23.12.09

Melhores da década - parte 2: subestimados

Segue agora uma lista mais compromissada com minhas preferências pessoais do que com a influência, o impacto, a vendagem ou qualquer outro critério, os quais foram levados em conta na lista anterior.

Black Box Recorder - Facts of Life (2000): no começo dos anos 2000 o britpop já estava morto. As grandes obras do gênero foram todas feitas nos anos 90 e muitas bandas que fizeram sucesso no estilo estavam extintas. Neste sentido, Facts of Life é uma espécie de "álbum de ressaca" do britpop. A temática é a mesma abordada por Blur, Pulp e companhia: o vazio da vida burguesa inglesa. Mas a grandiloquência, as cores e o clima de festa são substituídos por harmonias com clima de trip-hop e letras amargas, cantadas pela bela Sarah Nixey.



Oh, Inverted World - The Shins (2001): primeiro disco do grupo americano que faz um som que transita entre o power pop e o alt-country, este Oh, Inverted World consegue ser melancólico ("New Slang"), animado ("Caring is Creepy"), retrô ("Girl Inform Me") sem perder a unidade. Um disco daquilo que um dia foi chamado de indie rock, estilo que acabou se perdendo graças a modismos e autorreferência.





Modern Age EP - The Strokes (2001): não foi o Is This It que lançou os Strokes: foi este EP que iniciou todo o hype ao redor da banda que tinha a missão ingrata de ressucitar o rock. As versões de Modern Age, Last Nite e Barely Legal são deste álbum são mais cruas, e mostravam que a banda podia mesmo ter salvo o rock...




Black Sheep Boy - Okkervil River (2005): Will Sheff, líder dessa banda norte-americana, inspirou-se na história do compositor Tim Hardin para criar um álbum com ares country, mas permeado de instrumentos diferentes, como acordeões e trompetes, e guitarras saturadas na medida certa. Destaque para as letras do álbum, como os seguintes versos da canção "For Real": "Some nights I thirst for real blood, for real knives, for real cries. And then the flash of steel from real guns in real life really fills my mind."



The Secret Migration - Mercury Rev (2005): produto de uma banda madura, empenhada simplesmente em fazer boas canções. Ótimas melodias, harmonias que vão da psicodelia de bandas como Love até o folk-country de Neil Young, além de uma infinidade de imagens e metáforas geniais infestando as boas letras do grupo.



The Great Unwanted - Lucky Soul (2006): sem qualquer intenção de inovar, o Lucky Soul foi direto aos anos sessenta das Ronettes para buscar inspiração para um dos discos mais pops da década, capaz de curar qualquer depressão.



The Night Falls Over Kortedala - Jens Lekman (2007): segundo LP deste sueco que, a partir de samples, constrói adoráveis canções retrô na melhor linha Belle & Sebastian.

21.12.09

Melhores da década - parte 1: unanimidades

Dividi minha lista das melhores da década em três. Nesta aqui vou postar as unanimidades dos anos 2000: bandas e artistas que, por motivos óbvios, estão em quase todas as listas especializadas publicadas neste ano. Tentei ser abrangente.
Depois vou publicar uma listinha com os subestimados da década. Por fim, outra listinha com singles.



Radiohead - Kid A (2000): a história é conhecida: todos esperavam um novo Ok Computer, mas a banda retornou com um disco esquisito, sem guitarras e carregado de batidas eletrônica quebradas que soa muito melhor hoje em dia. Com letras urbanas e totalmente paranóicas, a banda antecipou muito do que seria o pop na década vindoura, ajudando a catapultar o Radiohead para o panteão das bandas politicamente corretas que "têm algo a dizer".




Flaming Lips - Yoshimi Battles the Pink Robots (2002): que tal falar sobre morte e solidão através da história de uma menina que treina karatê para combater robôs rosa? Com essa idéia os malucos do Flaming Lips compuseram um dos mais belos discos da história. Ou há alguma canção mais bonita do que Do You Realize?



Wilco - Yankee Hotel Foxtrot (2002): o disco foi da rejeição pela gravadora a um Grammy após ter sido vazado na internet, o que ajudou a mostrar a força do MP3 e de sites especializados. O disco mistura estilos tradicionais como country e folk com experimentalismo dos bons, consolidando o Wilco como uma das mais criativas bandas americanas.



