primeiro disco da banda, claramente influenciado por The Cure, Joy Division, Bauhaus e outros grupos vestidos de preto, a banda optou por silêncios, riffsde guitarras curtos e duetos lascivos entre os vocalistas. Podia ter saído em 1983, mas foi lançado 26 anos depois. Por isso, é original.

7.12.09

Melhores da década (parte 1) - gaiotto

A partir deste post elegeremos de maneira obviamente idiossincrática os melhores discos da década. Ou os que mais nos chamaram a atenção, ano a ano. Terei os meus critérios e o Chiaretti os dele e, é claro, desagradaremos muita gente. Procurei não repetir bandas, apesar de algumas como Franz Ferdinand e Queens of the Stone Age merecerem muito. Também busquei pescar na memória aquilo que mais ouvia na época, independentemente de minhas preferências atuais (que não mudaram quase nada). Enfim, pra quem gosta de listinhas, divirta-se!





2000 – QUEENS OF THE STONE AGE – RATED R

Responsável por trazer o stoner rock ao mainstream, o segundo disco da banda do inquieto Josh Homme causou extremo impacto no começo da década e influenciou um imenso número de bandas internacionais e brasileiras. Guitarras rasgadas e muito altas, vocais ora berrados ora melódicos-pop e letras nada conservadoras, unidos a uma produção impecável. Divertido lembrar do choque no Brasil com a apresentação “à vontade” no Rock in Rio. Destaques: “Feel Good Hit of the Summer” e “The Lost Art oh Keeping a Secret”.







2001 – LOS HERMANOS – BLOCO DO EU SOZINHO

O disco que mudou a música brasileira no início do século XXI: trouxe o samba ao indie e enfiou o rock de volta à MPB. As reações foram fortes e variadas no lançamento, principalmente por se tratar de uma banda que dominava o pop adolescente da época. Fato é que ninguém esperava uma obra repleta de letras cuidadosamente construídas, misturadas a harmonias estranhas e acordes que não se tocavam por aqui há anos. Apesar de ter horror ao termo, pode-se dizer que se trata do típico disco de vanguarda. Destaques: “Retrato pra Iaiá” e “A Flor”.









2002 – LIBERTINES – UP THE BRACKET

Guiados pelo inesperado sucesso do single “What a Waster” (que não fazia parte do CD originalmente), soltaram um dos discos de estréia mais incendiários desta primeira década dos anos 00. Produção cuidadosamente desleixada, forte influência do punk inglês e um guitarrista problemático levaram a banda a todas as capas de revistas britânicas. Não consigo imaginar quantas vezes ouvi esse disco nas minhas viagens de ônibus, ainda no discman. Armação ou não, é uma banda que deixa saudade. Destaques: “Up the Bracket” e “Time for Heroes”.









2003 – THE STROKES – ROOM ON FIRE

Apesar da importância história de “Is This It”, esse é o trabalho que colocou os Strokes em todas as pistas rockers do mundo. Lembro o furor que “Reptilia” e “12:51” causavam no pessoal que freqüentava a noite indie de São Paulo. Bem mais pesado e new wave que seu antecessor, não repetiu, porém, o sucesso de vendas do início da década. Tenho sérias dúvidas se não se trata do melhor disco dos anos 00. Destaques: “Reptilia” e “12:51”.










2004 – HOT FUSS – THE KILLERS

O lançamento desta obra-prima foi a espoleta que faltava pra esse blog ser editado, há longos 5 anos. A matadora seqüência de hits da estréia desses americanos foi objeto do nosso primeiro post. Embora tenham decaído nos discos posteriores, o Killers colocou 4 grandes singles nas paradas: “Mr. Brighside”, “Smile Like You Mean It", "All These Things That I've Done” e “Somebody Told Me”, que conseguiu a proeza de tocar freneticamente até em rádios pop aqui do Brasil. Junto com o Franz Ferdinand protagonizaram o ápice do retorno do rock dançante na metade desta década. Destaques: “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”.








2005 – FRANZ FERDINAND – YOU COULD HAVE IT SO MUCH BETTER

Após explodir no cenário alternativo em 2004, os escoceses liderados por Alex Kapranos se tornaram a maior banda indie do mundo em 2005, com direito a abertura da turnê do U2. O que era restrito às baladas modernetes virou modinha em todos os cantos, principalmente devido ao mega hit “Do You Want To”. Sempre discutíamos qual dos dois primeiros discos deles era o melhor e confesso que até hoje nunca cheguei a uma conclusão. Mas em 2005, ninguém conseguiu superar o Franz. Destaques: “Walk Away” e “Do You Want To”.








2006 – AMY WINEHOUSE - BACK TO BLACK

É incrível, mas apenas 3 anos se passaram desde a aparição repentina de Amy. Se hoje é motivo de chacota e sua carreira se restringe a capas de tablóides, em 2006 a moça apareceu como a “salvação do rock” para muitas revistas especializadas. E não era exagero. Voz incrível, pesadas letras autobiográficas, alusões às grandes divas do jazz e do blues e uma produção perfeita de Mark Ronson foram a fórmula do sucesso. Pra se ter uma idéia do tamanho do negócio, em plena era da pirataria o disco vendeu mais de 300 mil cópias no Brasil. Pena ter virado o que virou. Destaques: “Back to Black” e “Tears Dry on Their Own”.








2007 – GROWLING MACHINES - ROUNDERS

Taí um ano bem estranho no meu mundo musical. Meio cansado da mesmice no rock e bastante ajudado pela lacuna absurda de grandes lançamentos (com exceção do Radiohead, barco que já havia abandonado) lancei-me a desbravar a música eletrônica, da mais pop a mais insuportavelmente experimental. Descartei muitas coisas, mas acabei conhecendo um mundo interessantíssimo, que sempre evitei por puro preconceito. E minha descoberta mais fascinante foi esse projeto, que uniu o brasileiro Wreceked Machines aos holandeses do GMS, dois expoentes do psytrance da época. Fui atrás do disco e do show depois de ouvir a sensacional versão de “Enjoy the Silence”, do Depeche Mode. Por problemas de direitos autorais a faixa ficou fora do álbum, que mesmo assim conseguiu se manter, na minha opinião, como o melhor disco brasileiro de música eletrônica. Destaques: “We Will Never Die” e “Enjoy the Silence”.









2008 – MGMT – ORACULAR SPECTACULAR

Ainda absorvendo a influência eletrônica, acabei dando de cara com o MGMT. Devido ao hype demorei a dar a devida atenção à dupla. Quando percebi que amontoavam o que havia de melhor no indie rock e na eletrônica gastei o iPod de tanto ouvir. Não à toa, o disco foi quase unanimidade nas eleições das maiores revistas européias e americanas e foi difícil encontrar algum amigo que torcesse o nariz ao ouvir pela primeira vez, coisa rara nos dias de hoje. Confesso que quase coloquei o Empire of the Sun neste lugar. Creio, porém, que o MGMT é o grande representante desse novo rock do final dos anos 00: fugaz, inorgânico e malandramente marketeiro. Destaques: “Kids” e “Electric Feel”.




26.11.09

Meat Puppets - Bowery Ballroom (NY)

Continuando a saga de nosso correspondente internacional em Nova Iorque, agora no show do Meat Puppets, banda que dispensa apresentações.

Curtam aí!

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Meat Puppets

Bowery Ballroom

NEW YORK, NY

Wednesday, November 25, 2009 8:00pm


Por Alex Laner


De volta ao Bowery Ballroom. Mas desta vez para o show do Meat Puppets, a famosa banda que participou do Acústico MTV do Nirvana.


O Bowery Ballroom tem capacidade para aproximadamente para 450 pessoas e é uma pena que a casa estava com apenas 30% de sua lotação para esta noite. A grande vantagem é que fiquei colado no palco.


Os shows começaram bastante cedo, por volta das 20:15, com o Dynasty Eletric, banda bastante interessante com dois integrantes, um rapaz e uma garota, acompanhados de dois MacBooks e um Moog, usando alguns samplers e fazendo uns barulhos estranhos que o Patu Fu costumava usar. Mandaram até um cover "She's Go It".


A segunda apresentação foi do KD, uma banda em que todo mundo toca de tudo. É incrível: não dá para saber que é o tecladista, baixista, guitarrista ou vocalista. Apenas o baterista não saiu do lugar. É difícil definir o som que fazem, mas pode-se dizer que é uma mistura de folk, indie e rock`n roll. Infelizmente não consegui achar alguma informação da banda na internet.