Arcade Fire - Funeral (2004): molecada canadense com um show insano e um estilo extremamente original que conseguem fazer com que músicas sombrias soem empolgantes. Nada produzido na década soa como essa banda.



Beirut - Gulag Orkestar (2006): projeto do moleque Zach Condon que trouxe elementos música do leste europeu para o pop. Outro disco original, que não soa como nada feito nesta década, apesar das várias referências musicais do disco. Mostrou que nem só de anos 80 vive a música pop.



Radiohead - In Rainbows (2007): fora da EMI a banda conseguiu surpreender (e vender) na era do MP3 ao lançar um disco sem preço. Além disso, a qualidade musical ajudou no hype: sem abandonar os experimentalismos, nem retornar para a fase Ok Computer, o Radiohead lançou seu álbum mais acessível na década.



TV on the Radio - Dear Science (2008): a música negra por excelência na década foi o R'n'B. Aliás, há um bom tempo que os negros abandonaram o rock'n'roll. Assim, é muito interessante ouvir uma banda como o TV on the Radio, formada majoritariamente por negros nova-iorquinos, que vai contra o consenso e investe no rock. A influência de toda a música negra criada desde os acordes revolucionários de Johnny Be Goode está presente de forma marcante no disco: ritmos quebrados, alto alcance vocal, metais providenciados pelo saxofonista do grupo Antibalas Afrobeat Orchestra etc. Mas, apesar de todos esses elementos, as canções ainda têm uma estrutura pop.



The XX - XX (2009): a primeira década dos anos 2000 revisitou os anos 80 à exaustão. Os XX não fizeram diferente, mas conseguiram fugir dos excessos daquela década. No primeiro disco da banda, claramente influenciado por The Cure, Joy Division, Bauhaus e outros grupos vestidos de preto, a banda optou por silêncios, riffsde guitarras curtos e duetos lascivos entre os vocalistas. Podia ter saído em 1983, mas foi lançado 26 anos depois. Por isso, é original.

7.12.09

Melhores da década (parte 1) - gaiotto

A partir deste post elegeremos de maneira obviamente idiossincrática os melhores discos da década. Ou os que mais nos chamaram a atenção, ano a ano. Terei os meus critérios e o Chiaretti os dele e, é claro, desagradaremos muita gente. Procurei não repetir bandas, apesar de algumas como Franz Ferdinand e Queens of the Stone Age merecerem muito. Também busquei pescar na memória aquilo que mais ouvia na época, independentemente de minhas preferências atuais (que não mudaram quase nada). Enfim, pra quem gosta de listinhas, divirta-se!





2000 – QUEENS OF THE STONE AGE – RATED R

Responsável por trazer o stoner rock ao mainstream, o segundo disco da banda do inquieto Josh Homme causou extremo impacto no começo da década e influenciou um imenso número de bandas internacionais e brasileiras. Guitarras rasgadas e muito altas, vocais ora berrados ora melódicos-pop e letras nada conservadoras, unidos a uma produção impecável. Divertido lembrar do choque no Brasil com a apresentação “à vontade” no Rock in Rio. Destaques: “Feel Good Hit of the Summer” e “The Lost Art oh Keeping a Secret”.







2001 – LOS HERMANOS – BLOCO DO EU SOZINHO

O disco que mudou a música brasileira no início do século XXI: trouxe o samba ao indie e enfiou o rock de volta à MPB. As reações foram fortes e variadas no lançamento, principalmente por se tratar de uma banda que dominava o pop adolescente da época. Fato é que ninguém esperava uma obra repleta de letras cuidadosamente construídas, misturadas a harmonias estranhas e acordes que não se tocavam por aqui há anos. Apesar de ter horror ao termo, pode-se dizer que se trata do típico disco de vanguarda. Destaques: “Retrato pra Iaiá” e “A Flor”.









2002 – LIBERTINES – UP THE BRACKET

Guiados pelo inesperado sucesso do single “What a Waster” (que não fazia parte do CD originalmente), soltaram um dos discos de estréia mais incendiários desta primeira década dos anos 00. Produção cuidadosamente desleixada, forte influência do punk inglês e um guitarrista problemático levaram a banda a todas as capas de revistas britânicas. Não consigo imaginar quantas vezes ouvi esse disco nas minhas viagens de ônibus, ainda no discman. Armação ou não, é uma banda que deixa saudade. Destaques: “Up the Bracket” e “Time for Heroes”.