Chegou o mais esperado da noite: Meat Puppets, banda formada pelos irmãos Curt Kirkwood (guitarra e vocais) e Cris Kirkwood (baixo) e o baterista Shandon Sahm. O show começou com nada mais, nada menos que "Plateau", grande sucesso tocado no Acústico do Nirvana. “Lake of Fire”, outra das preferidas de Kurt Cobain, também foi tocada, pra delírio dos poucos presentes.


Fiquei muito surpreso com peso da banda ao vivo. O som estava muito bom e muito forte e todas as músicas terminavam de uma forma que parecia o fim do mundo. Ainda houve a presença em duas músicas do baterista Ted Marcus, que tocou nos dois últimos discos da banda.


24.11.09

Melt-Banana - Bowery Ballroom (NY)

Fiéis leitores! Conseguimos a incrível façanha de credenciar um intrépido correspondente internacional em alguns deliciosos shows nessa semana em Nova Iorque. O querido Alex Laner (@rootsh) é nosso enviado especial nas apresentações de Melt-Banana, Meat Puppets e Pixies, direto das mais nobres casas nova-iorquinas. Coisa chique, meus amigos.

O primeiro texto enviado agora há pouco foi sobre a barulheira feita ontem a noite pelos japoneses do Melt-Banana, no Bowery Ballroom. Certamente o primeiro e provavelmente o único site brasileiro a falar da turnê deles pela América. Curtam aí um jeito bacana e diferente de contar como foi a apresentação.

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Um perdido em NYC no show do Melt-Banana

Melt Banana 23/11/2009
Bowery Ballroom
6 Delancey St
New York

Por Alex Laner

A ida para o show foi uma aventura. De onde estou, na 106th St (ao lado do Central Park), bastou pegar o metrô B até a Grand Station. Ao descer do vagão senti um cheiro de peixe muito forte, achei bastante estranho e quando sai me vi na China: tudo era escrito em chinês e só chineses descendo e subindo da estação.

Era só seguir o que o Google Maps me disse, mas, perdido que sou, acabei andando umas dez quadras (quando na verdade teria que andar apenas uma). Sem querer, achei uma loja de guitarras maravilhosa no caminho, mas que adianta comprar se não sei tocar nada?

Cheguei enfim ao Bowery Ballroom e olhando de fora achei o lugar pequeno. Para entrar bastou apresentar meu passaporte, pois já havia comprado o ingresso antecipadamente pela Ticketmaster. Resolvi tomar alguma coisa e descobri algo desagradável: a cerveja é caríssima nessa cidade. Cada uma custava US$ 7,00 e o ingresso do show era apenas US$ 15,00.

Ao abrirem as portas, logo na entrada havia um cara de máscara vendendo camisetas, bottons, cds e demais apetrechos do Melt-Banana. Acabei comprando uma camiseta e um botton; como não tinha meu tamanho, alguém vai ganhar um presente...

Soube já lá dentro que haveria uma banda de abertura, que não havia sido divulgada. Entraram no palco em total silêncio, pegaram os instrumentos e continuaram mudos. O vocalista colocou a boca no microfone, mas continuou sem dizer nada, apenas fez uma “capelinha” e então começou uma barulheira infernal. A banda bem que poderia ser instrumental, já que era apenas o vocalista berrando e uma pauleira de instrumentos ao fundo, lembrando um final de show do Sonic Youth.

Ao final do primeiro show os equipamentos do Melt-Banana começam a aparecer. Cadê os roadies? Imaginava que uma banda japonesa fazendo show em outro país traria seus roadies. Que nada! Eles mesmos montavam o palco.

Logo que começaram a tocar, um barulho ensurdecedor feito pelas guitarras de Agata. tomou o lugar. Bom demais! E a galera em peso começou a se trombar, se bater e a pular sem parar com o pesadíssimo som feito pelos quatro japoneses. Ganhei até um pisão no pé de presente. Durante as trocas de músicas a vocalista, Yasuko, parecia imitar um gato. Era o que dava a entender, com aquela voz estridente e a barulheira toda do lugar.

Ainda consegui gravar os 4 primeiros minutos do show, mas um segurança chegou dizendo coisas que eu não entendia. Respondi que não falava inglês e ele só gritava: “no vídeo, no vídeo!”. Pelo menos tirei algumas fotos (sem flash) que em breve mando pra vocês.

Se quiser conhecer um pouco mais do som deles é só dar uma passada no Myspace ou curtir esse vídeo aqui embaixo:



melt-banana bowery ballroom review

23.11.09

Diquita - Quarto Negro

Banda com um pezinho internacional e com resquícios dos grupos Bonnie Situation e Ludovic, o Quarto Negro é nossa diquita nacional da semana.

20.11.09

Consciência

Pessoalmente, tenho minhas dúvidas sobre o feriado de hoje. Duvido que tenha lá o impacto esperado e tudo mais. De qualquer modo, uso-o como desculpa para colocar, aqui, cinco sugestões de grandes canções de excepcionais artistas negros. E, neste sentido, aproveito para ser racista: em termos de música popular, os negros são inigualáveis.

Muddy Waters:


TV on the Radio:


Miles Davis & John Coltrane:


Cartola:


Chuck Berry:

12.11.09

O novo-velho grunge

Jogada de marketing ou processo natural, fato é que o grunge volta forte à cena da música. E jogamos aqui alguns comentários sobre os recentes lançamentos de Pearl Jam e Alice in Chains, dois dos maiores expoentes daquela bagunça acontecida há cerca de 20 anos atrás. Ô, Chris Cornell! Larga o Timbaland e volta pro Soundgarden, vai.


PEARL JAM – BACKSPACER

A eleição de Obama foi o maior acontecimento em prol do Pearl Jam desde o início da banda. Apesar de alguns leves resquícios, finalmente o gênio Eddie Vedder deixa de lado o proselitismo bobo e enfadonho dos últimos discos e volta a fazer o que sabe, deixando em casa a carteirinha do Bono Vox Club. Um esporro de apenas 36 minutos que resgata o binômio fúria/leveza que consagrou o movimento de Seattle. Desde “Yield” não vejo uma seqüência de abertura tão poderosa, com “Gonna See My Friend”, “Got Some” e “The Fixer”, esta com seu refrão grudento feito para arenas. Outros grandes destaques são as baladas “Just Breathe” e a forte “The End”. Essa mudança de ares certamente está relacionada à volta da parceria com o produtor Brendan O'Brien – que trabalhou em “Vs”, “Vitalogy”, “No Code” e “Yield”, a fase de ouro da banda. Outro ponto a ser observado é o fato de Vedder ter reassumido às rédeas das composições, fazendo a quase totalidade das músicas e tornando o álbum mais coeso que seus dois anteriores. Não repetirá o sucesso de outrora, mas felizmente recoloca a banda em seu rumo. Até as próximas eleições ao menos.


ALICE IN CHAINS – BLACK GIVES WAY TO BLUE

Bem ou mal, é inegável que se trata de um disco que faz reviver aquele Alice in Chains mais pesadão e sujo, principalmente do disco homônimo de 1995. Porém, também é nítido que, sem a alma rasgada do falecido Layne Staley, a banda se resume a um bom grupo de metal. É como um grande restaurante que perde seu renomado chef. As paredes são as mesmas, as panelas são as mesmas, os funcionários são os mesmos, o fogão é o mesmo, até o dono é o mesmo... e o cara novo contratado chega a dar conta das receitas. Mas... falta aquele tempero essencial, o diferencial que faz o cliente ir atrás do negócio. Os maiores destaques são as porradas “Check My Brain” e “A Look in View”, composições no formato clássico de Cantrell. A bela balada de encerramento, “Black Gives Way to Blue”, é uma homenagem em forma de esperança, que jamais seria cantada por Staley. Fica a sensação que o novo vocalista, William DuVall, é um músico contratado totalmente dispensável e que Jerry Cantrell conseguiria levar o barco sozinho. Esperava mais do disco, principalmente em razão dos dois singles vazados antes do lançamento oficial.