2003 – THE STROKES – ROOM ON FIRE

Apesar da importância história de “Is This It”, esse é o trabalho que colocou os Strokes em todas as pistas rockers do mundo. Lembro o furor que “Reptilia” e “12:51” causavam no pessoal que freqüentava a noite indie de São Paulo. Bem mais pesado e new wave que seu antecessor, não repetiu, porém, o sucesso de vendas do início da década. Tenho sérias dúvidas se não se trata do melhor disco dos anos 00. Destaques: “Reptilia” e “12:51”.










2004 – HOT FUSS – THE KILLERS

O lançamento desta obra-prima foi a espoleta que faltava pra esse blog ser editado, há longos 5 anos. A matadora seqüência de hits da estréia desses americanos foi objeto do nosso primeiro post. Embora tenham decaído nos discos posteriores, o Killers colocou 4 grandes singles nas paradas: “Mr. Brighside”, “Smile Like You Mean It", "All These Things That I've Done” e “Somebody Told Me”, que conseguiu a proeza de tocar freneticamente até em rádios pop aqui do Brasil. Junto com o Franz Ferdinand protagonizaram o ápice do retorno do rock dançante na metade desta década. Destaques: “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”.








2005 – FRANZ FERDINAND – YOU COULD HAVE IT SO MUCH BETTER

Após explodir no cenário alternativo em 2004, os escoceses liderados por Alex Kapranos se tornaram a maior banda indie do mundo em 2005, com direito a abertura da turnê do U2. O que era restrito às baladas modernetes virou modinha em todos os cantos, principalmente devido ao mega hit “Do You Want To”. Sempre discutíamos qual dos dois primeiros discos deles era o melhor e confesso que até hoje nunca cheguei a uma conclusão. Mas em 2005, ninguém conseguiu superar o Franz. Destaques: “Walk Away” e “Do You Want To”.








2006 – AMY WINEHOUSE - BACK TO BLACK

É incrível, mas apenas 3 anos se passaram desde a aparição repentina de Amy. Se hoje é motivo de chacota e sua carreira se restringe a capas de tablóides, em 2006 a moça apareceu como a “salvação do rock” para muitas revistas especializadas. E não era exagero. Voz incrível, pesadas letras autobiográficas, alusões às grandes divas do jazz e do blues e uma produção perfeita de Mark Ronson foram a fórmula do sucesso. Pra se ter uma idéia do tamanho do negócio, em plena era da pirataria o disco vendeu mais de 300 mil cópias no Brasil. Pena ter virado o que virou. Destaques: “Back to Black” e “Tears Dry on Their Own”.








2007 – GROWLING MACHINES - ROUNDERS

Taí um ano bem estranho no meu mundo musical. Meio cansado da mesmice no rock e bastante ajudado pela lacuna absurda de grandes lançamentos (com exceção do Radiohead, barco que já havia abandonado) lancei-me a desbravar a música eletrônica, da mais pop a mais insuportavelmente experimental. Descartei muitas coisas, mas acabei conhecendo um mundo interessantíssimo, que sempre evitei por puro preconceito. E minha descoberta mais fascinante foi esse projeto, que uniu o brasileiro Wreceked Machines aos holandeses do GMS, dois expoentes do psytrance da época. Fui atrás do disco e do show depois de ouvir a sensacional versão de “Enjoy the Silence”, do Depeche Mode. Por problemas de direitos autorais a faixa ficou fora do álbum, que mesmo assim conseguiu se manter, na minha opinião, como o melhor disco brasileiro de música eletrônica. Destaques: “We Will Never Die” e “Enjoy the Silence”.









2008 – MGMT – ORACULAR SPECTACULAR

Ainda absorvendo a influência eletrônica, acabei dando de cara com o MGMT. Devido ao hype demorei a dar a devida atenção à dupla. Quando percebi que amontoavam o que havia de melhor no indie rock e na eletrônica gastei o iPod de tanto ouvir. Não à toa, o disco foi quase unanimidade nas eleições das maiores revistas européias e americanas e foi difícil encontrar algum amigo que torcesse o nariz ao ouvir pela primeira vez, coisa rara nos dias de hoje. Confesso que quase coloquei o Empire of the Sun neste lugar. Creio, porém, que o MGMT é o grande representante desse novo rock do final dos anos 00: fugaz, inorgânico e malandramente marketeiro. Destaques: “Kids” e “Electric Feel”.