8.11.09

Força bruta

O festival Planeta Terra possibilitou a exposição de duas formas opostas de performance musical: de um lado, Iggy Pop & the Stooges e, do outro, o Sonic Youth. Os dois grupos possuem, a seu favor, um inegável histórico de contribuições para o rock, carregando nas costas vários álbuns influentes.
O Sonic Youth, que tocou após uma enérgica apresentação do Primal Scream, optou por divulgar seu último álbum. De hits apenas a espetacular Hey Joni, de Daydream Nation, e Death Valley 69, do início da carreira da banda, gravada com a participação da "musa" No-Wave Lydia Lunch. O resto do show foi focado no som experimental da banda que, apesar de interessante, não combina com um festival do porte do Planeta Terra. O resultado visível: quem não era fã da banda ficou entediado.
Iggy Pop & the Stooges seguiu o caminho oposto: ciente que estava lá para animar milhares de pessoas, o grupo optou por escolhas certeiras de repertório: do início com Raw Power, até o final com Lust for Life, passando por Fun House, Gimme Danger, 1970 e The Passenger, o setlist foi irrepreensível. Mas não é só isso: Iggy Pop, como era de se esperar, deu um show a parte: dançou, correu, chamou o publico para o palco, se enfiou no meio da platéia e tocou boa parte do tempo com a bunda de fora. Mesmo quem não era fã de carteirinha da banda se impressinou com a atuação do frontman.
E esta aí a diferença: Sonic Youth pareceu ignorar as característica do Planeta Terra, do público, de sua história e a mediocridade do último álbum. Já Iggy Pop sabia para que estava lá para divertir o público, seja ele composto ou não de fãs fanáticos.

* * *

Além de Iggy Pop e Sonic Youth, assisti aos seguintes shows:
Primal Scream: a banda teve sérios problemas como som no começo, que estava baixo e abafado. Mas assim que o problema foi resolvido a coisa engatou e canções como Movin' On Up, Accelerator, Rocks e Swastika Eyes garantiram a diversão. Detalhe, ainda, para o Bobby Gillespie andando calmamente pelo público não-VIP durante o show do Iggy Pop.
Maxïmo Park: chato. Ponto final.
Copacabana Club: um Cansei de Ser Sexy capitaneado por uma cantora que, definitivamente, não cansa de ser sexy. Tirando a vocalista, é apenas um sub-CSS.
Ting Tings: quem trocou o Iggy Pop pelas Ting Tings garantiu seu lugar no inferno do rock.

7.11.09

Pior da Semana

Nesta semana uma sequência de vídeos foram jogados na web para promoção do novo disco daquela que um dia já foi minha banda preferida, o Weezer. A crítica ao "Raditude" eu deixo para outro dia. Ou para nunca. Ficaremos apenas com as imagens abaixo. Entre uma festa bizarra no programa do Letterman e um cover do Coldplay, a turminha nerd de Rivers Cuomo conseguiu polemizar com a aparição de Kenny G - o rei dos consultórios dentários - em uma de suas apresentações na TV.

Sempre achei que o Pitchfork andava pegando pesado demais com eles nos últimos discos. Tenho que admitir: estavam certos. Aliás, assim como ocorreu com "Make Believe", Rob Mitchum detonou a banda em sua resenha para o novo álbum. Ele que também se revela um grande fã decepcionado.

Além dos vídeos boçais, justifico minha revolta por conta da participação do rapper Lil Wayne na patética faixa "Can´t Stop Partying" e da colaboração do produtor Dr. Luke, o fazedor de músicas de Britney, Miley Cyrus, Pink, Backstreet Boys etc...

Como diria minha avó: "Brincadeira tem limite".







weezer kenny g raditude

29.10.09

500 citações

O queridinho indie na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é, sem dúvidas, 500 Dias com Ela (500 days of summer, de Marc Webb). É uma comédia romântica do tipo boy-meets-girl estrelada por Joseph Gordon-Levitt (10 coisas que odeio em você) e a bela Zooey Deschanel (que, além de atriz, toca no due She and Him). O filme não teria nada de diferente não fossem as referências: o menino, Tom Hansen, gosta de Smiths, Belle and Sebastian, Edward Hopper, swinging london e cinema francês. A menina, Summer Fin, também. E isso é uma desculpa para que o filme todo seja povoado dessas referências.

O problema é que as citações lançadas a cada 15 segundos sobre o expectador não passam de uma cortina de fumaça: o roteiro do filme é ruim, os diálogos são ruins, os personagens são ruins. Outras comédias românticas como Ligeiramente Grávidos, Simplesmente Amor ou mesmo a série O Diário de Bridget Jones são bem melhores cinematograficamente.
Contudo, na estréia, o público alternativo parece não ter notado que o filme é ruim: a cada citação reconhecida (por mais óbvias que sejam, como um Here Comes Your Man, dos Pixies, ou um poster do Psychocandy), o público vibra: "olha, olha! Jesus!"
Me lembrei então de um dos primeiros filmes indie que bateram no mainstream: Alta Fidelidade, baseado na obra de Nick Hornby. Estavam lá todas as citações óbvias: Belle and Sebastian, Nirvana, The Jesus and Mary Chain. Mas o filme (e o livro) fugia do clichê, com citações de bandas obscuras, clássicos soul e funk. E, mais do que isso: o filme é bom! Alguém que goste de bom cinema pode assistir ao filme e se divertir mesmo sem compreender qualquer das citações. Não é o caso de 500 Dias com Ela.
Talvez isso mostre o que é ser indie hoje em dia: é ter um repertório que, mesmo composto de obviedades colhidas pela internet, dê uma ilusão de superioridade. É saber citar, é saber compreender as citações. Já a esperteza, aquela pontinha de arrogância e, acima de tudo, o humor, são coisas do passado.

21.10.09

Jornada ao passado

Parece que a molecada só conhece bandas surgidas a partir da década de 80. O pós punk de Joy Division, Gang of Four e Sonic Youth é o marco zero. Pioneiros são totalmente ignorados.
Neste sentido, soa genial a atitude de alguns artistas de regravar albuns clássicos inteiros.
Os Flaming Lips prometem gravar o Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, todinho. Como devem ter lido na Wikipedia, o Pink Floyd é aquela banda careta dos anos 70, odiada pelos punks. Mas não dá pra ignorar: alguns experimentos do Pink Floyd foram muito influentes. Radiohead que o diga! Enquanto a tal gravação completa não sai, dá pra ouvir uma prévia: o grupo tocou Eclipse, a última faixa do disco, no Morning Becomes Ecletic, da KCRW.
O Beck também está dando sua contribuição através do Record Club. O projeto, que reúne figurões como Nigel Godrich, Devendra Banhart e Binki Shapiro, já regravou o seminal The Velvet Underground and Nico e agora está fazendo o mesmo com The Songs of Leonard Cohen, álbum que deixa as letras (e o nível de depressão) de um Ian Curtis no chão...

9.10.09

Melhor da semana

Para alegrar seu feriadão, um apanhado das melhores dicas que demos nessa semana via Twitter.

MIAMI HORROR - SOMETIMES

Belo vídeo dessa banda australiana conduzida por Benjamin Vanguarde, sujeito que já produziu remixes para os conterrâneos do PNAU e para o Bloc Party. "Sometimes" é o single de trabalho do primeiro disco deles, que ainda será lançado no começo de 2010. Potencial para ser hit indie desse final de 2009.










GIRLS - TRUE LOVE WILL FIND YOU IN THE END


Talvez a banda mais comentada no momento no cenário alternativo, os californianos do Girls mandaram muito bem nessa bonita versão para Daniel Johnston (sim, aquele).











FRANK JORGE - É HORA DE FINGIR (MGMT COVER)

O mito gaúcho manda um cover
em português para "Time to Pretend", do MGMT, em show no Itaú Cultural. Alguns não entenderam a brincadeira, mas enfim... "quero dar um rolê-ê".










BLACK DRAWING CHALKS - MY FAVORITE WAY (AO VIVO)

O hit do momento no underground nacional, entoado pela platéia diretamente do Inferno (SP). Coisa finíssima! Try to hit that little space!




8.10.09

Saudosismo aos 26...

Não faz tanto tempo assim, eu era moleque. Um a mais por aí, como você. Daqueles que reservava uma parte do dia para deitar na cama, colocar o CD no aparelho de som, pegar o encarte e ficar ouvindo e lendo as letras. Sem estar na frente da tela do computador e sem ter quatrocentas e vinte e sete bandas no playlist. Era só aquela. E só aquele CD.

E isso era coisa que se repetia todo santo dia. E com o mesmo CD. Até que aparecesse um aniversário ou um dia especial qualquer e ganhasse mais um punhado de outros. E aquela deliciosa sina continuava.

Sabíamos todas as letras e as versões alternativas delas. Os solos eram decorados e mapeávamos cada barulho estranho que apareciam ao fundo. As do Nirvana eram prato cheio pra isso. Sempre tinha um riff pra aprender a tocar. Havia músicas secretas, aquelas que só quem dormia ouvindo o disco descobria, assustado, depois de pegar no sono. Gravávamos clipes em fitas de vídeo, normalmente de madrugada ou domingo de manhã. Tenho dezessete delas. Ca-ta-lo-ga-das, entendeu?

Idolatrávamos bandas e movimentos com o fanatismo de torcedores de futebol. Quem gostava de Seattle não podia ouvir Guns N’ Roses nem metal-farofa. Não podia, mas ouvia escondido em casa. Os alternativos nem citavam o nome de bandas de grandes corporações. Tiveram que aprender a balbuciá-los depois do “grunge”. Mas ainda assim levantavam grandes discussões sobre a liberdade artística e influência da gravadora na produção dos discos. As ditas independentes de um lado, as “vendidas” de outro.

Os jornalistas fomentavam e informavam essas discussões. Mandávamos cartas ensandecidas pra jornais e revistas. Forastieri, Álvaro e afins... amados no domingo e odiados na segunda. Os textos eram grandes e bem escritos. Muito mais do que este.

Olho pro meu iPod com 80 giga de músicas. O notebook lotado de MP3. O Youtube com todos os clipes que demorei anos pra gravar e milhares de outros que nunca vi. And I just can´t seem to get enough...

Blogs, jornais e revistas falando de cento e quarenta e duas novas salvações do rock por dia, cada um com seu estilo; cada estilo com um nome composto por no mínimo três outros estilos. Não há mais solos fraseados nem riffs matadores. Raro de se ver alguém tocando no violão alguma dessas novas bandas. Salvo pouquíssimas exceções, todas as canções parecem ter vindo do mesmo software, que é responsável pela linha de montagem “Peter Hook/Timbaland”.

E o mais incrível é que não estou comparando meu pai comigo. Falo sobre a mesma geração, a minha geração.

6.10.09

Mecenato

"Não existe almoço grátis", já (dizem que) dizia Milton Friedman. Portanto, esperar que o mercado musical seja grátis nessa era do MP3 e internet e absolutamente utópico se esperarmos um mínimo de profissionalismo dos artistas. Há, claro, diversos artistas que não vivem apenas de música. Mas sabemos que bandas como Beatles, Nirvana e Radiohead não atingiram o ápice com seus líderes dividindo o tempo entre as guitarras e uma chapa de hamburguer. E isso não é novo: desde a antiguidade clássica, as grandes revoluções artísticas aconteceram quando os artistas conseguiam viver de seus próprios ofícios.
Na era da internet, contudo, a fonte mais óbvia de financiamento de artistas, está em xeque: as gravadoras (pequenas ou grandes) lucram cada vez menos e, consequentemente, investem cada vez menos nos artistas. E estes acabam tendo duas opções: ou ficam reclamando dos tempos modernos, como fez a Lily Allen, ou buscam meios alternativos.
E, seguindo a última opção, temos o Public Enemy, um dos grande pioneiros do hip-hop. Através do projeto SellaBand, o grupo abriu a possibilidade para que fãs (ou investidores) doem cotas de, no mínimo, US$ 25,00 para o grupo custear o próximo álbum. Como contrapartida, os doadores terão acesso ao disco, download, extras e parte do lucro das vendas. Ou seja: o grupo passa por cima das gravadoras e vai direto ao público para conseguir financiar o trabalho.
Acho, todavia, duvidoso que esse formato tenha futuro. Muita gente pode se contentar em esperar a gravação do disco e depois baixá-lo. A idéia de lucrar com bandas hoje em dia também não parece lá muito promissora. E talvez apenas bandas com nome sólido - e esse é o caso do Public Enemy - é que podem conseguir levantar fundos suficientes.
De qualquer forma, não deixa de ser mais um sintoma do constante decréscimo do poder das gravadoras.